Quinta-feira, 31 de
Outubro de 2024
Brasília

Irresponsável

Bolsonaro é irresponsável e precisa deixar Mandetta trabalhar, diz Serra

O Bolsonaro precisa deixá-lo trabalhar", afirmou o Senador

Foto: Mathilde Missioneiro/Folhapress
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Senador José Serra (PSDB-SP)

01 abril, 2020

p/Igor Gielow 

São  Paulo (SP) - O senador José Serra (PSDB-SP), que foi ministro da Saúde do governo Fernando Henrique Cardoso de 1998 a 2002, considera que o presidente Jair Bolsonaro está sendo irresponsável na condução da crise do novo coronavírus. Ele defende Luiz Henrique Mandetta (Saúde). "Ele está na linha correta, fazendo o que qualquer ministro da Saúde faria. O Bolsonaro precisa deixá-lo trabalhar", afirmou o senador. "É um comportamento inusitado para um homem púbico, quem dirá um chefe de Estado, o do presidente", disse por telefone Serra, que está isolado com a família numa praia nordestina e participando de debates no Senado por via remota. O tucano tem 78 anos, e a Casa dispensou todos os parlamentares pertencentes a grupo de risco. Mandetta está em rota de colisão com o seu chefe desde que a crise começou. O ministro aposta nas recomendações por isolamento social nessa fase da expansão do vírus pelo país, conforme indica a OMS (Organização Mundial da Saúde). A maioria dos governadores de estado vai na mesma linha, a começar por João Doria (PSDB-SP), adversário político de Bolsonaro, o que acirrou a discussão sobre o tema. O senador tucano não quis comentar o desempenho dos chefes estaduais na crise detalhadamente. "No atacado, parecem estar trabalhando bem." Há semanas, o presidente notabiliza-se por chamar a Covid-19 de "gripezinha" e vai a aglomerações nas ruas para incentivar o que chama de volta ao trabalho. "É irresponsabilidade", avalia Serra, comentando a visita de Bolsonaro ao comércio popular perto de Brasília no domingo (29/3). A posição de Mandetta tem defensores no governo, como o ministro Sergio Moro (Justiça), e a cisão tem tornado o futuro da condução da crise mais nebuloso. Economista e ex-ministro do Planejamento (1995-96, sob FHC), Serra não minimiza o impacto da pandemia na atividade econômica. "Nessa crise, tempo é dinheiro", diz, receitando a emissão de dívida do governo para sustentar as medidas na área de saúde de forma continuada. "Tenhamos claro que o governo terá de se financiar no mercado para bancar as ações de combate à Covid-19", diz. Ele preferiu não avaliar as medidas até aqui divulgadas pela área econômica do governo, por não ter tido tempo de estudá-las a fundo. Para ele, não falta dinheiro no Brasil para aplicar contra a crise de forma imediata, e sim coordenação no governo federal. "Recurso tem", diz. Serra considera que não há amarras institucionais para que "o Executivo tome as rédeas" do processo. Citou a decisão do Supremo Tribunal Federal flexibilizando temporariamente os limites de gastos dentro dos parâmetros da Lei de Responsabilidade Fiscal e a aprovação, pelo Congresso, do decreto de estado de calamidade --que ele mesmo havia proposto antes de o governo enviar o dele. sso permite o manejo livre de verbas do SUS (Sistema Único de Saúde), que o senador vê como central para o sucesso da tática de enfrentamento à pandemia com o reforço no número de leitos de terapia intensiva e na assistência básica de saúde. Serra também apresentou outros cinco projetos relacionados ao coronavírus. O principal pede a criação de um fundo emergencial para centralizar todas as verbas do combate à crise. Outros versam sobre o prolongamento do recebimento do seguro-desemprego aos afetados pela pandemia, mais verba para Santas Casas, ações de segurança pública durante quarentenas e a agilização da tramitação de matérias no Senado. Quando assumiu a Saúde, Serra lidou com a explosão da epidemia de dengue no país. Ele diz não ver como comparar aquela realidade com a atual. "É muito mais grave agora", diz.

Fonte: FOLHAPRESS / Poptvnews