Domingo, 28 de
Abril de 2024
Direito & Justiça

Prisões

Advogados presos em operação eram 'garotos de recado' para traficantes e levavam informações até para favelas no RJ, diz delegado

Os investigados foram encaminhados para a Casa de Prisão Provisória em Aparecida de Goiânia na grande Goiânia

Foto: Reprodução/Polícia Civil
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Membros da OAB-GO acompanham operação que prendeu 16 advogados suspeitos de ligação com traficantes em Goiás

06 setembro, 2022

Os advogados presos na operação Veritas, realizada nesta terça-feira (6/9) pela Polícia Civil, trabalhavam como "garotos de recado" para diversos presos de Goiás e levavam informações sobre o tráfico de drogas até para criminosos da favela do Morro dos Prazeres no Rio de Janeiro, segundo o delegado Thiago Martimiano, que coordenou as prisões. Ao todo, 16 advogados foram presos. "Eles levavam informações sobre o tráfico de drogas, movimentação financeira, o que tinha que fazer. Eles eram os braços dos criminosos aqui fora. Então eles levavam informações de fora para dentro do presídio e vice-versa", explicou o delegado Thiago Martimiano. A Ordem dos Advogados do Brasil em Goiás (OAB-GO) disse em nota que está acompanhando o desenrolar da operação. "A Ordem atua para preservar as prerrogativas profissionais e cuida para que os advogados sejam recolhidos em salas de estado maior, conforme prevê a legislação. A Ordem não tem informações suficientes para se posicionar a respeito da operação", diz a nota. Os nomes dos suspeitos não foram divulgados pela Polícia Civil. Por isso, o g1 não localizou a defesa para se manifestar sobre a operação até a última atualização desta reportagem. O diretor-geral da Polícia Penal, Josimar Pires, explicou que advogados tentaram levar celulares para presos no presídio de segurança máxima em Planaltina de Goiás, mas foram descobertos e presos na época. Depois, foram liberados pela Justiça. "A Polícia Penal monitora todas as visitas, mas não pode restringir a quantidade, já que faz parte da prerrogativa do advogado visitar o cliente quantas vezes quiser", explicou Pires. 

Até R$ 20 mil por atendimento
Segundo o delegado, os advogados recebiam entre R$ 5 mil e R$ 20 mil por mês para serem o meio de comunicação entre presos e membros de facções criminosas que estavam soltos. A investigação apontou que existia níveis de importância dos advogados dentro das organizações. Os mais importantes, por exemplo, recebiam até R$ 20 mil num único atendimento. Alguns deles se conheciam e trabalhavam para os mesmos presos, segundo a Polícia Civil. A corporação desconfiou da atuação dos advogados ao receber informações de que um preso no Presídio de Planaltina de Goiás recebeu 600 visitas de advogados em um ano, ou seja, quase duas visitas por dia. "A gente sabe que essa média não é comum. Presos não precisam ser atualizados de processos com tanta frequência. Eles não prestavam serviços jurídicos. Tinha advogado que até carregava drogas e armas para os presos fora do presídio", detalhou o investigador. A operação apontou também que os advogados visitaram presos de vários presídios de Goiás para levar recados para chefes do tráfico de drogas. O delegado disse que a maioria dos advogados cooptados para esse trabalho estava no início da carreira. Equipes da Polícia Civil cumpriram mandados de prisão e de busca e apreensão em Goiânia, Anápolis, Planaltina de Goiás e no Distrito Federal. A polícia continua com a investigação para saber se mais advogados estão envolvidos com presos. Os investigados foram encaminhados para a Casa de Prisão Provisória em Aparecida de Goiânia (GO).