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Novembro de 2024
Brasília

Pró-golpe

Jair Bolsonaro discursa em ato pró-golpe em Brasília

Bolsonaro subiu na carroceria de uma camionete em frente ao Quartel General do Exército para discursar sem dizer nada

Foto: Sergio Lima / AFP (via Getty Images
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Jair Bolsonaro discursa em ato pró-golpe em Brasília

20 abril, 2020

p/  Matheus Pichonelli

Brasília (DF) -  Lidas no Twitter ou num teleprompter, não passariam de platitudes as palavras proferidas por Jair Bolsonaro  domingo (19/4) durante a marcha em Brasília em defesa do autogolpe. Presidente há um ano, três meses e 20 dias, nem o ex-capitão nem seu seguidor mais fanático sabe dizer exatamente o que ele quer do país além de retirar cadeirinhas de automóveis, atacar os radares de velocidade, punir fiscais ambientais que o multaram e distribuir armas Brasil afora como se fossem doces. “Antes de construir, é preciso desconstruir muita coisa”, disse ele em uma reunião nos EUA, como se oferecesse por empréstimos as linhas de suas costas aos titereiros. Nos meios bolsonaristas, circula a mitologia de que o capitão só não fez o que precisa ser feito para salvar o país porque forças ocultas o impedem. Mas o que ele quer exatamente? Desde os debates televisionados na TV, que evitou participar, ninguém sabe dizer. No domingo, pressionado a dar uma resposta em meio ao maior desafio de seu governo (seu e de outros 193 líderes globais), Bolsonaro subiu na carroceria de uma camionete em frente ao Quartel General do Exército para discursar sem dizer nada. Decretou o fim da velha política, da patifaria, sinalizou que não quer negociar nada com ninguém e que os manifestantes que furaram a quarentena para se aglomerar em defesa do vírus tinham o dever de lutar pelo Brasil que merecem. De nova a conversa não tem nada. Tudo ali é velho. Velho, pobre e mofado, a começar pela defesa expressa nos cartazes do AI-5, um instrumento usado em 1968 para calar opositores e levar o país em paz até o atoleiro. A nova política de Bolsonaro é uma roupa de 52 anos que nunca deveria ter servido. Torcidas e retorcidas, as palavras não delineiam uma única ideia de país. Nada. Marcam apenas o que talvez seja o ponto mais alto da incompetência bolsonarista em sair da tangente e parar de rodar em torno de si. Com o dedo erguido, a fala confusa, cortada pela tosse, Bolsonaro criou um registro para a posteridade entre bandeiras com pedido de intervenção. Mas ele já não é o presidente? Já não está onde deveria estar se quisesse mesmo desenhar as portas de saída para a crise?

Não está

O dedo aponta para longe, como se desvisse os olhares dos que já desconfiam que o rei está nu e desorientado. Para isso é preciso criar inimigos por todos os lados, dos fantasmas comunistas aos chefes dos Poderes que o impedem de mandar todo mundo se jogar no poço. Coincidência ou não, a aposta dobrada por Bolsonaro acontece dois dias após um ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negar o pedido de habeas corpus feito pelos advogados do senador Flávio Bolsonaro para suspender as investigações sobre o suposto esquema de “rachadinha” em seus tempos de deputado estadual no Rio. Aqui a nova política manda lembranças. Na história do século 20, há inúmeros exemplos de quem foi eleito com maioria dos votos e se proclamou não mediador da vontade popular, mas a personificação do próprio povo. “Eu sou o povo. Os outros são contra nós. E precisam ser eliminados,  inclusive juízes que podem nos julgar”, conclui. Alguém precisa avisar o capitão que, tanto quanto ele, governadores e representantes do Congresso também foram eleitos em 2018. Enquanto o país contabiliza 2.462 mortes em decorrência da “gripezinha”, Bolsonaro arruma tempo para brigar com os vizinhos em Brasília. O nome da vez é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Os alvos estão diante de um desafio histórico. Precisam deixar claro se as palavras do presidente merecem ser contidas ou ignoradas. Tudo isso enquanto covas são abertas nos cemitérios para enterrar o equivalente a um acidente aéreo diariamente. A história mostrará onde cada um estava enquanto pais, mães e filhos enterravam seus familiares no meio do tiroteio. Alguns estavam na rua, dentro dos carros, carregando caixões simbólicos para celebrar a própria falência humana. Outros emprestavam silêncio. E o prestígio para sustentar planos mirabolantes do autoritarismo mais pedestre. Não serão esquecidos.

Fonte: Yahoo Notícias / Poptvnews