Jair Bolsonaro, vamos ser francos, jamais primou pela coragem. O exemplo mais aparente talvez seja a rendição bajuladora ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Em 7 de setembro de 2021, na Avenida Paulista em São Paulo, diante de uma multidão de fanáticos, o “mito” mandou ver: “Dizer a vocês, que qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou, ele tem tempo ainda de pedir o seu boné e ir cuidar da sua vida. Ele, para nós, não existe mais“. Obviamente, a turba golpista foi ao delírio com a bravata presidencial. Dois dias depois, contudo, sob temor de um processo criminal por desobediência civil – e até mesmo uma ínfima possibilidade prisão -, ou mesmo a abertura de um processo de impeachment por crime de responsabilidade, o valente, após procurar Michel Temer, recuou, ligou para Xandão se desculpando e se retratou em carta: “Quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visam o bem comum. Nunca tive intenção de agredir quaisquer dos poderes. Em que pesem suas qualidades como jurista e professor, existem naturais divergências em algumas decisões do Ministro Alexandre de Moraes”.
Réu confesso?
Após a deflagração da Operação Contragolpe pela Polícia Federal, que não apenas prendeu potenciais golpistas e homicidas, mas desnudou e apresentou de forma estonteante e pormenorizada – com provas! – as entranhas do golpismo bolsonarista, principalmente a partir das eleições de 2022, o cerco ao ex-presidente se fechou de vez. Acuado, sob os testemunhos dos ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica, uma infinidade de provas materiais incontestáveis e a delação premiada de seu ex-Ajudante de Ordens, coronel Mauro Cid, tudo no sentido inconteste de sua participação direta na trama golpista, sentindo o cheiro da cadeia penetrar por cada célula olfativa, Bolsonaro confessou. Em entrevista à revista Oeste, na quinta-feira, 28, o “imbrochável, incomível e imorrível” revelou que tratou, sim, de temas como estado de sítio, GLO (Garantia da Lei e da ordem) e o famigerado artigo 142, após ter perdido as eleições presidenciais para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em outubro de 2022.
Golpe constitucional
Ele alega que tudo se deu “Dentro das quatro linhas” da Constituição, mas obviamente está equivocado. Nenhum destes instrumentos servem à uma derrota eleitoral, não à toa o general Freire Gomes tê-lo ameaçado com voz de prisão caso insistisse no assunto. Jair Bolsonaro é dos que propagandeiam uma espécie de golpe de Estado constitucional. Na mesma entrevista, afirmou que poderá se refugiar em uma embaixada qualquer para evitar ser preso. Por ordem de Xandão, Bolsonaro está com o passaporte retido e, portanto, não pode deixar o país. Os requisitos para a decretação de uma prisão preventiva estão previstos no artigo 312 do Código de Processo Penal (CPP). Dentre eles está: Garantia da futura aplicação da lei penal: Baseia-se na existência de indícios de que o acusado está prestes a se evadir ou de que já fugiu para furtar-se ao cumprimento da pena em caso de condenação. Bem, se Bolsonaro não acabou de dar razão para uma tranca (ainda) preventiva, ou não sei ler ou não sei interpretar um texto tão simples e direto.
Dólar nas alturas
Com o dólar de Lula na casa dos seis reais e sem seu passaporte, será impossível ao patriarca do clã das rachadinhas e das mansões milionárias passar uma nova temporada junto ao Mickey e ao Pateta na Disney. Dando dica do que pretende fazer para não restar submetido – como é mesmo? – às “quatro linhas”, Bolsonaro se encalacrou de vez. O tempo do “Não vou cumprir ordens” e do “Acabou, porra” já não existe mais e o “capitão”, agora, passou a humilhantemente implorar por anistia: “Eu apelo aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), eu apelo. Por favor, repensem, vamos partir para uma anistia, vai ser pacificado“. Pô, mito, “vai ficar chorando até quando”? A fala acima ocorreu em meio à pandemia do coronavírus, em 2020 e 2021, quando o então presidente do Brasil debochava e tripudiava dos familiares e amigos das vítimas fatais. Acabo de me lembrar de outra: “Se morrer, morreu”. Pois é. Que tal “se prender, prendeu”? Jair Bolsonaro dará muitos motivos para seus desafetos ouvirem “Vou Festejar”, de Beth de Carvalho.