A tensão na fronteira Rússia-Ucrânia vem trazendo preocupações geopolíticas nas últimas semanas. Nas últimas horas, exercícios militares por parte de Moscou em Belarus e o reconhecimento das autodeclaradas repúblicas populares de Donetsk e Luhansk, no leste ucraniano, trouxe pânico aos mercados globais. Os índices asiáticos fecharam em forte queda nesta terça-feira (22/2). O índice Nikkei recuou 1,7% e Hong Kong perdeu 2,2%. Reino Unido, EUA e União Europeia prometeram fortes sanções econômicas contra a Rússia. O presidente Vladimir Putin disse que está disposto ao diálogo. O problema parece estar distante do Brasil, mas não é bem assim. Na verdade, os ecos de uma possível guerra na região pode deixar produtos de consumo diário mais caros por aqui. A Rússia fornece 40% da energia para a União Europeia, além de ser uma importante produtora de petróleo - é a 4ª maior do mundo, segundo o Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás. Analistas indicam que um conflito pode levar o preço do barril do petróleo a ultrapassar a simbólica marca dos 100 dólares.
Gasolina e derivados mais caros
Com isso, derivados do produto (gasolina, gás natural, gás de cozinha e diesel) também aumentariam de preço. Como a gasolina brasileira é composta em 27% de etanol anidro (que também vem registrando aumento de preços), mais um fator para o reajuste, fora o dólar mais caro. Em 2021, a gasolina subiu quase 50%. No entanto, existe uma negociação em curso entre EUA e Irã no campo nuclear, o que poderia trazer uma produção extra de petróleo ao mercado mundial (lembrando que Teerã está com a economia embargada em razão de sua energia nuclear).
Milho e trigo com preços pressionados
Vamos aos alimentos. Rússia e Ucrânia são importantes produtores e exportadores de trigo (4º e 9º, respectivamente, segundo dados do USDA). Uma crise mais prolongada afetaria essa cadeia. O Brasil não é autossuficiente em trigo e tem como maiores importadores Argentina e EUA. Kiev também é um player relevante na exportação de grãos (sobretudo milho, sendo 6º maior do mundo desse setor, segundo o USDA). Trigo e milho são commodities. Negociadas na Bolsa de Chicago, já vêm operando em alta por causa da tensão entre os dois países. Ou seja, esses custos seriam repassados para o mercado brasileiro. Já Moscou é o maior exportador de fertilizantes do mundo (e de onde o Brasil mais compra). Se sofrer mais sanções, o fornecimento a outros países ficaria comprometido, afetando a produção agrícola global e pressionando os preços dos alimentos.