Goiânia (GO) - Com todos os leitos de enfermaria e Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) lotados, o Hospital Jacob Facuri, em Goiânia, fechou o pronto-socorro para novos pacientes. O aviso que informa a falta de vagas foi publicado nas redes sociais da unidade. Em uma recomendação, o Ministério Público de Goiás (MP-GO) pediu que as unidades não fechem as portas. Na manhã de domingo (14/3), tanto a rede privada quanto a pública da capital estavam com 100% de ocupação dos leitos de UTI para tratamento de pacientes com Covid-19, segundo o Painel da Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO). A Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg) confirmou, por meio de nota, que os hospitais estão sendo obrigados a suspender temporariamente o atendimento nos prontos-socorros por total incapacidade de receber novos pacientes, por falta de profissionais, equipamentos e insumos. Na manhã de sábado (13/3), a TV Anhanguera entrou em contato com outros três hospital particulares da capital, que foram unânimes em dizer que as unidades estão atendendo com a capacidade máxima operacional. Em um deles, a atendente chegou a informar que um paciente aguardava há três dias por uma vaga de internação. "Atender a gente atende. Você está me perguntando se tem vaga, falei que não, no momento não. Eu tenho um paciente que está aguardando desde ontem, não, desde anteontem. Tem três dias que ele está aqui (...). Tem que vir aqui, retirar a senha e aguardar. A gente não sabe que horas o paciente vai sair [ser atendido]", disse.
Colapso
Em entrevista à TV Anhanguera, a presidente da Sociedade Goiana de Infectologia (SGI), Cristiane Kobal, afirmou que Goiás enfrenta atualmente um colapso no sistema de saúde tanto da rede privada quanto da rede pública. De acordo com ela, os profissionais que atuam na linha de frente do combate à pandemia não estão conseguindo oferecer o tratamento adequado para todos os pacientes, justamente por falta de vagas. “Se o colapso na saúde for não ter leitos o suficiente em tempo hábil para tratar os pacientes graves, eu entendo que estamos em colapso. Ou seja, eu não estou dando a oportunidade de tratamento adequado para aquele paciente que está com a forma grave da doença. Estamos enfrentando uma dificuldade tremenda de acharmos vaga tanto na rede pública quanto na rede privada para doente grave com Covid-19”, afirmou. Questionada sobre o sistema de saúde em Goiás estar em colapso, a superintendente em Vigilância de Saúde SES-GO, Flúvia Amorim, afirmou que, levando em consideração a pior fase da pandemia, com recordes de mortes e internações, o estado enfrenta atualmente uma situação gravíssima, que pode ser chamada de estado de calamidade. “Independente da terminologia utilizada, se é colapso ou estado de calamidade, que é como a gente tem classificado, inclusive nas várias regiões do estado, o que nós temos nesse momento é, com certeza, uma situação gravíssima. É uma situação onde a gente tem visto a cada dia o número de mortes acontecendo, pessoas sendo infectadas. E a gente sabe quais são as ferramentas para diminuir esse dano que tem sido causado na população, que é a vacina ou a taxa de isolamento”, afirmou. Segundo o último balanço da SES, divulgado na tarde de sábado, Goiás registrou 432.878 pessoas contaminadas e 9.537 mortes por coronavírus desde o início da pandemia. Foram 2.501 casos positivos e 65 mortes por coronavírus nas últimas 24 horas. Com o aumento no número de contaminados, a Prefeitura de Goiânia decretou, também no sábado, o fechamento do comércio não essencial por mais 14 dias no município, como forma de tentar com o avanço da pandemia.
Unidades devem continuar abertas
O Ministério Público de Goiás (MP-GO) recomendou aos hospitais particulares de Goiânia que mantenham as unidades de pronto-socorro em funcionamento. A recomendação foi assinada no último sábado (13), com a argumentação de que as unidades devem continuar atendendo por se tratar de um serviço essencial. Segundo o órgão, a medida foi tomada diante da constatação de que estabelecimentos de saúde fecharam suas unidades de pronto-atendimento sob o argumento de que não há leitos, por conta do aumento no número de internações decorrentes da pandemia de coronavírus. No entendimento dos promotores de Justiça Antônio de Pádua Rios e Susy Áurea Carvalho Pinheiro, responsáveis pela recomendação, a negativa de atendimento pode incorrer em crime. A recomendação do MP foi encaminhada para os hospitais Jacobi Facuri e Ruy Azeredo, ambos da rede privada. De acordo com o órgão, chegou ao conhecimento do MP que tais unidade fecharam seus prontos-socorros e, com isso, estariam “infringindo dispositivos da Constituição Federal e do Código Penal, além de normativas relacionadas à contenção da pandemia pelo coronavírus”. O G1 entrou em contato com os dois hospitais citados, por e-mail, no domingo, e aguarda retorno das unidades sobre a recomendação do MP.