Fortaleza (CE) - O Ceará registrou 51 assassinatos em 48 horas – mais de 1 por hora – em meio ao motim de policiais e bombeiros militares por aumento salarial. A paralisação começou na noite de terça-feira (18). Até então, a média de homicídios no estado em 2020 era de 6 por dia. As 51 mortes ocorreram entre 0h de quarta-feira (19) até 23h59 de quinta (20/2).
Atualização
Inicialmente, o governo do Ceará informou que as mortes ocorreram das 6 horas de quarta às 6 horas de sexta. Mais tarde, porém, disse que elas ocorreram das 0h de quarta às 23h59 de quinta. A reportagem foi atualizada às 11h52 de domingo, 23). Uma delas ocorreu nesta madrugada no bairro Vicente Pinzón, em Fortaleza, onde um adolescente de 16 anos foi atacado por 7 homens que estavam em motocicletas. Outra, no Bairro José Walter, onde ocorreu um tiroteio que deixou 1 morto e 1 ferido. Na noite de quarta, a dona de casa Maria de Paula Moura foi assassinada na frente da mãe e dos filhos numa tentativa de assalto na capital.
Batalhões ocupados
Os PMs têm cruzado os braços para pressionar por aumento salarial. O movimento também tem fechado batalhões – nesta sexta, ao menos 9 dos 43 estão ocupados pelos manifestantes – e atacado carros oficiais, que têm os pneus esvaziados para não poderem ser utilizadas. Em um desses batalhões, o senador licenciado Cid Gomes foi baleado ao jogar uma retroescavadeira contra o portão que era mantido fechado pelos encapuzados. Ele não corre risco de morte. A proposta do governo é aumentar o salário de um soldado da PM dos atuais R$ 3,2 mil para R$ 4,5 mil, em aumentos progressivos até 2022. O grupo de policiais que realiza as manifestações reivindica que o aumento para R$ 4,5 mil seja implementado já neste ano. Na noite de quinta-feira (21/2), houve um encontro entre representantes dos policiais que participam do motim e uma comissão de senadores para por fim à paralisação. Mas, não houve acordo. Um dos pontos discutidos foi a anistia aos integrantes do movimento, mas o governo do Ceará diz esse ponto é inegociável. A Constituição proíbe greve de agentes de segurança, como policiais militares, policiais civis, bombeiros e agentes penitenciários. Em 2017, o Supremo Tribunal Federal (STF) reiterou o veto. A maioria dos ministros entendeu que, por se tratar de um braço armado do Estado, a polícia não pode fazer paralisação porque isso prejudica e afeta toda a sociedade. A decisão teve repercussão geral, ou seja, vale para todos os casos de greve de polícias que cheguem a qualquer instância da Justiça. Nesta sexta-feira, o Solidariedade anunciou a expulsão do vereador Sargento Ailton, de Sobral, apontado como um dos coordenadores do movimento. "Nós não trabalhamos com militância do terror que causam a depredação do patrimônio de pessoas e não podemos aceitar que policiais e agentes públicos, encapuzados e armados como milicianos, levem o terrorismo às ruas", diz a nota.
Exército e Força Nacional atuam no Estado
Por conta do motim, o estado pediu ajuda ao governo federal, e recebeu reforço de tropas do Exército e de 300 agentes da Força Nacional, que já começaram a operar. As tropas do Exército que farão o patrulhamento serão formadas por militares de Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, e vão atuar de forma prioritária na capital e cidades da Região Metropolitana. No interior, as forças serão empregadas conforme a demanda. O número de militares não foi informado.
Resumo
5 de dezembro
Policiais e bombeiros militares organizaram um ato reivindicando melhoria salarial. Por lei, policiais militares são proibidos de fazer greve.
31 de janeiro
O governo anunciou um pacote de reajuste para soldados
6 de fevereiro
Data em que a proposta seria levada à Assembleia Legislativa do estado, policiais e bombeiros promoveram uma manifestação pedindo aumento superior ao sugerido.
13 de fevereiro
O governo elevou a proposta de reajuste e anunciou acordo com os agentes de segurança. Um grupo dissidente, no entanto, ficou insatisfeito com o pacote oferecido.
14 de fevereiro
O Ministério Público do Ceará (MPCE) recomendou ao comando da Polícia Militar do Ceará que impedisse agentes de promover manifestações.
17 de fevereiro
Justiça manteve a decisão sobre possibilidade de prisão de policiais em caso de manifestações.
18 de fevereiro
Três policiais foram presos em Fortaleza por cercar um veículo da PM e esvaziar os pneus. À noite, homens murcharam pneus de veículos de um batalhão na Região Metropolitana.
19 Fevereiro
Batalhões da Polícia Militar do Ceará foram atacados. O senador Cid Gomes foi baleado em um protesto de policiais amotinados.
20 de fevereiro
Policiais recusaram encerrar o motim após ouvirem as condições propostas pelo Governo do Ceará para chegar a um acordo.
21 de fevereiro
Tropas do Exército começam a atuar nas ruas do Ceará.
Fonte: G1 Ceará / Poptvnews