Sexta-feira, 29 de
Novembro de 2024
Brasil

Entrevista

Zambelli irrita Bolsonaro

Ela poderá ter o mesmo destino de Frota, Joice e grande elenco

Foto: Evaristo Sá/AFP (via Getty Images
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Deputada federal Carla Zambelli (PL-SP)

25 fevereiro, 2023

Mais do que as falas em si, a repercussão das falas da deputada Carla Zambelli (PL-SP) sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em sua entrevista à Folha de S.Paulo podem indicar um movimento de placas tectônicas na base do bolsonarismo. Zambelli é um check list ambulante quando o assunto é bolsonarismo-raiz. Ela esteve ao lado do capitão o tempo todo: quando ele punha máscara, ela também punha; quando ele a retirava, ela também retirava; e quando ele dizia que armas eram direito básico de qualquer cidadão, ela saía por aí apontando revólver a eleitores. A deputada sempre foi um eco das teses negacionistas de Bolsonaro sobre a Covid-19, as urnas eletrônicas e outros itens básicos do bolsonarismo. Soam, portanto, como um ato planejado a entrevista à Folha de S.Paulo – jornal que o ex-presidente adoraria ver empastelado. Na entrevista, ela afirmou que Bolsonaro deveria ter dito que era para as pessoas saírem dos quartéis após as eleições. Disse ainda concordar que ele deveria estar no Brasil para “liderar a oposição”. Bolsonaro, que não aceita que digam o que ele deve fazer, ainda mais uma mulher, não deve ter gostado da conversa. Oficialmente ele diz apenas que não leu a entrevista e nem pretende ler. Há quem acredite. E há bons entendedores, para quem meia declaração de guerra basta. Segundo a colunista Monica Bergamo, da Folha de S.Paulo, Bolsonaro tem dito a aliados que se sente traído pela deputada. Ele desconfia que ela fez um acordo com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, para recuperar suas redes sociais, como de fato aconteceu, e escapar de uma eventual prisão. A bandeira branca ficou exposta na entrevista. Zambelli disse ter enviado um e-mail para Moraes e se mostrou "à disposição" conversar. Foi o suficiente para Bolsonaro entender que perder a soldado.

De duas uma

Ou a entrevista pode ter selado o fim político da bolsonarista-raiz ou um recomeço sob uma outra ordem. A ex-militante do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, encontrou no bolsonarismo um barco a plenos motores para levá-la até onde queria, em Brasília. Zammbelli se manteve fiel ao então presidente enquanto ele se mostrava resiliente a crises que marcaram seu governo, como a pandemia e a interferência, denunciada por Sergio Moro, no comando da Polícia Federal. Ela agora diz acreditar que Bolsonaro pode ser preso ao desembarcar no Brasil. Pode estar, portanto, readequando a embalagem extremista para sobreviver a tempos pós-Bolsonaro. A entrevista pode ser um sinal de que ela já sente que o velho barco está prestes a afundar.

Risco

A simples entrevista já rendeu a ela a pecha de traidora e a perda de milhares de seguidores em suas redes. Se estiver com o feeling apurado, Zambelli pode se tornar o único caso de quem sobreviveu ao fogo amigo do bolsonarismo após se distanciar da seita. Alexandre Frota, Joice Hasselmann, Luiz Henrique Mandetta e grande elenco não podem dizer o mesmo.