Brasília (DF) - Ao frisar que a pandemia de coronavírus não é uma “gripezinha”, ministro apresentou cenários possíveis à doença no Brasil e advertiu Bolsonaro e outros ministros. “Estamos preparados para o pior cenário, com caminhões do Exército transportando corpos pelas ruas? Com transmissão ao vivo pela internet?”, questionou ministro. Durante uma reunião tensa de sábado (28/3), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, frisou a ministros e ao presidente Jair Bolsonaro que a pandemia de coronavírus não é uma “gripezinha” e lançou a eles um alerta: se morrerem mil pessoas, isso seria o correspondente à queda de quatro Boeings. Em seguida, os questionou: “Estamos preparados para o pior cenário, com caminhões do Exército transportando corpos pelas ruas? Com transmissão ao vivo pela internet?” A informação foi divulgada pela jornalista Eliane Cantanhêde no jornal O Estado de S.Paulo, segundo a qual Mandetta fez um apelo para o presidente criar “um ambiente favorável” a um pacto entre União, Estados, municípios e setor privado para todos agirem em conjunto, unificar as regras e medidas e seguir sempre critérios científicos. Brasil deveria fazer 'esforço de guerra' para manter as pessoas em casa, diz economista da Universidade de Chicago. Ele teria ainda sugerido, inclusive, a criação de uma central de equipamentos e pessoal, para possibilitar o remanejamento de leitos, respiradores e até médicos e enfermeiros de um Estado a outro, rapidamente, dependendo da demanda. Segundo a colunista do Estadão, o ministro também pediu ao presidente que não menosprezasse a gravidade da situação nas suas manifestações públicas e, por exemplo, não insistisse em ir a um metrô ou um ônibus em São Paulo, como chegou a aventar em entrevista coletiva. Nesse momento, Mandetta salientou que, se o presidente fizesse isso, seria obrigado a criticá-lo. Nesse caso, Bolsonaro rebateu que iria demiti-lo. O jornal apurou ainda que Mandetta também disse que ele e sua equipe não vão pedir demissão no meio da crise, embora estejam prontos a sair depois dela se for o caso. Ele, inclusive, se colocou à disposição para assumir a função de “bode expiatório”, em caso de fracasso, e se comprometeu a não capitalizar politicamente, em caso de sucesso. Finalizou que não tem ambições políticas nem reivindica nenhuma posição de destaque. À revista Época, semana passada, o general da reserva Maynard Santa Rosa, ex-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, afirmou que Bolsonaro se incomoda com ministros competentes, provavelmente, por alguma insegurança própria. “Cabia ao presidente apoiar o ministro Luiz Henrique Mandetta e ajudá-lo a reforçar, validar o que ele estava fazendo, e não se contrapor a ele”, criticou o general, na ocasião, sobre a atual crise.
“Freio de arrumação”
Apesar dos momentos mais tensos, ministros presentes disseram ao Estadão ter considerado que o resultado foi bom e que a reunião serviu como um “freio de arrumação”, até porque, de outro lado, todos, inclusive o próprio Mandetta, concordaram com a preocupação de Bolsonaro em preservar ao máximo a economia, o funcionamento dos transportes e da infraestrutura em geral. Além de Bolsonaro e Mandetta, estavam presentes os ministros Fernando Azevedo (Defesa), Sérgio Moro (Justiça), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria do Governo), Braga Neto (Casa Civil), Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e André Mendonça (AGU) e Antonio Barra Torres (Anvisa). Uma das pautas do encontro foi justamente o risco de uma enxurrada de ações na Justiça, com Estados, municípios e União questionando medidas uns dos outros. Esse, inclusive, foi tema da primeira reunião do sábado de Bolsonaro, que foi com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. Após a reunião com a equipe de governo e Bolsonaro, Mandetta e sua equipe concederam entrevista coletiva na qual reforçaram a necessidade do isolamento social para combate à pandemia. Conforme o Estadão, os presentes à reunião e que viram a entrevista coletiva afirmaram que, apesar de mais sutil, ou subliminar, ele basicamente repetiu o que disse no Palácio da Alvorada. Em ambas as situações, defendeu a uniformização das medidas de isolamento, disse que alguns setores realmente precisam funcionar e que o vírus não apenas mata pessoas como afeta todo o sistema de um país. Além disso, buscou por um freio na versão de que a hidroxicloroquina é uma “panaceia” e vai curar a doença a curto prazo. Ainda na coletiva, o ministro criticou as carreatas pela reabertura do comércio, atos defendidos por Bolsonaro, que chegou a compartilhar vídeos nas redes sociais. “Fazer movimento assimétrico de efeito manada... Daqui a duas semanas, três semanas, os que falam ‘vamos fazer carreata’, vão ser os mesmos que ficarão em casa. Não é hora”, advertiu Mandetta. Na última quinta-feira (26/3), na reunião de presidentes e primeiros-ministros do G-20, Bolsonaro falou com entusiasmo do uso do medicamento no combate ao coronavírus e dos prazos para a conclusão das pesquisas. O ministro da Saúde, entretanto, é bem mais cauteloso que o ex-capitão. “Estamos na pista, mas os estudos são muito incipientes”, disse o ministro. Segundo aliados de Mandetta no DEM e seus assessores na Saúde, ele não será desleal, não pedirá demissão e sempre repete que não abandonará o barco em meio à tempestade, ou seja, quando a pandemia começa a entrar na sua fase mais crítica. Seu esforço, nesse momento, seria para ajustar o tom com o presidente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, governadores e prefeitos.
Fonte: Yahoo Notícias / Poptvnews