De janeiro a agosto de 2023, 20 pessoas foram mortas em abordagens feitas por agentes das polícias Militar e Civil do Distrito Federal. O número deste ano é o maior do que os dos últimos cinco anos. Os dados foram obtidos pelo g1 por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). Ao todo, 60 pessoas morreram por conta da violência policial durante operações da PMDF e da PCDF de janeiro de 2019 a agosto de 2023. No mesmo período, o número de feridos por agentes das duas corporações chega a 147 pessoas. A Polícia Militar registra 87,43% das ocorrências de lesão corporal e morte catalogadas nos últimos cinco anos, sendo 129 vítimas feridas e 52 pessoas mortas durante as abordagens realizadas pela corporação. Em nota, a PMDF afirma que os casos de lesão ou morte de indivíduos em ocorrências policiais são em situações em que os agentes não têm alternativa. A PCDF, que registra 20 casos de pessoas feridas e 8 mortes em abordagens policiais nos últimos cinco anos, afirma em nota que as ações dos agentes são reações à injusta agressão. Além dos dados catalogados de mortes e lesões corporais provocadas por agentes em operações, policiais militares foram responsáveis por 6 mortes fora do serviço nos últimos cinco anos. Já em relação ao número de feridos, agentes da PMDF feriram 7 pessoas e agentes da PCDF feriram uma pessoa fora do serviço desde 2019.
'Meu irmão levou dois tiros na luz do dia'
O jovem Maik Sales da Silva, 27 anos, conta que seu irmão foi uma das vítimas da violência policial no Distrito Federal. Matheus de Jesus Sales, 25 anos, levou dois tiros nas costas, na altura do pescoço, na Estrutural, em 8 de fevereiro deste ano. Segundo Maik da Silva, os tiros foram durante uma abordagem policial na qual o seu irmão não estava armado. Num vídeo, é possível ver Matheus Sales correndo de um dos policiais em uma das ruas da Estrutural. “Por volta das 11 horas da manhã, o policial deu dois tiros nas costas do meu irmão”, diz Maik da Silva. Matheus Sales, que era cantor de rap e estava a caminho da gravação de um clipe musical no dia em que foi baleado, ficou tetraplégico por conta da lesão gerada pelos dois tiros nas costas. O jovem, que passou por cinco hospitais no DF, ficou seis meses em tratamento e morreu em 17 de agosto. Em nota, o Ministério Público do Distrito Federal diz que o caso está em investigação e que a pasta acompanha o trabalho da polícia. Questionada sobre a situação, a PMDF não respondeu até a última atualização desta reportagem. Segundo a PCDF, o caso foi investigado pela 8ª Delegacia de Polícia, na Estrutural, e encaminhado ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal em julho.
Casos recentes de violência policial
No início de novembro, um homem ficou ferido após ser baleado por policiais militares perto da Feira do Produtor, em Ceilândia, no Distrito Federal. Segundo a corporação, os policiais reagiram após serem ameaçados pela vítima. De acordo com o Corpo de Bombeiros, a vítima foi levada ao Hospital Regional de Taguatinga (HRT) consciente e estável. O caso mais recente de morte em uma abordagem policial foi no fim de outubro deste ano, quando a PMDF atirou contra o carro do motorista Raimundo Cleofás Alves Aristides Júnior, de 41 anos, que fugiu de uma blitz, na região central de Brasília. O passageiro Islan da Cruz Nogueira, de 24 anos, morreu.
O que diz a PMDF?
"A Polícia Militar do Distrito Federal se destaca como uma instituição de baixos indicadores de violência policial e letalidade, como comprovado por dados divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Isso é resultado de um compromisso contínuo com a legalidade e o respeito aos direitos humanos, que começa desde o processo de seleção e se estende ao longo de toda a carreira do policial militar. Os casos de lesão ou morte de indivíduos em ocorrências ocorrem em situações nas quais os policiais não têm alternativa senão usar a força ou até mesmo equipamentos letais. É imperativo destacar que a PMDF se estabelece como um exemplo de instituição comprometida com a segurança pública e o respeito aos direitos humanos e não hesita em tomar as medidas necessárias, no que tange à apuração dos fatos, em casos de ações policiais que ultrapassam os limites constitucionais ou violam princípios fundamentais, como por exemplo a dignidade da pessoa humana."
O que diz a PCDF?
"Nota-se pelos dados estáticos que cerca de 90% das ações da Polícia Civil do Distrito Federal são reações à injusta agressão, gerando a necessidade de ação por parte do Agente do Estado. Tal dado estatístico mostra a preocupação da Instituição para as ações de seus membros serem a menos agressiva e letal possível, além do baixíssimo índice da PCDF em relação a outros Entes e Unidades da Federação. A atuação da PCDF é técnica e sempre precedida de planejamento, evitando ao máximo o confronto. Os cursos de formação e progressão funcional são contemplados com treinamentos específicos para a boa prática policial. Além disso, a Instituição oferece de forma contínua cursos de capacitação e aprimoramento da atividade policial."