Beirute (Líbano) - Uma explosão na região do porto de Beirute, capital do Líbano, causou grandes estragos na cidade na terça-feira (4/8) próximo à região portuária. O governo libanês fala em, ao menos, 3,7 mil pessoas feridas e 73 mortos.Ainda não há confirmação sobre as causas da explosão. Contudo, versões preliminares apresentadas até agora pelas autoridades dão conta de uma grande quantidade de nitrato de amônia armazenada na região do porto. Segundo o ministro da Saúde do país, Hamad Hasan, cerca de 3,7 mil pessoas ficaram feridas na explosão, que provocou a morte de, ao menos, 73 pessoas até agora. A embaixada brasileira em Beirute foi parcialmente atingida com a explosão, que quebrou vidros e deixou a residência de um dos diplomatas brasileiros inabitável. Apesar do estrago material, nenhum funcionário teria sido ferido. Edifícios foram danificados e tiveram suas janelas e portas estilhaçadas, enquanto uma nuvem gigante de cogumelos se elevava em Beirute.
Já Marinha do Brasil informou que os membros da força marítima que estavam em Beirute estão bem. “A Fragata ‘Independência’ encontrava-se operando no mar e estava distante do local da explosão”, postou a Marinha no Twitter.
JANELAS ABAIXO E FILHO SALVO PELA BABÁ
O brasileiro Luiz Felipe Czarnobai, de 34 anos, estava em seu apartamento próximo ao porto de Beirute com seus três filhos e a babá das crianças quando viu a explosão que atingiu a cidade nesta terça-feira. O incidente deixou pelo menos 30 mortos e dezenas de feridos. "Quase todas as janelas do meu apartamento vieram abaixo", conta Luiz Felipe. Seu filho mais velho, de 9 anos, estava próximo à janela quando viu a explosão e gritou o nome da babá, Welet Tekle. "Eu estava a três metros e gritei 'corre'", conta Luiz Felipe. "Welet foi nossa heroína, depois que gritei, foi ela que puxou meu filho Gustavo, de 9 anos, e os salvou dos estilhaços da explosão". "Eu só vi uma luz forte vindo em direção à janela da sala, ouvi um barulho enorme e o vidro [da sala] quebrando." O brasileiro entrou pegou os dois outros filhos mais novos, que estavam em outro cômodo, e se escondeu debaixo da cama com os filhos e a babá. "Ficamos debaixo da cama durante uns 20 minutos, esperando meu marido chegar", conta. Seu marido, também brasileiro, estava em outro prédio cujas janelas também foram danificadas e machucou a mão de leve. Após a explosão ele foi correndo para casa. "Eu estava com meu celular e consegui ligar para meu marido e dizer que a gente estava bem", conta. Quando saiu de baixo da cama, Luiz Felipe viu que quase todas as janelas do apartamento no 21º andar do prédio estavam quebradas. "Agora as crianças estão calmas, estão dormindo, mas estamos sem janelas. Está cheio de vidro, então não dá nem para chegar perto", diz ele. A família não saiu do apartamento depois da explosão.
FUMAÇA ROSA E TREMOR NO CHÃO’
A brasileira Isabella Hijazi, de 20 anos, que mora a cerca de três quilômetros do porto de Beirute, diz que tomou um susto enorme com a explosão. Isabella mora a dez minutos do porto e estava em casa vendo séries quando sentiu o chão tremer violentamente. "Do nada começou a tremer o chão da minha casa, eu achei que era um terremoto", conta. "As janelas tremeram e abriram, minha cortina voou para dentro de casa, quase tive um ataque do coração. Então olhei pela janela e vi uma fumaça rosa", conta a estudante brasileira de Foz do Iguaçu, que mora há 3 anos no Líbano. "Diversas janelas nos prédios em volta quebraram". Ela disse que chegou a pensar que pudesse ser um ataque terrorista, devido ao histórico de ataques politicamente motivados no país, mas achou a cor da fumaça estranha. "Fiquei desesperada e liguei a TV. Primeiro ninguém estava sabendo o motivo, depois falaram sobre a possibilidade de ter sido uma explosão num carregamento de contêineres com fogos de artifício."Isabella não saiu para a rua. "[As autoridades] deram instruções para a gente ficar em casa até que as coisas fiquem mais calmas", conta. "Aqui ninguém se machucou, graças a Deus", diz ela, que mora no mesmo prédio que seus primos libaneses. A brasileira Lia Vicentin, de 34 anos, que mora a 7 km do porto, estava passeando com o gato na área comum no térreo do prédio quando ouviu a explosão. "Senti o chão tremer e dois segundos depois todas as portas de vidro da recepção quebraram", conta. "Eu e o porteiro ficamos chocados e vimos pessoas saindo dos prédios e perguntando o que estava acontecendo." Quando subiu para seu apartamento, foi que Lia viu a fumaça vindo do porto. "E o prédio tremeu muito, chegou a arrebentar a porta da minha casa." "Imagina que a gente está a 7 km do porto, então foi muito forte mesmo".
EXPLOSÃO FOI OUVIDA A 35 KM DE DISTÂNCIA
Outra brasileira no país, a guia turística Carla Mussallam Al Masri, de 53 anos, estava ainda mais longe: a 35 quilômetros de distância do local da explosão. Um idoso com um curativo na cabeça senta-se em um dos destroços perto do local de uma explosão maciça que abalou o porto de Beirute
"Eu estava de folga, na praia. Estava longe, mas ouvi o barulho da explosão. Achei que fosse uma bomba em Beirute. Liguei para minha filha, que estava dando aula no momento. Mas ela estava bem", conta. A filha de Carla, a professora de ginástica Yasmin Mussallam Al Masri, de 22 anos, estava a cerca de 10 minutos da região portuária de Beirute. "A porta do prédio começou a bater. Achamos que era alguém batendo. Mas logo depois tudo tremeu e as janelas começaram quebrar", conta. Segundo Yasmin, seguranças e policiais pediram para as pessoas ficarem dentro dos edifícios. "Os vidros dos prédios ficaram caindo na rua por mais de 15 minutos. Quando saí, estava tudo branco de fumaça e o bairro estava destruído. Muita gente estava machucada, os carros quebrados na estrada e muitas ambulâncias na rua", relata.
TETO DE GESSO CAIU EM CIDADE A 20 KM
O brasileiro Rajeh Merhi, 39, estava conversando com a mãe e a irmã no momento da explosão. Caso estivesse próximo ao local do incidente, poderia estar entre as vítimas da tragédia. Só que Merhi estava em outra cidade, Aley, a cerca de 20 km de onde a explosão ocorreu. Ainda assim, viu parte do teto de gesso da casa de sua mãe cair. O barulho fez com que pensasse se tratar de uma bomba jogada por um avião -talvez o início de uma guerra. O prédio de quatro andares tremeu, conta ele, que chegou a ouvir o barulho da explosão. Assim como na casa da mãe de Merhi, vizinhos tiveram danos pequenos, como móveis e copos quebrados. Já em Beirute, paredes foram destruídas, e janelas, quebradas. Carros foram virados de cabeça para baixo, e destroços bloquearam várias ruas. No Líbano desde 2016, o gerente de TI vê a explosão como mais um agravante num país que já passa por grande crise econômica. O fato de o incidente ter ocorrido na zona portuária, diz Merhi, certamente vai afetar a chegada de alimentos e medicamentos em uma economia que depende de importações. "Essa explosão, na situação em que o Líbano está, numa crise econômica com pessoas morrendo de fome, foi uma tragédia", diz o descendente de libaneses. "E, recentemente, depois das crises econômica e política, teve ainda a Covid, com medidas de restrição que pioraram a dificuldade para trabalhar."
A EXPLOSÃO NA VISÃO DO FILHO E MARIDO
Moradora do Líbano há 20 anos, a brasileira Romilda Carvalho Salman, de 51 anos, relatou como foi o momento da explosão para seu marido e seu filho. Os dois estavam em casa quando uma série de estrondos atingiu uma área próxima do porto. Segundo Romilda, a residência deles fica a cerca de 20 minutos do ponto de origem. “Meu marido estava em casa com meu filho. Segundo ele, a explosão foi muito forte, o prédio tremeu e balançou, todo mundo desceu correndo pela escada gritando e achando que era um terremoto”, disse. “Eles estão bem e já voltaram para casa, mas minha cunhada (libanesa, irmã do meu marido) que mora próximo da explosão, teve tudo em casa destruído e não pode voltar. Existem muitas pessoas desaparecidas que voaram para o mar”, completou. Romilda acrescentou que foi passar uns dias na casa de uma amiga no Sul do país, perto da fronteira com Israel. “Estamos escutando os drones deles sobrevoando o Líbano”, finaliza ela.
PRIMEIRO O TREMOR, DEPOIS O ESTRONDO
A percepção do presidente da Associação União Líbano-Brasileira, Bassam Haddad, já foi diferente da que Romilda teve. Por um lado, a brasileira vislumbrou a tragédia através dos relatos de sua família e, por outro, Bassam observou a enorme fumaça que consumia a região litorânea através da janela do escritório onde terminava uma reunião, num prédio a aproximadamente 15 quilômetros do porto. “Eu estava no final do horário de trabalho numa reunião com algumas pessoas no escritório delas e, por coincidência, me preparava para sair quando senti um terremoto de quase 4 ou 5 graus. E alguns segundos depois ouvimos um estrondo, depois uma explosão bem maior e olhamos pela janela. O lugar é distante do porto em quase 15 quilômetros, mas vimos a fumaça saindo do porto de Beirute”, contou ela. Bassam ressaltou que sua primeira ação foi ligar para a mulher, que é gaúcha, para verificar se ela estava bem e, ao mesmo tempo, ela ligava para ele pelo mesmo motivo, "um preocupado com o outro". “Na hora, claro, minha preocupação é que seria um atentado. Liguei para minha mulher que tinha ido para o centro da capital, perto da explosão. A primeira coisa que fiz foi ligar para ela e ela ligou pra mim. Ela queria me acalmar e avisou que tinha acabado de chegar na nossa fábrica, distante uns 10 quilômetros do centro. Ligamos para os filhos, uma estava no shopping. Depois foram os amigos. Soubemos que uma brasileira foi machucada e levada para o hospital, mas está bem graças a Deus”, afirmou o libanês, que morou no Brasil por quase 15 anos e voltou para seu país há 22. Um de seus filhos ainda vive em Porto Alegre. Ainda de acordo com Bassam, vidros por toda a rua onde ele estava foram quebrados devido ao impacto da série de explosões. “Se as vitrines e as portas foram destruídas com essa distância, imagina o que estava perto. O centro é super moderno, com prédios de vidro, quebrou praticamente tudo. Um desastre. Uma situação realmente triste. A gente está vendo mais de três mil feridos. Tudo isso já está deixando a gente abalado. O Líbano já apanhou muito na sua História, mas se Deus quiser a gente vai se reerguer, como uma fênix que renasce.”
Fontes: BBC Brasil /FolhaPress / Extra / www.poptvnews.com.br