Segunda-feira, 25 de
Novembro de 2024
Brasil

Economia

Lula não consegue se controlar quando o assunto é gasto público

O presidente afirmou que precisa “estar convencido” de que “há necessidade ou não de cortar” gastos públicos

EVARISTO SA
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Presidente Luiz Inácio Lula da Silva

18 julho, 2024

No filme “Ligações Perigosas”, o Visconde de Valmont (John Malkovich) vai terminar sua relação amorosa com Madame de Tourvel (Michelle Pfeiffer) e diz que ele se sente entediado com o caso. “It’s beyond my control”, afirma (“Está além do meu controle”). Essa frase é repetida por mais outras oito vezes na cena do rompimento, pois Valmont sabe que está fazendo algo errado – mas vai em frente, pois não tem como controlar a própria natureza. Essa cena  veio à cabeça  de vários eleitores brasileiros, após ver que novamente o presidente  Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu mais uma declaração para incomodar investidores e empresários. Depois de acalmar o mercado financeiro e se reunir com o ministro Fernando Haddad, avalizando um corte de gastos para demonstrar responsabilidade fiscal, Lula aparentemente voltou atrás. O presidente afirmou que precisa “estar convencido” de que “há necessidade ou não de cortar” gastos públicos. Frases soltas, que podem ser interpretadas de uma forma errônea, têm sido proferidas pelo mandatário em sua longa sequência de entrevistas, que dura quase um mês. Uma quantidade significativa de pessoas já disse a Lula para que ele maneirasse nesse tipo de declaração, que tem o poder de turbinar o dólar. O presidente disse a estes interlocutores, a contragosto, que iria se comportar – mas logo depois soltou afirmações infelizes em outro colóquio com jornalistas. É como se esse comportamento estivesse além do autocontrole do presidente. Exatamente como o personagem de Malkovich em “Ligações Perigosas”. Entre 2018 e 2022, tivemos um presidente que falava além da conta e brigava até com aliados políticos em praça pública. Mesmo assim, a verborragia de Jair Bolsonaro não tinha tantos efeitos na cotação da moeda americana. Com Lula, porém, há um temor claro de que o governo promova um descontrole nas contas públicas. Neste caso, qual seria o dever do presidente? Botar panos quentes e tentar acalmar os agentes do mercado. Infelizmente, ele vem fazendo o contrário – e se forma serial. Em todas as entrevistas que deu até agora, fez questão de soltar alguns comentários que atormentaram os investidores. Se esse fosse um exercício de sadismo sem maiores consequências macroeconômicas, estaríamos diante de um comportamento excêntrico, que poderia ser enxergado com humor. Ocorre que essas declarações desastradas promovem disparadas na cotação do dólar, que interfere diretamente na composição dos índices inflacionários. E, se existir um temor pelo repique inflacionário, os juros não poderão ser diminuídos. Ou seja, um verdadeiro tiro no pé da atual administração e um verdadeiro pesadelo para o  ministro Haddad. Lula sabe disso tudo, pois já foi alertado por várias pessoas. Mas, pelo jeito, essa compulsão pela tagarelice esteja acima do autocontrole do presidente. Talvez para ele seja mais importante jogar para a torcida do que fazer a coisa certa e deixar a moeda americana estacionada em um patamar razoável. Durante a entrevista dessa semana, Lula deu uma pista sobre a origem de suas parolagens. Ao ser perguntado se havia pessoas na sua equipe que poderiam aconselhá-lo e alertá-los sobre questões do governo, ele disse o seguinte: “A Janja é uma pessoa que diz não para mim muitas vezes. Ela quer discutir economia, quer discutir política de direitos humanos, política de gênero, política de igualdade. Tudo ela quer discutir e eu acho maravilhoso”, afirmou  sem pestanejar,  o presidente Lula.