O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Argentina Javier Milei , trocaram cumprimentos formais e frios nesta segunda-feira (18/11), durante a chegada ao G20 no Rio de Janeiro . A ação chamou a atenção dos internautas e reflete um histórico de polêmicas entre os dois líderes das principais economias da América Latina. Ao contrário do clima amistoso que marcou as interações de Lula com outros líderes, como o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente da França, Emmanuel Macron, o momento entre os dois presidentes foi distante. Milei, que segurava uma pasta, evitou qualquer tipo de contato físico com Lula, mantendo uma postura séria, o que contrastou com o comportamento mais caloroso com outros governantes.
Veja:
Milei pode ser "pedra no sapato" de Lula. Isso porque o presidente visa conseguir protagonismo na cerimônia, fazendo com que o texto final do encontro aborde o combate à questão climática e à fome, porém Milei é contrário aos temas.
Os dois têm um histórico de conflitos públicos. Relembre as polêmicas:
Outubro de 2023 – As primeiras acusações de Milei
Enquanto ainda era candidato à presidência da Argentina, Javier Milei chamou Lula de "comunista furioso" e acusou o presidente brasileiro de tomar "ações diretas contra a sua candidatura". Esse foi um dos primeiros episódios públicos de tensão entre os dois, que se intensificaria nos meses seguintes. Do lado brasileiro, durante as eleições na Argentina, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a vitória do candidato preocupava o Brasil. "É natural que eu esteja (preocupado). Uma pessoa que tem como uma bandeira romper com o Brasil, uma relação construída ao longo de séculos, preocupa. É natural isso. Preocuparia qualquer um. Porque em geral, nas relações internacionais, você não ideologiza a relação", afirmou Haddad em entrevista à agência Reuters publicada nesta quinta-feira (19/11).
Novembro de 2023 – Acusações de interferência nas eleições argentinas
No segundo turno das eleições presidenciais na Argentina, Milei voltou a atacar Lula, desta vez sem apresentar provas, acusando-o de financiar a campanha de seu adversário Sergio Massa. Milei alegou que o presidente brasileiro estava interferindo diretamente na eleição argentina. Ele também chamou Lula de "corrupto" e "comunista". Por sua vez, Lula também fez declarações contundentes, dizendo que a Argentina precisava eleger um presidente que "goste de democracia" – um claro ataque a Milei, mas sem nomeá-lo.
Fevereiro de 2024 – Ações em apoio a Bolsonaro
Em fevereiro de 2024, Milei compartilhou em suas redes sociais publicações de apoio a Jair Bolsonaro e críticas a Lula. Um dia após um ato em São Paulo de apoio ao ex-presidente brasileiro, Milei reforçou seu apoio ao ex-presidente de extrema-direita, intensificando a fricção com o governo de Lula.
Março de 2024 – Lula cita Milei em discurso sobre democracia
Em março de 2024, em Porto Alegre, durante um evento político, Lula afirmou que a democracia no Brasil e em outros países estava em risco, citando especificamente Javier Milei e o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro. Em relação a Milei, Lula disse: "Quem é contra o sistema hoje, que critica tudo, é o Milei na Argentina, até o Banco Central ele quer fechar, cortar tudo com o serrote." Essa declaração de Lula reforçou a polarização entre ele e Milei, principalmente em questões econômicas e políticas.
Abril de 2024 – Tentativa de reaproximação de Milei
Em abril de 2024, Milei fez uma tentativa de reaproximação diplomática ao enviar uma carta ao presidente Lula. Nessa carta, o argentino defendia a importância de um bom relacionamento entre os dois países. No entanto, Lula manifestou seu desagrado em relação ao conteúdo da carta, que chegou ao petista uma semana depois, e afirmou que não estava disposto a dar o primeiro passo em direção à reconciliação.
Junho de 2024 – Lula pede desculpas de Milei
Em junho de 2024, Lula comentou em entrevista ao UOL que Milei deveria pedir desculpas a ele e ao Brasil pelos ataques feitos ao longo da campanha. "Ele falou muita bobagem. Só quero que ele peça desculpas," afirmou o presidente brasileiro, reiterando sua insatisfação com o comportamento do argentino. No entanto, dois dias depois, Milei rejeitou o pedido de desculpas e acusou Lula de ser "corrupto". Ele afirmou: "Qual é o problema? É porque o chamei de corrupto? Por acaso não foi preso por corrupção?".
Julho de 2024 – Novo ataque de Milei
Em julho de 2024, Milei fez mais uma provocação direta a Lula, chamando-o de "o perfeito dinossauro idiota" em uma publicação no X (antigo Twitter). Milei voltou a acusar o presidente brasileiro de interferir nas eleições argentinas e de fazer "tudo errado". Diante dessa nova onda de ataques, Lula cancelou uma viagem a Itajaí, em Santa Catarina, após saber que Milei confirmara presença em um evento em que Bolsonaro também participaria, o Conservative Political Action Conference (CPAC). Essa decisão foi vista como uma resposta direta à provocação de Milei, que se tornou um dos principais aliados de Bolsonaro.
Agosto de 2024 – Continuação das críticas públicas
A tensão entre os dois líderes continuou a crescer. Milei seguiu suas críticas públicas a Lula, enquanto o presidente brasileiro também fez questão de se referir a Milei de maneira crítica. Esses episódios de troca de ataques públicos continuaram a afetar o relacionamento entre Brasil e Argentina, principalmente em um contexto de discussões diplomáticas mais amplas.
Milei dificulta negociações do texto final do G20
O presidente Javier Milei se coloca como uma espécie de porta-voz da agenda internacional do soberanismo no grupo, erguendo bandeiras como a luta contra o "globalismo" e as organizações multilaterais e contrariando as principais iniciativas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Embora as conversas tenham avançado, a Argentina tem bloqueado o acordo em três questões chave: gênero, taxação de super-ricos e a Agenda 2030 da ONU — um conjunto de metas internacionais para o desenvolvimento sustentável. A informação é do portal "UOL". Historicamente, a Argentina não se opunha a esses temas. No entanto, o presidente Javier Milei tem alterado a postura do país, especialmente em relação a questões globais. Milei, que se declara "antiglobalista", adota um discurso crítico a organizações multilaterais e à ordem mundial estabelecida após a Segunda Guerra Mundial, considerando-a uma ameaça à soberania nacional e uma limitação à ação do Estado. Esse movimento é alinhado com a ideologia de Donald Trump, que defende um distanciamento das políticas globais e uma maior ênfase no nacionalismo. Sob a liderança de Milei, a Argentina já recusou assinar dois importantes documentos do G20: um sobre igualdade de gênero e outro sobre desenvolvimento sustentável. Nesta segunda, o país foi o último a assinar o documento da Aliança Global de Combate à Fome, após ameaçar não concordar com o texto.