Segunda-feira, 25 de
Novembro de 2024
Brasil

Rivalidade

A Guerra Santa entre Lula e Bolsonaro

Uma Luta propagada pelos dois atores políticos principais: Lula e Bolsonaro

Foto: REUTERS/Adriano Machado and Ueslei Marcelino
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Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL)

12 outubro, 2022

Impossível não falar de religião nessa eleição. A fronteira com a política se dissolveu completamente. Profano e sagrado, objetivo e subjetivo, público e privado foram se perdendo com o passar do tempo e se intercalando de um jeito que não é mais possível voltarmos ao estado natural das coisas. A religião deveria estar relacionada à esfera privada bem como a expressão dos valores das pessoas. A partir daí pensávamos também que haveria a neutralidade do Estado nesse assunto. Mas tudo se embolou. Nos anos 80 assistimos um crescimento dos pentecostais e carismáticos e um aumento de outras expressões individuais onde há, claramente, um deslocamento de fronteiras até mesmo uma anulação delas. A experiência religiosa como algo íntimo e pessoal, se tornou pública. Até mesmo, midiatizada. A verdade é que esse entrelaçamento dos dois campos sempre existiu. É que ela existia de outras maneiras. O ponto é que não conseguimos mais, nem por decreto, manter a neutralidade dos políticos em relação a isso. Essa linha tênue foi cruzada e estamos há quilômetros de retornarmos para ela. É um reflexo da nossa sociedade e, garanto, dificilmente voltaremos atrás. Uma sociedade que vê na intervenção do Estado a alternativa por uma busca na resolução de impasses, como por exemplo, o direito das mulheres. O Estado precisa entrar em campo para garantir pontos que a religião consegue. Da mesma forma acontece com as religiões. A disputa por espaços unânimes faz com que a mão firme do Estado haja para que todos tenham a mesma visibilidade. É uma consequência mundial. Essas questões assumiram espaços subjetivos que pedem uma ação política. E, como aqui é Brasil, os políticos se aproveitaram dessa flexibilização de fronteiras. Some-se a isso a necessidade das Igrejas irem à público mantendo interlocução com atores sociais temos o cenário perfeito para o imbricamento. Mas a interlocução por sua vez é necessária porque o Estado não cumpre seu papel em representar atores minoritários da sociedade. Um retroalimenta o outro. E o que vemos é uma defesa da sociedade por um lado mas também um retrocesso quando essas atitudes promovem intolerância e violência. Infelizmente, em muitos casos, violência física. E aí entra a mudança na própria definição do que seja política e religião. A religião cresce com a apatia que a política provoca nas pessoas e a política entra cada vez mais num aspecto que até então era privado pela própria instrumentalização de processos cognitivos, como o medo. Cenário perfeito para as eleições de 2022 onde um candidato vem das Comunidades Eclesiais de Base e outro da Bancada Evangélica, vejam isso. A Igreja tem nome no Congresso Nacional. É impossível com esse cenário o religioso e o político não se desterritorializarem e estarem presentes em todas as esferas das nossas vidas. O pluralismo na sociedade que deveria fazer com que emergisse uma variada gama de visões do bem faz, no nosso país, com que entremos numa luta do bem contra o mal. Uma luta propagada pelos dois atores políticos principais: Lula e Bolsonaro. O justo e o razoável dão lugar à uma guerra onde o objetivo não é construir um consenso, mas domar uma sociedade fragilizada e cansada do cinismo dos políticos. Nessa luta travada pelos detentores do poder, só um deles sai ganhando. A nós resta seguir procurando significados que justifiquem o abatimento que caiu sobre todos. Esperamos o resultado dessa Guerra Santa deitados sobre ruínas de uma batalha em que somos apenas marionetes.