Domingo, 28 de
Abril de 2024
Direito & Justiça

Condenações

Caso Boate Kiss: Réus são condenados pelo júri

Maior pena é de 22 anos de prisão

Foto: SILVIO AVILA / AFP
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Banner com as fotos das 242 pessoas que morreram no incêndio de 2013 na boate Kiss, durante um julgamento contra o acusado, em Porto Alegre, Brasil, em 1º de dezembro de 2021

10 dezembro, 2021

Os quatro réus pelo incêndio da boate Kiss foram condenados pelo Tribunal do Júri do Foro Central de Porto Alegre. Após 10 dias de julgamento, os jurados condenaram Elissandro Callegaro Spohr, Mauro Lodeiro Hoffmann, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão. Incêndio em casa noturna matou 242 pessoas e feriu outras 636 no dia 27 de janeiro de 2013 em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul. A maioria das vítimas morreram por asfixia devido a gases tóxicos liberados pela queima da espuma que havia no palco, segundo perícias. 

Elissandro Callegaro Spohr, sócio-proprietário da Kiss:
22 anos e 6 meses de reclusão em regime fechado

Mauro Lodeiro Hoffmann, vocalista da banda Gurizada Fandangueira, que segurava o artefato pirotécnico: 
19 anos e 6 meses de reclusão em regime fechado

Marcelo de Jesus dos Santos, sócio-proprietário da Kiss:
18 anos de reclusão em regime fechado

Luciano Augusto Bonilha Leão, assistente de palco da banda, quem comprou o artefato pirotécnico:
 18 anos de reclusão em regime fechado 

Como foi o julgamento no caso Boate Kiss: 
O julgamento, que começou no último dia 1º, é o mais longo da história do Judiciário gaúcho. O caso foi desaforado de Santa Maria para Porto Alegre, depois que defesas questionaram formação de júri imparcial na cidade onde boa parte da população foi afetada pelo fato. Os quatro réus são os então sócios da boate Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann e os integrantes da banda Gurizada Fandangueira -que tocava no local na noite do incêndio- Marcelo de Jesus dos Santos (vocalista) e Luciano Bonilha Leão (assistente de palco).  Eles foram acusados por homicídio e tentativa de homicídio simples por dolo eventual pelas mortes ocorridas na tragédia. Spohr, sócio-proprietário da boate, apontado como a pessoa responsável pelas decisões na boate e que era conhecido como "Kiko da Kiss" na cidade, disse durante interrogatório no júri que foi dele a decisão de colocar a espuma. Spohr alegou estar seguindo a indicação de um engenheiro, apesar de que o projeto encaminhado ao Ministério Público, no TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) que tratava dos problemas de vazamento de som da boate, não citar o material. O engenheiro autor do projeto, Miguel Ângelo Pedroso, disse ao júri que não indicou a espuma porque ela não serve para isolamento acústico, apenas conforto. Hoffmann entrou na sociedade quando o TAC ainda estava em discussão e diz ter suspendido o negócio por uns meses até ver o problema solucionado. Era o único dos réus que não estava na boate no momento do incêndio. A defesa de Hoffmann questionou a pessoas que falaram ao júri sobre a presença dele na boate ou se sabiam que ele era um dos donos, antes da tragédia. A maioria disse nunca tê-lo visto no local, enquanto outros relataram sua presença nas obras da reforma para o TAC e na tarde que antecedeu a tragédia. Hoffmann disse durante o interrogatório que não sabia que havia espuma no local e não sabia que a banda Gurizada Fandangueira se apresentaria na Kiss, já que agenda era com Spohr -depoimentos afirmaram que o grupo usou pirotecnia em outra boate dele dias antes, a Absinto. Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da banda, era quem tinha o artefato pirotécnico nas mãos e que pode tê-lo aproximado da espuma começando o incêndio. Ele negou no interrogatório que estivesse pulando com o artefato, mas testemunhas relataram que ele levantava os braços quando cantava "alto, em cima", trecho de uma música do cantor Naldo. Luciano Bonilha Leão, assistente de palco da banda, que confirmou ter sido o responsável por comprar o artefato pirotécnico, por colocá-lo na luva/munhequeira que Marcelo usava e por acioná-lo durante a apresentação.

Boate Kiss: relembre o caso que chocou o Brasil em 2013

A tragédia, que matou 242 pessoas e deixou 636 feridas, começou no palco, onde se apresentava a Banda Gurizada Fandangueira, e logo se alastrou, provocando muita fumaça tóxica. Um dos integrantes disparou um artefato pirotécnico, atingindo parte do teto do prédio, que pegou fogo. A tragédia, que matou principalmente jovens, marcou a cidade de Santa Maria e abalou todo o país, pelo grande número de mortos e pelas imagens fortes. A boate tinha apenas uma porta de saída desobstruída. Bombeiros e populares tentavam, de todo jeito, abrir passagens quebrando os muros da casa, mas a demora no socorro acabou sendo trágica para os frequentadores. A maioria acabou morrendo pela inalação de fumaça tóxica, do isolamento acústico do teto, formado por uma espuma inflamável, incompatível com as normas de segurança modernas. Após a tragédia, normas para prevenção de incêndio em estabelecimentos similares foram alteradas para garantir maior segurança em todo o Brasil. Desde o incêndio, as famílias dos jovens mortos formaram uma associação e, todos os anos, no dia 27 de janeiro, relembram a tragédia, a maior do estado do Rio Grande do Sul e uma das maiores do Brasil.