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Opinião

Sari Corte Real: O retrato de uma elite ‘e daí?!’

Sari Gaspar Corte Real, representante da cruel elite branca brasileira

Foto: Divulgação
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Que o inferno seja a morada eterna de Sarí!

13 junho, 2020

Por Silvana Marta

A curta frase: ‘E daí” é de autoria do presidente da República do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, e sintetiza perfeitamente o descaso com que a elite trata a todos e como ela encara tudo por aqui. Miguel caiu do 9º andar de um prédio de luxo no Recife. Todos sabemos. Mas o que precisa tornar público é o contexto da morte, emaranhada de detalhes sórdidos.  A primeira dama do município de Tamandaré (PE), localizado a 104,3 Km da capital do Estado, Sari Mariana Gaspar Corte Real, mora com o esposo Sérgio Hacker Corte Real (PSB), dois filhos menores de 10 anos e um cachorrinho, em um dos metros quadrados mais caros de Pernambuco: as Torres Gêmeas, que, por terem sido construídas no centro histórico do Recife, pela força do poder econômico sem pudor, desgraçou a oportunidade da cidade ter sido reconhecida pela Unesco Patrimônio Cultural da Humanidade.  Sérgio Hacker foi eleito prefeito de Tamandaré mas não mora no município, o que pode demonstrar que, para ele, talvez a cidade que governe não esteja à altura de ser habitada por sua família. Talvez o prefeito Hacker Corte Real julgue a cidade desprovida de estrutura, o que significa que, como prefeito, talvez não esteja se saindo tão bem na administração, a ponto de não imprimir-lhe, como agente público, o desenvolvimento que precisava. O condomínio Torres Gêmeas, onde mora o ‘nobre’ casal Corte Real, é formado pelo Píer Maurício de Nassau e o Píer Duarte Coelho, cada um com 42 andares de apartamentos com 247 m² por unidade. Foi de uma dessas mesmas Torres Gêmeas que outro suspeito de envolvimento em um esquema de desvio de recursos públicos da Hemobras - estatal de pesquisas relacionadas a sangue - protagonizou outro escândalo em 2015: uma chuva de dinheiro que foi arremessada em grandes quantias pela janela de um dos apartamentos, ao se dar conta da chegada da Polícia Federal, durante Operação Pulso. O nome do ‘criminoso’, por ser de colarinho branco, nunca foi divulgado. Sarí Mariana Gaspar Corte Real adotou o sobrenome do marido, Sérgio Hacker Corte Real, que pertence à terceira geração de uma oligarquia iniciada com o avô, filho de imigrantes alemães José Hildo Hacker, ex-prefeito dos municípios Rio Formoso e Sirinhaém. A sogra de Sarí, Isabel Hacker, é a atual prefeita de Rio Formoso, enquanto o primo de Sérgio, Franz, é o prefeito de Sirinhaém.  Já a família paterna de Sérgio são os Corte Real e remete ao tio Jorge Corte Real, dono da construtora AB Corte Real , ex-deputado federal pelo PTB e ex-presidente da Fiepe (Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco), de modo que os sobrenomes Hacker e Corte Real estão associados ao poder político em expansão nos municípios do litoral sul de Pernambuco e ao poder econômico entre empresários do estado. Na carta de pedido de perdão à empregada doméstica Mirtes Souza, mãe do menino Miguel, morto pelo descaso de Sarí, típica patroa brasileira, ela diz  que “não tem o direito de falar em dor”. (Ah é mesmo? Tem o direito de falar em que? Tente Sarí! Estamos aguardando!). E segue: “estou sendo condenada pelas redes sociais e pela opinião pública como historicamente outros foram”. A pergunta que não quer calar é: outros quem? Os culpados ou os inocentes? Porque neste caso especificamente estamos falando de flagrante de homicídio. E a infame carta da Corte continua: “As redes sociais potencializam o ódio das pessoas. Tenho certeza que a Justiça esclarecerá a verdade”. Mais um ato falho: a justiça esclarecerá o que? Justiça não esclarece, querida: ela é ou não é feita.  Todos já sabemos o resultado da conclusão deste inquérito frente à uma justiça podre como se apresenta em nosso país, coberta pela corrupção, que vem destruindo nosso povo por séculos. A empregada negra Mirtes Souza recebia a quantia de R$ 1.015,24 para trabalhar na casa dos Corte Real, brancos, por um contrato firmado em 1º de fevereiro de 2017 como servidora da prefeitura de Tamandaré, o que é proibido por lei, caracterizando-se crime de improbidade administrativa. O conforto de Sarí contrasta com a realidade do menino negro Miguel Otávio, de 5 anos, morto pela indiferença e crueldade de uma elite branca e racista, que só pensa em si mesma, e suga, de tudo e de todos, o que puder sugar, para que a desavergonhada vida de luxo dos seus seja mantida. Desavergonhada, porque às custas do dinheiro público, às custas do sofrimento do povo brasileiro. A escravidão existe, e tem cor, nome, sobrenome e endereço, perpetrada pelo racismo continuado de brancos presunçosos e cruéis. O anjo Miguel está no céu; que o inferno seja a morada eterna de Sarí!

Silvana Marta  de Paula Silva, Advogada e Jornalista 

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