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Desaparecimentos

Em 10 meses, desaparecimentos no DF cresceram 9% em relação a 2022

Números da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal consideram os 10 primeiros meses de 2022 e 2023. Especialista comenta dados

Arte/Metrópoles
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Para a polícia, uma pessoa é considerada desaparecida a partir de quando, por qualquer circunstância anormal, tenha o paradeiro desconhecido ou incerto

26 dezembro, 2023

Nos 10 primeiros meses de 2023, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) contabilizou 2.138 ocorrências de desaparecimento de pessoas. Os números, mais recentes publicados pela pasta, representam um aumento de 9,4% em relação ao verificado no mesmo intervalo de 2022. Em 22 de novembro, Marcos André, 12 anos, desapareceu após sair da instituição onde estava abrigado, em Taguatinga, para ir à escola. Na ocasião, o colégio comunicou que o garoto nem sequer havia entrado em sala na data em que sumiu. Seis dias depois (28/11), a criança foi encontrada perto da casa da mãe biológica, no Recanto das Emas. Marcos André vivia temporariamente em um abrigo para crianças cujas guardas haviam sido retiradas dos pais pelo Estado e foi localizado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Informações da mãe biológica e de agentes comunitários do Recanto das Emas levaram as equipes a encontrá-lo na região admnistrativa. À época, uma mulher de 41 anos, que pediu para não ter o nome divulgado, aguardava a autorização judicial para adotar Marcos André e acompanhou com apreensão as notícias sobre o desaparecimento do menino. Ao Metrópoles ela comentou acerca do sentimento de não saber o paradeiro de alguém conhecido. “Eu achei que seria rápido encontrá-lo. Com o passar dos dias e com as buscas sem resultado, minha angústia só aumentava. Foram dias sem conseguir dormir, sem parar de pensar nele. Eu me senti impotente”, lamentou a entrevistada, que não acabou sem conseguir completar o processo de adoção de Marcos André, por escolha da própria criança. Em 27 de novembro último, o policial penal de Goiás José Françualdo Leite Nobrega desapareceu. Visto pela última vez ao sair de Santo Antônio do Descoberto (GO), no Entorno do Distrito Federal, ele teria viajado para o Distrito Federal para buscar R$ 40 mil. Além disso, o servidor público havia comentado com parentes sobre estar apreensivo diante de ameaças da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) contra agentes penitenciários. Desde então, o policial segue desaparecido. A família dele oferece recompensa de R$ 50 mil para quem tiver informações a respeito do paradeiro dele ou dos responsáveis por sumir com José Françualdo. Para a polícia, uma pessoa é considerada desaparecida a partir de quando, por qualquer circunstância anormal, tenha o paradeiro desconhecido ou incerto. Além disso, há três categorias para esse tipo de situação: desaparecimentos forçados, praticados de forma criminosa, como caso de sequestros; voluntários, quando a pessoa “decide” sumir; e involuntários, como em casos de acidentes, quando as vítimas não são identificadas ou perdem a memória, por exemplo.

Dados
De janeiro a outubro de 2023, a SSP-DF registrou 189 desaparecimentos a mais do que o total verificado no mesmo período do ano anterior (1.949). Durante todo 2022, os casos chegaram a 2,4 mil. No ano passado, a faixa etária predominante entre os desaparecidos era de 31 a 50 anos, que correspondeu a 35% dos casos. Em relação ao sexo, 65% eram do homens, e 35%, mulheres.

Veja o perfil:

Percentual de pessoas desaparecidas, por idade e sexo, em 2022
Além disso, das 2,4 mil pessoas desaparecidas no período de 12 meses, 1.609 (67%) foram encontradas entre janeiro de 2022 e 26 de janeiro de 2023.

Prevenção
Para o professor Luciano Blasius, especialista em segurança pública, para entender o aumento no número de desaparecimentos em 2023, é preciso analisar a realidade em que cada caso acontece. O especialista acrescentou que a questão socioeconômica não é o principal fator a influenciar o perfil de quem desaparece, mas o grau de vulnerabilidade em que a pessoa se encontra. “A prevenção é sempre o melhor caminho a se adotar”, enfatizou Luciano. “Para casos de desaparecimentos voluntários, é necessário fortalecer a relação entre a família ou os responsáveis [pela pessoa], se for o caso. E, para prevenir desaparecimentos involuntários, é importante sempre ter consigo algum documento de identificação, além de contatos de emergência à disposição”, orientou. O especialista lembrou que não há tempo mínimo a se esperar para registrar o desaparecimento de alguém. O professor incentivou, inclusive, que todos busquem as autoridades o mais rápido possível, caso isso aconteça, e também as informem quando a pessoa for encontrada.