p/ Silvana Marta
A reunião ministerial de 22/04 é o retrato fiel do governo Bolsonaro. Apesar da qualificação dos seus auxiliares de seu governo (há controvérsias), existe uma distorção real do pensamento ideológico que destoa do tom democrático alcançado pelos brasileiros a partir das eleições para governadores em 1982, primeiro passo para a redemocratização do país, apesar da presidência ter sido eleita de forma indireta em 1985. Fernando Collor de Mello foi o primeiro presidente democraticamente eleito, mas foi impeachmado, como também foi Dilma Rousseff (PT). Os brasileiros buscam um país engrandecido, com uma economia pujante, escolas de qualidade, saúde de primeira e paz para poder andar à noite pelas ruas das cidades. Um idealismo filosófico, a partir de uma busca platônica onde o ideal está está dissociado da realidade que se apresenta. A escola platônica é de 387 a.C, o que aponta para o fato de o povo brasileiro ainda viver, intelectualmente falando, naqueles tempos, ou seja, no primeiro milénio a.C. Se isso for verdade, a idade mental dos brasileiros remete há três mil anos. Segundo os dados da Síntese de Indicadores Sociais (SIS) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de pessoas que vivem no Brasil com renda per capita inferior a R$ 145,00 mensais equivale à população de países como Portugal, Grécia, Bélgica e Bolívia.
Mas isso é só o começo
O Brasil atingiu nível recorde de pessoas vivendo na extrema pobreza’: 13,537 milhões de brasileiros, o que corresponde a 6,5% da população brasileira. O total de brasileiros na linha da pobreza, segundo o IBGE, é de 25,3% da população, o que equivale a 52,5 milhões de pessoas. Enquanto isso, na reunião ministerial de Jair Bolsonaro do dia 22/04, a tratativa é a sua possibilidade de interferir diretamente na Polícia Federal e demais órgão de segurança para barrar investigações contra sua família, já que os três filhos dele, Carlos, Eduardo e Flávio Bolsonaro, são alvos de investigação. Advocacia administrativa é crime. Nela também os termos ‘bosta’ e ‘merda’ foram os mais usados durante o desenrolar dos trabalhos daquele dia. Também a palavra ‘putaria’ e ‘porra’ estão entre os verbetes preferidos pelo presidente da república. E finaliza: “Os caras querem é a nossa hemorróida”. Os brasileiros estão tomados por uma dislexia generalizada. Querem saúde, ensino e segurança de qualidade, mas mas não sabem precisar a que se referem: a saúde pública ou à privada? Ensino público ou privado? Segurança pública ou privada? Porque ser for saúde, educação e segurança públicas, a pauta é progressista, e os brasileiros elegeram um presidente conservador. Não há progresso sem desenvolvimento social em um país com 66 milhões de pobres e miseráveis. O quadro é preocupante. Entretanto a tendência é que o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal ponham panos quentes embora as tratativas da reunião foram dar um golpe de Estado, com o fechamento do STF e do Congresso Nacional, prender opositores, destruir a amazônia, acabar com as comunidades indígenas e quilombolas e formar milícias armadas. O Brasil vai de mal a pior, e segundo a lei de Murphy, não há nada que não possa piorar.
Silvana Marta de Paula Silva, advogada, jornalista e escritora
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