A sucessão de episódios negativos envolvendo pessoas próximas de Jair Bolsonaro e a inclusão de seu nome no inquérito que apura os ataques às sedes dos Três Poderes ampliam o isolamento do ex-presidente, de acordo com aliados dele. Antigos auxiliares relatam abatimento do ex-chefe, que está na Flórida, nos Estados Unidos, desde o dia 30 de dezembro. De acordo com esses personagens, Bolsonaro anda recluso e diminuiu até mesmo os contatos por WhatsApp, seu aplicativo preferido e de uso mais recorrente. Além disso, segundo eles, o ex-presidente mudou de número de telefone recentemente e não enviou o novo a pessoas com quem mantinha contato permanente. A entrada no rol de investigados foi determinada nesta sexta-feira pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acolhendo um pedido da Procuradoria-geral da República (PGR). Bolsonaro entrou na mira dos investigadores ao compartilhar um vídeo que ataca o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e questiona a legitimidade da vitória eleitoral do petista. Horas depois, a postagem foi apagada. A decisão que alçou Bolsonaro à condição de suspeito, porém, foi a segunda má notícia que ele recebeu em menos de 24 horas. Na quinta, veio a público que a Polícia Federal encontrou na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres o esboço de um decreto que permitiria ao ex-presidente fazer uma intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além disso, suspenderia os poderes de ministros da Corte e instalaria uma comissão para rever o resultado da eleição do ano passado, da qual o ex-presidente saiu derrotado Na avaliação de ex-integrantes do governo passado, os ataques violentos e a descoberta da minuta golpista atingem Bolsonaro em diferentes frentes. Para eles, tais acontecimentos legitimam as decisões de Alexandre de Moraes, inclusive as mais enérgicas, contra o ex-presidente e personagens da órbita dele. O ministro era alvo frequente de ameaças e até xingamentos de Bolsonaro. No PL, partido do ex-presidente, já há a expectativa de que outros antigos auxiliares de Bolsonaro também entrem na mira das investigações em curso. A legenda deve arcar com os custos da defesa do seu principal filiado e planeja montar uma banca com seis advogados para atuar nos mais variados processos abertos. Para além da trincheira judicial, o degaste político também é evidente, de acordo com aliados. Até o mês passado, ele era tratado pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, como pré-candidato à presidência da República em 2026. Nos dias posteriores aos ataques violentos, entretanto, correligionários já apostavam que o ex-ocupante do Palácio do Planalto estava inviabilizado. O discurso tornou-se ainda mais pessimista após a apreensão realizada na casa de Anderson Torres. O inquérito em que foi autorizada a busca e apreensão no endereço de Torres mira na atuação dele como secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, cargo que assumiu ao deixar o ministério. Os investigadores apontam indícios de que ele teria sabotado o esquema de segurança montado para evitar as investidas violentas de domingo. Alvo de uma ordem de prisão também expedida por Alexandre de Moraes, Torres está de férias nos Estados Unidos, mas prometeu se apresentar às autoridades. Na sexta-feira (13/1) horas após a manifestação da PGR, a defesa de Bolsonaro emitiu uma nota para afirmar que ele “sempre repudiou todos os atos ilegais e criminosos” e agiu como “defensor da Constituição e da democracia”. Diz ainda que o ex-presidente "repudia veementemente os atos de vandalismo e depredação do patrimônio público cometido pelos infiltrados na manifestação". Sustenta também que ele "jamais teve qualquer relação ou participação nesses movimentos sociais espontâneos realizados pela população". Já Anderson Torres nega que tenha se omitido enquanto estava na secretaria da capital. Sobre a minuta, afirma que trata-se de uma sugestão que ele recebeu e que seria destruída.
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