Domingo, 24 de
Novembro de 2024
Direito & Justiça

Interdição

Cremego interdita ginecologista suspeito de crimes sexuais

Nicodemos Júnior, de 41 anos, é investigado por importunação, violação sexual mediante fraude e estupro. Com interdição, ele fica temporariamente proibido de exercer a medicina no país

Foto: Reprodução/TV Anhanguera
post
Ginecologista investigado por crimes sexuais nega abusos e alega ‘brincadeira’ com pacientes, em Anápolis (GO)

07 outubro, 2021

Goiânia (GO) -  O Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) interditou o ginecologista Nicodemos Júnior Estanislau Morais, de 41 anos, investigado por crimes sexuais. Com isso, ele fica temporariamente proibido de exercer a medicina no Brasil. Morador de Anápolis, a 55 km de Goiânia, o médico é investigado por importunação sexual, violação sexual mediante fraude e estupro de vulnerável. O G1 entrou em contato com o advogado do médico, por mensagem e ligação às 20h25, para saber um posicionamento após a suspensão do registro, e aguarda retorno.

Veja o que se sabe sobre a investigação

A decisão ocorreu na terça-feira (5/10) após uma reunião do conselho e foi comunicada a Nicodemos na noite de quarta-feira (6/10). Com a interdição, Nicodemos fica impedido de atuar como médico até a conclusão do processo ético-profissional. Segundo o Cremego, a interdição é válida por seis meses e pode ser prorrogada. De acordo com o Cremego, a interdição cautelar é um procedimento adotado pelos Conselhos Regionais de Medicina para "restringir o exercício da profissão por médicos cuja ação ou omissão esteja prejudicando gravemente a população, ou na iminência de fazê-lo". Em nota, o conselho informou ainda que tomou conhecimento do caso após a prisão do profissional e que logo iniciou os procedimentos para a apuração da conduta do ginecologista e obstetra no exercício profissional. Além disso, o Cremego disse que a apuração tramita em sigilo.

 

Médico é solto após decisão da Justiça

Nicodemos Júnior foi preso no dia 29 de setembro após a denúncia de três vítimas. No dia 4 de outubro, o médico ganhou liberdade provisória. Ele está usando tornozeleira eletrônica, não pode entrar em contato com as vítimas nem fazer consultas. O Ministério Público de Goiás recorreu da decisão de soltura do médico. No documento, a promotora de Justiça Camila Fernandes Mendonça apontou que, se for mantida a prisão preventiva do médico, isso poderá possibilitar novas denúncias. O G1 entrou em contato com o Ministério Público e com o Tribunal de Justiça na noite de quarta-feira (6/10), mas não conseguiu saber se o pedido foi analisado. No recurso apresentado pelo MP, o principal motivo argumento usado pelo juiz para soltar o médico é que numa eventual condenação, ele cumpriria pena em regima aberto ou semiaberto. Mas para a promotora, os crimes pelos quais é investigado são suficientes para mantê-lo preso em regime fechado. "O Ministério Público entende que a decisão que concedeu liberdade provisória ao recorrido, com aplicação de medidas cautelares, está equivocada porque ignorou os relatos de mais de 50 vítimas, bem como porque continuam presentes os motivos que ensejaram a decretação da prisão preventiva", disse a promotora.

Relatos de pacientes

As pacientes relatam diversos tipos de comportamentos e comentários com conotações sexuais por parte do ginecologista. Uma das vítimas disse que, durante uma consulta no ano passado, o médico elogiou seus olhos e também o órgão sexual. Em seguida, perguntou sobre sua relação sexual com o marido. “Eu fiquei congelada e ele fazendo manipulações, isso tudo com os dois dedos introduzidos na minha vagina. Eu não consegui nem respirar no momento. É uma situação que a gente nunca espera que vai acontecer”, contou. Outra paciente relata que foi abusada pelo ginecologista durante o atendimento. Ela decidiu falar sobre o caso após a prisão do suspeito. “Ele teve conversas inadequadas, me mostrou sites obscenos, brinquedos eróticos e tocou em mim não da forma que um ginecologista deveria tocar. Quando ele colocou minha mão na parte íntima dele, sabe?”, disse a paciente, que não quis se identificar. Entre as denúncias, também está a da aromaterapeuta Kethlen Carneiro, de 20 anos, que procurou a Polícia Civil para relatar que foi abusada por ele quando ainda tinha 12 anos. Durante o atendimento, segunda ela, o médico sugeriu a leitura de material pornográfico. “Ele veio me falar que eu podia começar a me masturbar. Me mostrou histórias em quadrinho pornô e vídeos. Me mandando os links e quais eu podia assistir. Depois levantou, pegou minha mão e colocou nele, na parte íntima dele", disse. Em conversa por uma rede social, outra paciente pede informações ao ginecologista sobre o uso do anel vaginal, um método contraceptivo. Em um momento, ela pergunta se ele não atrapalha a relação sexual e se o parceiro não o sentiria. O médico, então, responde:

'Bincadeira'

Pacientes revelaram à polícia conversas que tiveram com o médico em redes sociais e no consultório onde atendia. Segundo elas, muitas tinham cunho sexual, como "transar fortalece amizade" ou "faz o bronzeamento e me mostra". Nicodemos Júnior nega que as assediou. Ele disse que comentários em aplicativos de mensagens eram “brincadeira” e admitiu que isso foi um erro. "É muito complexo. Eu brinco com algumas coisas. Às vezes, nisso, eu pequei, realmente. (...) Mas, nunca, em nenhum momento, eu toquei em uma paciente com objetivo de ter prazer sexual ou de fazer ela ter um prazer sexual, porque o objetivo ali é o exame físico", disse. "Muitas vezes, elas falam, 'olha, doutor, eu fiz alguma coisa assim, será que vai acontecer alguma coisa?'. Um erro meu, concordo, brinco no WhatsApp, comento alguma coisa de uma forma inadequada. Concordo que eu fiz isso, nisso eu estou errado", admitiu.

Limite entre médico e paciente

Os termos usados nas mensagens não condizem com a conduta ética da categoria, segundo o diretor da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia de Goiás (SGB-GO), Rodrigo Teixeira Zaiden. Ele afirma que os profissionais não devem entrar na intimidade dos pacientes com palavras de baixo nível. "Você não deve entrar na intimidade da paciente com palavras desse nível. Nesse momento, o médico tem que ter muito cuidado com as palavras que vai usar. A gente orienta que se faça da maneira mais cientifica possível, deixando claro os limites entre o médico profissional e aquela paciente", explica Zaiden. Para ele, a conduta adequada é tratar as pessoas da forma que o profissional gostaria que amigos ou parentes fossem tratados por outros médicos. "Como você gostaria que a sua mãe, irmã ou a sua esposa fossem examinadas?", pondera.

Fontes: G1 Goiás / www.poptvnews.com.br