Segunda-feira, 30 de
Dezembro de 2024
Mundo

Homenagem

Biden homenageia vítimas de Tulsa 100 anos após massacre racial

O massacre de 1921, no qual um rico bairro negro foi arrasado por homens brancos, ficou, "por muito tempo, esquecido em nossa história"

Foto: Divulgação
post
No dia seguinte, ao amanhecer, brancos saquearam e queimaram empresas e casas na que era então conhecida como "Black Wall Street"

03 junho, 2021

Oklahoma  (EUA) - Um século depois do massacre que atingiu a população negra de Tulsa, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez uma visita histórica à cidade de Oklahoma na terça-feira(1/6), para "quebrar o silêncio", e prometer fechar o grande abismo racial que perdura no país. O massacre de 1921, no qual um rico bairro negro foi arrasado por homens brancos, ficou, "por muito tempo, esquecido em nossa história. Assim que aconteceu, houve um claro esforço para apagá-lo de nossa memória", disse o presidente democrata. “A partir de agora, seu destino será conhecido de todos”, afirmou, sem prometer medidas concretas de reparação econômica aos muitos descendentes das vítimas que foram ouvi-lo. Biden goza de amplo apoio entre os negros americanos, a quem prometeu progresso legislativo após o grande movimento de conscientização antirracismo que se seguiu à morte de George Floyd por um policial branco no ano passado. Nesta terça-feira, ele se tornou o primeiro presidente a relembrar pessoalmente uma das páginas mais sombrias da história americana em Tulsa, na presença de três sobreviventes do centenário. Os filhos, netos e bisnetos das vítimas esperavam que o presidente "fizesse justiça" em nome daqueles que não sobreviveram, disse à AFP Kristi Williams, parente de uma delas, assinalando que o país “tem a oportunidade de corrigir o erro” cometido contra a sua comunidade. Em 31 de maio de 1921, um jovem afro-americano foi preso após ser acusado de agredir uma mulher branca. Um grupo de homens de sua comunidade saiu para defendê-lo, confrontando centenas de manifestantes brancos do lado de fora do tribunal de Tulsa. Tiros foram disparados e os afro-americanos fugiram para seu bairro, Greenwood. No dia seguinte, ao amanhecer, brancos saquearam e queimaram empresas e casas na que era então conhecida como "Black Wall Street", um exemplo de sucesso econômico. Assim como as perdas econômicas, o número de mortos é difícil de estimar, mas historiadores creem que cerca de 300 afro-americanos morreram e quase 10.000 ficaram desabrigados, sem nenhuma condenação contra autoridades brancas. A polícia chegou a armar alguns dos agressores, de acordo com um relatório de uma comissão de inquérito. No fim, autoridades acabaram acusando os moradores de Greenwood de instigarem o distúrbio.

 Desculpa oficial 

Nesta terça-feira, o governo Biden anunciou medidas de ajuda financeira para afro-americanos, que visam a facilitar a compra de moradias ou a abertura de negócios. Khalid Kamau, 44, disse que viajou da Geórgia menos para lembrar o massacre do que para lembrar o que já foi "uma comunidade negra autossuficiente e bem-sucedida". "Se existiu uma vez, pode existir novamente", disse Kamau. Nas ruas, cartazes exibiam frases como "Black Lives Matter" (vidas negras importam) ou exigindo o fim do "racismo generalizado". O reverendo Robert Turner, cuja igreja metodista de Vernon foi uma das poucas construções em Greenwood a ser salva em 1921, apresentou um pedido de indenizações. Nesta segunda-feira, o prefeito de Tulsa, George Bynum, desculpou-se formalmente pela "incapacidade da cidade de proteger" a comunidade em 1921. Os efeitos da destruição ainda são sentidos nessa cidade de Oklahoma, antigo estado escravocatra do sul e reduto da Ku Klux Klan. As desigualdades entre o norte, predominantemente negro, de Tulsa e o sul, predominantemente branco, são gritantes. Os visitantes de Tulsa "não conseguem acreditar em quanta segregação ainda existe ou em quanto racismo é manifestado", assinalou Michelle Brown, chefe de programas educacionais do centro cultural local.

Hora de curar 

Em 19 de abril, alguns dos últimos sobreviventes viajaram a Washington para testemunhar perante o Congresso e pedir que o país reconheça seu sofrimento. Em 2001, uma comissão de inquérito recomendou que os residentes de Greenwood recebessem uma indenização. Mas não houve resposta. Para LaShaundra Haughton, 51, bisneta de sobreviventes do massacre, “é hora de curar, é hora de dizer a verdade, é hora de trazer tudo à luz”. O desejo de transparência foi manifestado recentemente, a partir das escavações realizadas para encontrar as valas comuns onde as muitas vítimas negras foram enterradas.

Fontes: AFP