Brasília (DF) - Em meio a mais uma crise política envolvendo o ministro mais popular que ele próprio, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a colocar novamente o ex-juiz da Lava Jato e titular do ministério da Justiça e Segurança Púbica, Sergio Moro, como o seu preferido para substituir o decano Celso de Mello no STF (Supremo Tribunal Federal). Mello se aposentará em novembro de 2021 o que abrirá espaço para o presidente emplacar seu primeiro nome na corte. A informação foi publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, segundo o qual aliados de Bolsonaro veem, no gesto de indicar Moro, um movimento para blindar um cenário em que ele pode surgir como seu adversário na sucessão presidencial de 2022. Conforme a Folha apurou, o ministro teria tratado da possibilidade de ir para o STF em conversa com o presidente após a polêmica sobre a recriação do Ministério da Segurança Pública, hoje parte da pasta da Justiça. Reservado, o diálogo foi apelidado por integrantes da equipe de Moro como uma “DR” - discussão da relação. Além de neutralizar uma possível ameaça eleitoral, a indicação de Moro para o Supremo ainda abriria ainda espaço para que Bolsonaro tenha mais ingerência no Ministério da Justiça, algo que ele vem buscando desde o começo do governo. Um dos pontos sensíveis, por exemplo, é a Polícia Federal. A eventual saída de Moro pavimenta um caminho para Bolsonaro mexer no seu comando, o que ele já sinalizou ano passado. Em um aceno à bancada evangélica, o presidente havia definido que escolheria para o Supremo um jurista com respaldo da comunidade religiosa. “Poderei indicar dois ministros para o Supremo Tribunal Federal. Um deles será terrivelmente evangélico”, afirmou, em julho de 2019. À época, o ministro da AGU (Advocacia Geral da União), André Mendonça, surgiu como primeira opção, a ponto de ser citado pelo próprio Bolsonaro. Porém, nos bastidores, o presidente passou agora a cogitá-lo para a segunda cadeira a ficar no vaga no STF, a do ministro Marco Aurélio Mello, que tem aposentadoria prevista para 2021. Para essa posição também está na lista de possibilidades o ministro da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, que vem ganhando prestígio junto ao presidente. Bolsonaro já disse, no passado, ter reservado uma das vagas do Supremo a Moro, que deixou a magistratura para se tornar ministro do governo. No entanto, o presidente depois negou haver qualquer acordo e disse apenas buscar alguém com o perfil do ex-juiz. Assessores apostam que a nova mudança de entendimento, a favor de uma indicação já este ano, se deu após o mal-estar surgido com a declaração do presidente de desmembrar a pasta da Justiça, criando um ministério separado para a Segurança Pública. Além disso, Bolsonaro articulou uma reunião com secretários estaduais de Segurança, sem a presença do ministro, que tem usado o tema como uma das suas bandeiras de gestão. Moro disse a aliados, à época, que, se a manobra ocorresse, deixaria o governo. O atrito provocou reação forte de apoiadores do ex-juiz, que passaram a pressionar o presidente nas redes sociais. Diante da possibilidade de baixa, Bolsonaro então recuou e disse que, por enquanto, a possibilidade de dividir a pasta está engavetada. Se antes Bolsonaro pretendia manter Moro no governo como hipótese de tê-lo como candidato a vice em 2022, agora passou a considerar que a indicação ao STF é uma maneira de evitar que ele se torne um adversário nas urnas. Ao mesmo tempo, é uma estratégia para ganhar mais autonomia sobre seu próprio governo. O ministro tem popularidade maior que a de Bolsonaro, como apontou pesquisa Datafolha do fim de 2019, Moro ganhou o apelido no Palácio do Planalto de “ministro indemissível” e se tornou, na avaliação de auxiliares do governo, um contraponto ao presidente na Esplanada. Ex-titular da 13ª Vara Criminal da Justiça Federal em Curitiba (PR), e responsável pela Operação Lava Jato, Moro foi convidado por Bolsonaro logo após sua vitória na eleição de 2018. Ele chegou ao governo com a promessa de que assumiria um “superministério” com a missão de reforçar o combate à corrupção e ao crime organizado. Semana passada, em entrevista ao programa Pânico, da rádio Jovem Pan, o ministro mandou um sinal ao Planalto ao se referir a uma eventual indicação como uma “perspectiva interessante”. “Venho da magistratura, seria algo interessante. Mas a escolha evidentemente cabe ao presidente da República. Ele tem a possibilidade de me indicar, pode indicar outras pessoas”, afirmou Moro na entrevista. A possível indicação de Moro ao Supremo tem a simpatia do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e conta com o apoio da ala lavajatista do Senado, onde os indicados para o STF são sabatinados.
Fonte: Yahoo Notícias / Folha de São Paulo / Poptvnews