Havana (CUBA) - No último domingo (11/7), protestos contra o governo cubano eclodiram em diversas cidades da ilha e em Miami, nos Estados Unidos. Os manifestantes expressaram seu descontentamento com a atual situação econômica e social do país, muito agravada durante a pandemia de Covid-19. Em 2020, o PIB cubano caiu 11%. Além disso, o país, que depende de importar 70% de tudo que consome, sofre com escassez, causada principalmente pelo fechamento das fronteiras por conta da pandemia e pelo bloqueio econômico norte-americano. Entre os problemas que atingem a população está a falta de comida. A escassez levou o Estado a autorizar que camponeses matem vacas e bois para consumo próprio. No pedido ao governo pelo direito de abater o animal, é preciso declarar quanto leite a vaca já produziu e quantos quilos tem o boi. Há também menos voos internacionais, o que diminuiu a entrada de dólares na ilha enviados por cubanos que vivem em outros países, em especial nos Estados Unidos. Segundo dados oficiais, 65% das famílias cubanas recebiam ajuda de parentes. Outra perda econômica para o país foi na área do turismo, que é uma das principais fontes de recursos e responde por 10% do PIB do país, somando áreas relacionadas, como a gastronomia. A produção de açúcar, outra atividade econômica essencial para Cuba, foi afetada por uma grande seca que se agrava há anos por conta de alterações climáticas. O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, que também é líder do Partido Comunista Cubano, se pronunciou em rede nacional de televisão e rádio, junto com outros membros do governo, sobre os protestos. Segundo o presidente, grande parte das dificuldades enfrentadas pelos cubanos são consequência do bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos. Este bloqueio, lembrou Díaz-Canel, ficou mais duro em 2019, depois de uma decisão do ex-presidente Donald Trump e que ainda não foi revista pelo atual presidente Joe Biden. “Se querem ter um gesto com Cuba, se de verdade se preocupam, abram o bloqueio e vamos ver como tocamos”, declarou.
Pandemia
Além dos problemas econômicos, a população da ilha enfrenta dificuldades com a pandemia de coronavírus. Mesmo com um sistema de saúde público e universal, faltam hospitais para atender todos os doentes. Mesmo com as dificuldades, Cuba também está desenvolvendo sua própria vacina, a Soberana, que apresentou bons resultados em testes clínicos. Os protestos aconteceram um dia depois de o governo ter negado um pedido de dissidentes para criar um "corredor humanitário", viabilizando a chegada de remédios. O Ministério das Relações Exteriores emitiu um comunicado que reconhece a crise sanitária do país, mas afirmou que já estão sendo realizados esforços receber auxílio externo. Em uma publicação nas redes sociais, o chanceler Bruno Rodríguez afirmou que "Cuba recebeu doações de insumos médicos de 20 países, e outras 12 estão em processo de envio". no domingo dos protestos, Cuba registrou um recorde de novos casos e mortes por Covid-19. Foram 6.923 casos e 47 mortes em 24 horas. No total, o país teve 238.491 casos e 1.537 mortes.