Por Marco Grillo e Thiago Prado
Brasília (DF) - Acusado em processos judiciais de transferir bens a terceiros para não pagar dívidas com credores, o senador Romário (Pode-RJ) passou a colocar o próprio advogado como dono de parte de seu patrimônio. Luiz Sérgio de Vasconcelos Júnior, que entre 2017 e 2019 foi funcionário comissionado no Senado, foi autorizado, por meio de documentos firmados em cartório, a receber R$ 22 milhões em verbas que seriam de direito do ex-jogador. Ao longo das últimas duas décadas, Romário vem sendo cobrado na Justiça por uma série de dívidas milionárias. Empresas e pessoas físicas que cobram o senador na Justiça costumam ter dificuldades de encontrar patrimônio em seu nome. Há dois anos, o EXTRA revelou que Romário havia transferido para a própria irmã, Zoraidi Faria, bens como uma lancha, um Porsche e uma casa na Barra da Tijuca. Nos últimos meses, o advogado Luiz Sérgio de Vasconcelos Júnior passou a ter direito sobre o patrimônio do senador a partir de dois movimentos. O primeiro deles diz respeito a um acordo com o Vasco, para o recebimento de R$ 15,1 milhões de dívidas da época em que Romário atuou no clube. Em 2018, uma construtora que cobra o senador na Justiça devido a um litígio referente ao antigo Café do Gol (restaurante aberto nos anos 1990 por Romário) conseguiu penhorar o valor, pago em parcelas mensais.
Briga com o Vasco
Em janeiro de 2019, o clube interrompeu os pagamentos, e o senador sequer se manifestou na ação. Em seguida, Romário transferiu a Luiz Sérgio os direitos aos R$ 15,1 milhões, a título de honorários, por meio de um acordo em cartório. A partir daí, o advogado acionou o Vasco, e uma nova tratativa foi finalizada. O documento já deu o direito a Vasconcelos de receber uma parcela de R$ 1,8 milhão, em dezembro de 2019, além de pagamentos mensais de R$ 200 mil. O segundo movimento deu-se na briga com a mesma empresa que cobra a dívida dos tempos do Café do Gol. Uma decisão judicial de 2001 estabeleceu uma multa para Romário. Como o montante não foi quitado, foi se acumulando, mas, no ano passado, ele conseguiu reduzir o valor na Justiça. Como diz já ter quitado mais do que o necessário, a partir de penhoras, Romário considera-se no direito de requerer R$ 6,9 milhões de volta e passou os direitos para seu advogado. O valor das multas, porém, corresponde a apenas uma parte do débito com a construtora. A empresa considera que o excedente das multas deve ser subtraído da dívida total e entrou com uma queixa-crime, acusando Romário e o advogado de fraude processual, por transformarem em crédito uma dívida. Entre maio de 2016 e julho de 2017, o mesmo advogado retirou do tribunal os autos de um dos processos em que Romário é cobrado por credores. Os documentos só foram devolvidos depois do cumprimento de um mandado de busca e apreensão. Questionado se há algum acordo firmado com Romário para repassar ao senador os valores que já recebeu ou venha a receber, o advogado afirmou que a reportagem cria “situações permeadas de falácias” e que não “deve nenhuma satisfação” aos repórteres. Romário foi procurado via assessoria de imprensa, mas não se manifestou.
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