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Novembro de 2024
Brasil

Começou a vacinação

Brasil inicia vacinação; enfermeira negra em SP é a primeira vacinada

João Doria, governador de São Paulo, se emocionou e esteve ao lado dela na hora da aplicação.

Foto: Divulgação
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Mônica Calazans, de 54 anos é negra e enfermeira do Hospital Emilio Ribas

17 janeiro, 2021


São Paulo (SP) - No Hospital das Clínicas, em São Paulo, começou a vacinação no Brasil. Trata-se de Mônica Calazans, de 54 anos. Ela é mulher, negra e enfermeira do Hospital Emilio Ribas. João Doria, governador de São Paulo, se emocionou e esteve ao lado dela na hora da aplicação. Ela receberá a CoronaVac, vacina produzida pelo Instituto Butantan, em ato simbólico. Enfermeira do hospital Emílio Ribas, Mônica é integrante do grupo de risco da covid-19, ela é obesa, hipertensa e diabética. Mônica mora em Itaquera, na zona leste da capital paulista, e trabalha na UTI em dias alternados, em escalas de 12 horas. O setor tem 60 leitos exclusivos para pacientes de Covid-19. A enfermeira trabalhou como auxiliar de enfermagem por 26 anos e decidiu fazer faculdade numa fase já madura, se formando aos 47 anos.

O que é a CoronaVac?

A CoronaVac é uma vacina contra a Covid-19 que funciona a partir da utilização de vírus expostos a uma técnica que os coloca em exposição ao calor e produtos químicos para que eles não sejam capazes de evoluir. Não existe presença do vírus Sars-Cov-2 vivo na solução e, por isso, os riscos desse tipo de imunizante são menores. Este dado não havia sido revelado até então. Na prática, ele significa que quem for imunizado tem 50,38% de chance de não ser infectado pela Covid-19. O índice mínimo recomendado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para aprovação é 50%. A taxa de eficácia representa a proporção de redução de casos entre o grupo vacinado comparado com o grupo não vacinado. Para o Butantan obter esse dado, foi preciso analisar o número de casos entre os voluntários que receberam a CoronaVac e comparar com o número de infectados no grupo que recebeu um placebo — uma substância salina sem efeito no organismo.

Por que a eficácia da CoronaVac foi menor no Brasil do que em outros países?

Esse ponto foi fortemente comentado pelos diretores do Butantan durante a coletiva. Testada também em outros países além do Brasil, a CoronaVac apresentou uma eficácia global de 91,25% na Turquia, e de 65,3% na Indonésia. A explicação para a diferença, segundo o Butantan, está no grupo selecionado para servir como voluntários. No Brasil, apenas profissionais de saúde puderam se inscrever para os testes da CoronaVac, tanto para o grupo do placebo quanto para o da vacina. Na coletiva, Palacios explicou que a seleção dos profissionais de saúde foi proposital visto que essa população está muito mais exposta ao vírus do que outras pessoas no geral. “O teste não é a vida real exatamente. É um teste artificial, no qual selecionamos dentro das populações possíveis, selecionamos aquela população que a vacina poderia ser testada com a barra mais alta”, afirmou Palacios. “Fizemos deliberadamente para colocar o teste mais difícil para essa vacina, porque se a vacina resistir a esse teste, iria se comportar infinitamente melhor em níveis comunitários”, completou. O presidente do Butantan, Dimas Covas, estima que a chance de infecção nos profissionais de saúde chega a ser 5 vezes maior do que em outras classes. Portanto, quanto mais exposta à Covid-19 está a população, mais ela tem chance de ser contaminada e, consequentemente, menor será o percentual da eficácia do teste. Outro ponto destacado por Covas na coletiva foi o parâmetro adotado pelo Butantan para considerar a definição de caso positivo de Covid-19. Os voluntários que apresentassem os seguintes sintomas por 2 dias ou mais eram selecionados para fazer o teste de RT-PCR: Febre ou calafrios; tosse; falta de ar; fadiga; dor muscular; dor de cabeça; perda do olfato e paladar; dor de garganta; coriza; náusea; ou diarreia Na avaliação de Dimas Covas, o mesmo critério para submeter o voluntário ao teste não foi adotado por outros estudos clínicos.

Como comparar a eficácia da CoronaVac com as outras vacinas?

O anúncio de um percentual pouco acima dos 50% mínimos pode levantar uma desconfiança quanto à segurança e eficácia da CoronaVac na comparação com as demais vacinas pelo mundo. Os pesquisadores alertam, no entanto, para a imprecisão que se obtém ao comparar dois estudos diferentes. “A gente quer comparar os diferentes estudos, mas é o mesmo que comparar uma pessoa que faz uma corrida de 1km em um trecho plano e uma pessoa que faz uma corrida de 1 km em um trecho íngreme e cheio de obstáculos”, relatou Palacios, diretor do Butantan. Os 50,38% são abaixo dos dados acima de 90% de eficácia divulgados, por exemplo, pelas vacinas que utilizam a nova tecnologia de RNA, na qual material genético é usado para levar proteína estimulante do sistema imune ao paciente. Contudo, a “lupa” também parece ser maior no estudo do Butantan, enquanto os demais testes também apresentaram dados que estão sendo contestados. No caso da vacina da Pfizer-BioNTech, com 95% de eficácia geral, houve 162 infectados com Covid-19 entre quem tomou placebo e apenas 8 entre vacinados, entre 44 mil voluntários. Só que o relatório da FDA, agência reguladora dos Estados Unidos, aponta a exclusão de 3.410 pessoas que sofreram sintomas de Covid-19, mas não foram testados. Desses casos suspeitos, 1.594 faziam parte do grupo vacinado e 1.816, do que recebeu placebo. A discrepância foi ressaltada em postagem de Peter Doshi, editor associado do prestigioso British Medical Journal. A diferença entre as duas publicações é que a Pfizer fez uma exposição detalhada de seus dados, enquanto o Butantan alega que é preciso esperar a análise da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para tornar público um relatório com mais de 10 mil páginas.

CoronaVac: quantas doses serão produzidas para o Brasil?

Não se tem um número preciso de quantas doses da CoronaVac estarão disponíveis para o Brasil. Em setembro de 2020, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que receberia 46 milhões de doses após pagamento de US$ 90 milhões. O número não é preciso, no entanto, porque não se sabe se o acordo citado pelo governador paulista envolve ou não os R$ 85 milhões que o governo de São Paulo afirmou, em junho de 2020, ter pago ao laboratório. Os dois acordos não foram divulgados na íntegra para a imprensa e o grande público.