Vídeos exclusivos do Fantástico mostram quando duas mulheres integrantes de um grupo criminoso chegam ao Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, despacham bagagens com droga que levaram brasileiras à prisão na Alemanha, e vão embora em 3 minutos. Kátyna Baía e Jeanne Paollini estão presas há mais de um mês num presídio feminino em Frankfurt, suspeitas de tráfico internacional de drogas. A Polícia Federal disse que já provou que elas são inocentes. O Fantástico exibiu imagens de todo o passo a passo desde que Kátyna e Jeanne saíram de casa, em um apartamento em Goiânia, até entrarem no Aeroporto Santa Genoveva, na capital de Goiás. Câmeras do edifício registraram Jeanne, com uma mala rosa, e Kátyna, com uma bagagem preta, às 6h04 do dia 4 de março, descendo pelo elevador do prédio. Era o começo das férias de 20 dias pela Alemanha, Bélgica e República Tcheca. Imagens do circuito de segurança do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, registradas no dia 4 de março, às 20h04, é possível ver as malas de Kátyna e Jeanne, nas cores rosa e preta, sendo colocadas em um contêiner, por um funcionário. Em uma ação quase imperceptível, nesse momento, houve uma troca de etiquetas, segundo a polícia. No último dia no Brasil, Jeanne e Kátyna embarcaram em Goiânia com destino a São Paulo. Lá, elas chegaram antes do almoço e o voo para a Alemanha sairia só as 23 horas. Foi nesse intervalo que elas caíram numa cilada. Essa é uma área de segurança, de acesso restrito, e monitorada por dezenas de câmeras. E mesmo com toda essa vigilância, este é um dos locais no aeroporto em que as quadrilhas do tráfico de drogas mais atuam. Foi justamente neste ponto que os funcionários trocaram as etiquetas das bagagens das passageiras. A primeira mala a chegar na área restrita foi a de Kátyna. Na imagem, é possível ver que ela fica parada entre as outras por algum tempo. Logo depois, chega a mala da Jeanne. Num momento, o funcionário Eduardo dos Santos pega a mala rosa, olha a etiqueta, e a coloca no chão. Eduardo sinaliza para Pedro Venâncio, outro funcionário, a chegada da mala. Pedro confere. Depois, olha de novo, mexe no celular, volta e tira uma foto. A mala rosa segue junto com as outras. Em outra câmera, Eduardo e Pedro olham a mala de Kátyna. As duas malas são colocadas uma sobre a outra, no contêiner. Às 20h04, Pedro tira a etiqueta da mala da Jeanne. Ele disfarça, olha para a câmera, e coloca outra etiqueta na mala dela. A etiqueta que era de Jeanne ele leva para fora do ângulo de visão da câmera. Depois, Pedro fala ao telefone, volta e tira também a etiqueta da mala preta, da Kátyna, que estava embaixo da de Jeanne. Na sequência, ele tira de novo todas as malas do contêiner. Enquanto isso, na entrada do aeroporto, duas mulheres, ainda não identificadas pela polícia, chegam com duas malas. O relógio marcava 20h27 quando elas entraram no local. Segundo a polícia, as malas delas estão recheadas de cocaína. Já no saguão, uma das mulheres se comunica pelo celular. Imediatamente, a funcionária de uma companhia aérea, que estava sentada em um dos guichês a lado, se levanta e faz um sinal com a cabeça. As duas supostas passageiras seguem até ela. Um detalhe, segundo a polícia, é que naquele momento aqueles guichês não estavam abertos para check-in de nenhum voo. A filmagem mostra que as duas malas parecem pesadas, já que as duas mulheres precisaram se juntar para colocá-las no guichê. Pela imagem, parece que ninguém apresentou nenhuma documentação ou pegou algum ticket de embarque. Logo depois, as falsas passageiras deixam o aeroporto, apenas três minutos depois, sem se intimidar com viaturas da polícia que estavam na porta do local. Depois disso, é possível ver as malas com cocaína seguindo pela esteira e os integrantes da quadrilha começam a se movimentar para encontrar as malas com drogas. Eles a acharam e as levaram para a área onde já estavam as outras. Segundo a polícia, essas bagagens não poderiam sair da área de embarque doméstico para a área internacional livremente pela pista. Os criminosos fazem isso para escapar do raio-x. As malas de Kátyna e Jeanne e as outras vão para o mesmo contêiner onde estão as malas com drogas. De acordo com a polícia, as etiquetas com os nomes de Kátyna e Jeanne foram colocadas nas malas com drogas atrás de uma pilastra, que é um ponto cego da câmera. Quando as brasileiras chegaram a Frankfurt, na Alemanha, onde fariam conexão, elas levaram um susto ao receberem a notícia de que estavam presas por suspeita de tráfico internacional de drogas. Jeanne conta que, na hora, não entendeu o que estava acontecendo.
“Eu caminhei algemada pelo aeroporto de Frankfurt, escoltada por vários policiais, sem saber o que estava acontecendo. Só depois de muito tempo que chegou uma intérprete que informou que nós estávamos sendo presas por tráfico de drogas. E assim que o policial apresentou as supostas malas, nós falamos de imediato que aquelas malas não eram nossas. Fomos transferidas para um outro prédio. Uma cela em que as paredes têm escritos de fezes, tá? É uma cela fria, não tem janela”, disse Jeanne.
Investigação e defesa das brasileiras
A defesa de Kátyna e Jeanne foi à Polícia Federal. O delegado Bruno Gama, da PF de Goiás, disse que a corporação já conseguiu provar a inocência das brasileiras. “A Polícia Federal conseguiu comprovar que aquelas passageiras são inocentes. Indicando quem seriam realmente culpados no fato do crime ocorrido”, disse o delegado.
“A Polícia Federal está transmitido todo o conteúdo probatório da investigação para as autoridades na Alemanha”, completou a superintendente da PF em Goiás. A advogada das vítimas na Alemanha Chayane Kuss de Souza contou que a Justiça Alemã quer que as provas cheguem pelo governo brasileiro. “Através do Itamaraty ou até mesmo do Ministério Público, no sentido de que eles fossem convencidos e que pudessem de fato ser usados para libertar as duas”, disse a advogada das vítimas na Alemanha. Luna Provázio, advogada das vítimas no Brasil, disse que as duas estão exaustas. “Elas tão exaustas, elas tão assim no limite delas. Passou de um mês e elas percebem que cada hora vem uma nova dificuldade”, disse.
Na última terça-feira (4/4), a investigação identificou seis funcionários que trocavam as etiquetas das malas, de forma aleatória, para enviar cocaína para o exterior. Eles foram presos em São Paulo. Na casa da funcionária que recebeu as malas com drogas no guichê, foram encontrados R$ 43 mil em dinheiro. À polícia, ela confirmou ter feito parte do esquema. No sábado (8/4), outra funcionária que presta serviço no aeroporto foi presa, segundo o delegado da Polícia Federal de São Paulo Felipe Lavareda.“É constante a cooptação. São grupos que concorrem entre si até pra enviar a droga pra fora”, disse.
O que dizem os envolvidos
A concessionária que administra o aeroporto, GRU Airport, disse que o manuseio das bagagens é de responsabilidade das empresas áereas e que, quando ocorre um incidente, se reúne com autoridades para discutir melhorias nos protocolos de segurança. A Latam, empresa pela qual Kátyna e Jeanne viajaram, disse apenas que colabora com a investigação e que está em contato com familiares das brasileiras presas. A defesa de Eduardo dos Santos, um dos presos esta semana, informou que ele não faz parte de qualquer esquema criminoso. O Fantástico entrou em contato com a família de Pedro Venâncio, que não retornou ligação nem indicou o advogado dele. A Orbital, empresa que emprega os dois funcionários, informou que verifica os antecedentes criminais dos funcionários antes das contratações e que o tráfico de drogas é um problema de segurança pública. Ao Fantástico, a Polícia Alemã disse que não estava autorizada a dar informações sobre casos individuais. O Consulado Brasileiro em Frankfurt está prestando assistência às famílias.
*Esta reportagem teve produção de Guilherme Rodrigues e Laurence Ribeiro, da TV Anhanguera, e Augusto Medeiros e Renato Ferezim, da TV Globo.