A advogada quilombola Vercilene Dias, que é de Cavalcante, na região nordeste de Goiás, está entre as “20 Mulheres de Sucesso” pela revista Forbes. Com esse reconhecimento, ela acredita que a batalha por direito das comunidades quilombolas ganha força. “Além do reconhecimento individual, é um reconhecimento coletivo, não só do território kalunga ou das 58 comunidades quilombolas do estado de Goiás, mas das mais das 6 mil comunidades quilombolas do Brasil. É uma luta por direitos”, disse. A lista foi divulgada na quarta-feira (23). Anualmente, a revista faz uma lista com nomes femininos que se destacaram em diversas áreas de atuação. Outras mulheres apontadas na lista deste ano são algumas famosas, como a empresária e ex-BBB Bianca Andrade e as atrizes Fiorella Mattheis e Taís Araújo. Vercilene nasceu na comunidade Kalunga, que é o maior território quilombola do país, em Cavalcante. Segundo a Forbes, ela é a primeira quilombola com título de mestre em direito do Brasil. Aos 6 anos, ela saiu da casa dos pais para morar em outro território kalunga para poder estudar. Ainda na infância, ela trabalhou como doméstica, em troca de casa e comida, além do direito de estudar. Quando tinha 17 anos, ela entrou no curso de direito na Universidade Federal de Goiás (UFG). “Na casa dos meus pais até hoje não tem energia, internet ou telefone. Recentemente, fiquei lá 14 dias sem qualquer meio de comunicação, ilhada, em decorrência das chuvas. A gente está falando da invisibilização de um povo que não está distante e que está próximo da capital do país”, disse. Atualmente, a advogada é coordenadora do departamento jurídico da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e batalha pelo direito de toda a população quilombola do país. “É uma luta de visibilização pela efetivação de direitos já reconhecidos constitucionalmente. É uma luta pela política pública que é muito ausente nos territórios quilombolas”, disse. Após a publicação, Vercilene contou que tem recebido mensagens de pessoas de diversas regiões, inclusive, do público infantil, que se espelha nela. Ela diz que espera que o reconhecimento que está recebendo seja a porta de entrada para que outros quilombolas alcancem suas conquistas. “Se eu estou aqui, outras pessoas também possam estar. Que outras mulheres possam vir após mim. Tenho recebido muitas mensagens carinhosas de crianças quilombolas dizendo que querem ser igual a mim. Eu falo: ‘Não tem que ser igual a mim, vamos voar muito mais alto’”, disse.
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