O último filme de Pasolini, Saló ou 120 Dias de Sodoma, é a história de jovens que são aprisionados por nazistas e passam por todo tipo de tortura e humilhação. São forçados inclusive a comer excrementos. Pasolini chegou a afirmar que o filme é uma metáfora da sociedade de consumo, em que as pessoas são obrigadas a consumir produtos massificados de péssima qualidade – excrementos, em suma. Nada mais real – profético, na verdade. Basta olhar o cenário cultural contemporâneo. A Netflix, por exemplo, tem produzido simulacros de filmes: pega um filme que fez sucesso e o copia, ou transforma numa série. Claro, a copia não terá a qualidade artística do original, e terá passado pelo filtro do politicamente correto – não raro inserindo elementos de propaganda política identitária, ambientalista, etc. O problema não é ter outros filmes como referência explícita. Quentin Tarantino faz isso muito bem: ele tem grandes filmes que fazem referência a outros filmes, emulam cenas inteiras, diálogos, e por aí vai. A própria Netflix tem uma boa série que imita vários filmes de terrror e suspense da década de 1980: Stranger Things – se bem que só a primeira temporada é realmente boa. Nos cinemas o cenário não é melhor: são remakes, personagens que viraram caricaturas de si mesmos reproduzindo filmes do passado, e filmes de super heróis que dominam as salas – filmes monocromáticos, estranhamente escuros, com abuso de efeitos especiais de má qualidade (talvez por isso sejam escuros e monocromáticos). Martin Scorsese está certo quando diz que esses filmes não são cinema. Não é purismo: simplesmente não é cinema, está mais para um video-game não-interativo. E ainda tem as caricaturas radicalmente alteradas: o exemplo mais recente é a Branca de Neve e os Sete Anões sem os anões, sendo a personagem principal uma mulata. Boa parte das trilhas sonoras que se ouve hoje nos filmes são feitas a partir de presets – o “compositor” seleciona um modelo de composição e o programa compõe para ele. Por isso as trilhas sonoras dos filmes contemporâneos se parecem tanto. Num mundo de padronização, a forma de chamar atenção acaba sendo por critérios extra-artísticos, em geral polêmicas, não raro relacionado à…
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