Há um ano, com a chegada da pandemia, o País parou. As famílias de renda média e alta, que puderam ficaram em casa, usar o comércio eletrônico e as entregas em domicílio dos restaurantes, também mudaram suas combinações com as empregadas domésticas. Destaque nas ocupações que não podem ser exercidas remotamente, as domésticas estão entre os trabalhadores mais atingidos pela crise. Ano passado, 1,2 milhão de pessoas perderam o emprego nessa atividade, 16% do total de vagas fechadas, entre formais e informais, segundo o IBGE. A adaptação à pandemia passou por vários arranjos. Houve famílias que seguiram pagando salários normalmente, mesmo sem os serviços prestados. Nas relações formais, com carteira assinada, foi possível dar férias, suspender contratos e reduzir jornadas. Nas relações sem carteira, incluindo diaristas e as domésticas mensalistas em situação ilegal, foi mais difícil ficar apenas na redução do salário. Em todos os casos, não faltaram demissões. A piora da pandemia agrava o quadro. O Sindoméstica, sindicato das domésticas do Rio, percebeu aumento das demissões formais neste início de ano. Foi o que aconteceu com Eliana Maria de Moura, de 36 anos, demitida em meados do mês passado, após quase um ano de isolamento, passando a maior parte do tempo em casa. No fim do ano, passou pelo trauma de perder a mãe, vítima da covid-19. "Graças a Deus meus patrões seguraram por quase um ano. Sou muito grata a eles", diz Eliana, que recebeu o salário integral de R$ 1,4 mil o tempo todo, mesmo reduzindo a jornada. Durante a pandemia, ela ia trabalhar uma vez por semana, ou a cada quinzena. Na demissão, os patrões alegaram que não estavam conseguindo manter o pagamento, conta Eliana. Segundo Luana Pinheiro, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a piora da pandemia e o aperto na renda das famílias que contratam os serviços dificultam a retomada das vagas perdidas. Isso num quadro de rendimentos em queda, pois "as domésticas que trabalhavam em faxina cinco ou seis dias na semana passaram a ter um ou dois dias". A economista Hildete Pereira de Melo, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), lembra que a crise poderá "empurrar" mais mulheres para o trabalho doméstico. Muitas vezes, o serviço serve como "bico" ou última opção quando elas perdem o emprego em outras atividades.