Sexta-feira, 22 de
Novembro de 2024
Direito & Justiça

Adiamento

Após jurado passar mal, júri dos acusados de matar Valério Luiz é adiado pela 4ª vez

Julgamento foi remarcado para 5 de dezembro deste ano

Foto: Reprodução/TV Anhanguera
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Réus no caso do homicídio do radialista esportivo Valério Luiz Goiânia Goiás: Maurício Sampaio, Ademá Figueiredo, Marcus Vinícius, Djalma da Silva, Urbano Malta

14 junho, 2022

O júri popular que julgava os cinco réus acusados (veja mais abaixo) de matar o radialista Valério Luiz foi adiado pelo juiz Lourival Machado, nesta terça-feira (14/6). A justificativa para adiar o julgamento pela 4ª vez foi a dissolvição do júri (entenda abaixo) porque um jurado passou mal e saiu do hotel em que estava isolado para tomar remédio. O julgamento foi remarcado para 5 de dezembro deste ano. Segundo o TJ-GO, dissolver o júri significa que o julgamento foi encerrado sem um resultado devido a algum problema. Com isso, um novo julgamento deve acontecer desde a fase inicial, escolhendo novos jurados e ouvindo novamente todas as testemunhas. Um dos 7 jurados se sentiu mal de madrugada e resolveu sair do isolamento do hotel em que estava para ir em casa tomar um remédio por conta própria. Essa saída do hotel é proibida porque ele não pode ter contato com ninguém que não seja do júri e isso quebra a isenção do jurado. Valério Luiz foi morto a tiros, aos 49 anos, quando saía da rádio em que trabalhava, no dia 5 de julho de 2012. Segundo a denúncia feita pelo Ministério Público, o crime foi motivado pelas críticas constantes de Valério Luiz à diretoria do Atlético Goianiense, da qual Maurício Sampaio, um dos réus, era vice-diretor. Atualmente, ele é vice-presidente do Conselho de Administração.

O que dizem as partes
O advogado Valério Luiz Filho, um dos assistentes de acusação do júri, disse que é "emocionalmente difícil" saber que o julgamento dos acusados de matar o pai foi adiado pela 4ª vez.

"Eu pessoalmente queria continuar, mas o MP, como fiscal da lei, viu que não havia condições porque a gente não sabe o que o jurado fez na madrugada. Queria fazer um apelo para que, na próxima sessão o tribunal reforce a segurança dos jurados”, ressaltou o advogado. O advogado Luiz Carlos Silva Neto, que defende Maurício Sampaio, um dos réus, disse que as provas que o MP apresentou foram todas refutadas pela defesa. "Os jurados pressentiram isso, ao nosso ver, de que não haveria condições de condenar os réus, especialmente o Maurício. Estamos muito convictos da absolvição por unanimidade no júri", defendeu Silva Neto. O promotor do Ministério Público Sebastião Marcos Martins disse que o que aconteceu foi uma fatalidade. Ele explicou que não é possível substituir o jurado e o conselho precisa ser dissolvido. "Quando um jurado é sorteado, ele fica incomunicável. O jurado passou mal, teve um problema com alimentação e precisou de atendimento. O médico comprovou que ele não tem condições de continuar”, esclareceu o promotor.
Os cinco acusados do crime são:
Maurício Sampaio, apontado como mandante;
Urbano de Carvalho Malta, acusado de contratar o policial militar Ademá Figueiredo para cometer o homicídio contra o radialista;
Ademá Figueiredo Aguiar Filho, apontado como autor dos disparos que mataram Valério;
Marcus Vinícius Pereira Xavier, que teria ajudado os demais a planejar o homicídio do radialista;
Djalma Gomes da Silva, que teria ajudado no planejamento do assassinato e também atrapalhado as investigações.

Veja os destaques do 1º dia de júri (13 de junho)
Depoimento de Hellyton Carvalho

A primeira testemunha a ser ouvida pelo júri foi o delegado Hellyton Carvalho, que respondeu perguntas de promotores e advogados de defesa dos réus por 3h30. Em seu depoimento, o delegado da Polícia Civil afirmou que a única inimizade de Valério Luiz era com Maurício Sampaio, ainda que, na época do crime, testemunhas tenham relatado que o radialista não tinha dívidas, casos extraconjugais e inimizades que justificassem o crime. "A única preocupação que ele estava tendo nos dias anteriores ao homicídio seria sobre essas críticas mais contundentes que ele teria feito à direção do Atlético Goianiense. [...] A única inimizade que ele teria, efetiva, nesse meio, seria com o senhor Maurício Borges Sampaio", disse. Durante seu depoimento, Hellyton afirmou que a quebra de sigilo telefônico constatou que a ordem para matar Valério Luiz se deu em uma ligação de 10 segundos. Além disso, ele pontuou que Urbano Malta, um dos réus no caso, estava na cena do crime e próximo ao carro de Valério. Segundo o delegado, essa localização foi identificada a partir do rastreio dos números de telefone pelas torres de celular, que deram a localização dos dois no dia do crime. Segundo o delegado, o policial militar Ademá Figueiredo fazia bicos de segurança para Maurício Sampaio durante os jogos e era próximo do ex-vice-presidente do time. Ele ainda reforçou a acusação contra o PM ao destacar a habilidade que o atirador teve nos disparos. No depoimento, o delegado foi questionado pelo advogado Silva Neto, que defende Maurício Sampaio, sobre o celular de Valério Luiz. Segundo testemunhas, a vítima teria recebido ligações que não foram atendidas no momento do crime. No entanto, o delegado afirmou que não sabe sobre o paradeiro do aparelho. Para Silva Neto, essa seria uma das mais importantes provas do processo: o telefone da vítima. Já o depoimento do publicitário Alípio Ferreira Nogueira começou às 17h10 e durou pouco mais de 1h10. Alípio disse que trabalhou por muitos anos com a vítima e relatou ter chegado ao local do crime cerca de 1 minuto e meio após os disparos. No local, ele afirmou ter encontrado Urbano e o dono de um estacionamento. O publicitário, inclusive, disse ao filho do radialista, Valério Luiz Filho, que quando chegou ao local, a vítima ainda não estava morta.

“Ainda estava agonizando”, respondeu Alípio.
Em seu depoimento, Alípio também falou que sobre o jeito de trabalhar de Valério Luiz. Segundo o publicitário, ele e o radialista tinham o mesmo estilo de trabalho, de fazer críticas. “As vezes exageramos um pouco”, acrescentou. Alípio ainda contou ter sido procurado pela diretoria do Atlético para escrever uma carta impedindo Valério Luiz de frequentar o clube. No entanto, ele afirmou que não concordou com essa prática e não escreveu a carta.

Depoimento de André Isac da Silva

O depoimento do radialista André Isac da Silva foi iniciado às 18h48 e durou cerca de 2h30. Segundo ele, Valério Luiz e o suspeito de ser o mandante do crime, Maurício Sampaio, já chegaram a ter um bom relacionamento. No entanto, após críticas, Maurício teria dito ao Valério que “quem criticava o Atlético não servia pra ser amigo dele”. Ele ainda contou que essa “rixa” de Valério com Maurício era um assunto recorrente entre ele e o radialista Isac ainda afirmou que estava nos bastidores do programa, no dia em que Valério fez uma de suas críticas mais famosas ao time, no momento em que falava sobre a renúncia de Maurício Sampaio do Atlético. “Meu amigo, você pode olhar em filme de aventura, quando o barco está enchendo de água, os ratos são os primeiros a pular fora”, disse o radialista Valério Luiz, à época.
Segundo André, Valério já havia comentado essa frase antes do programa começar. “Não achei que ele ia ter coragem de dizer no ar”, comentou André.

Depoimento de Daniel Almeida Santana Reis

O cronista esportivo Daniel Almeida Santana Reis foi a quarta e última testemunha a ser ouvida durante o primeiro dia de julgamento, que acontece em Goiânia. O depoimento foi iniciado às 20h17 e durou cerca de 1h30. Daniel, que era diretor da emissora onde Valério trabalhava na época, disse que, após a carta que proibiu a ida do radialista e do restante de sua equipe ao clube, respeitou a decisão do Atlético. “Em momento nenhum eu pedi pela liberação da minha equipe”, pontuou Daniel. Além disso, ao ser questionado sobre qual era a fase que o time goiano vivia na época das referidas críticas feitas por Valério Luiz, ele explicou que era uma fase ruim. “O Atlético estava na zona de rebaixamento, era uma má fase que vinha se desenrolando desde o Campeonato Goiano e o time estava vivendo uma péssima fase”, disse Daniel. Em seu depoimento, Daniel ainda confirmou que a frase dita por Valério Luiz, mencionada durante o depoimento do radialista André Isac da Silva, foi com base na notícia de que Maurício Sampaio estava saindo do Atlético. “Foi uma frase contundente, dura. Alguns torcedores criticaram a fala e alguns dirigentes do Atlético também. Foi uma frase polêmica sim”, afirmou. Um dos advogados também questionou o cronista esportivo quanto ao direcionamento das críticas de Valério, com a intenção de saber se o radialista também criticava outros times goianos além do Atlético, que era seu time do coração. “Sim, sempre no estilo dele. Críticas pesadas, diretas. Criticava os dirigentes de outros times também”, respondeu Daniel. O depoimento do cronista esportivo também foi marcado por ânimos exaltados, por parte de alguns dos advogados dos réus, devido aos questionamentos feitos a Daniel. O momento foi interrompido pelo juiz, que solicitou aos advogados para se limitarem a realização de perguntas, e não a solicitação de emissão de opiniões pessoais.