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Racismo

Racismo é causa da diferença salarial de 31% entre brancos e negros com ensino superior, diz pesquisa

Um novo cálculo sobre as diferenças salariais entre brancos e negros reacendeu a discussão sobre o racismo estrutural do país

Foto: Imagem / Reprodução
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Patrícia Santos, fundadora da EmpregueAfro, empresa de consultoria em recursos humanos exclusiva para o público negro

08 janeiro, 2020

São Paulo (SP) - Um novo cálculo sobre as diferenças salariais entre brancos e negros reacendeu a discussão sobre o racismo estrutural do país nesta semana. Segundo o Instituto Locomotiva, a desigualdade salarial não pode ser explicada apenas pela falta de acesso ou oportunidade de formação para pessoas negras, mas sim por um processo cultural de exclusão e preconceito. A entidade fez uma análise dos salários de trabalhadores negros e brancos com ensino superior e verificou que os trabalhadores brancos ganham 31% a mais do que trabalhadores negros. Isolando as variáveis para tentar explicar tal diferença, o que sobra é apenas a cor da pele. A pesquisa ouviu 1.170 pessoas em 43 cidades do Brasil e foi divulgada pela Folha de São Paulo, nesta segunda-feira (6/1).  “A pesquisa colabora com o combate do discurso da meritocracia. Mas, mesmo assim, vai ter gente reclamando. Mas contra os número não há argumentos. Se isso não for preconceito racial, o que seria então?”, argumenta a empresária Patrícia Santos, fundadora da EmpregueAfro, empresa de consultoria em recursos humanos exclusiva para o público negro. Outros dados também não são animadores. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2019, de forma geral, há uma diferença salarial de 45% entre trabalhadores brancos e negros. “Nas pesquisa de gênero chega a ser maior para mulheres, e [para] mulheres negras maior ainda chegando a 70% no mesmo cargo e na mesma função. Complicado e triste”, lamenta Santos. A inclusão no mercado de trabalho é o tema mais urgente para a população negra, segundo a pesquisa Consciência entre Urgências: Pautas e Potências da População Negra no Brasil, divulgada em novembro pelo Google Brasil. Na opinião de 46%, a colocação profissional é um dos assuntos prioritários para a vida das pessoas negras. O estudo foi realizado pela consultoria Mindset e pelo Instituto Datafolha e ouviu 1,2 mil pessoas pretas e pardas ao longo de outubro de 2019. Outro desafio ainda maior é a inserção em cargos de chefia e confiança. Segundo levantamento do Instituto Ethos com as 500 maiores organizações do país, negros e negras ocupam apenas 4,7% dos cargos executivos; 6,3% dos gerenciais; e 35,7% da folha funcional das empresas. Tais dados mostram a desproporção da diversidade do mercado de trabalho uma vez que a população negra do país representa mais de 55%. “Eu acredito que a gente teria que fazer a mudança em toda a cadeia [de contratação], mas principalmente em cargos de liderança. Para termos uma próxima geração de diretores e CEOs negros é extremamente necessário políticas de contratação, recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvimento de cargos de liderança”, diz a empresária. Mudar esta realidade é um trabalho ardiloso. No ritmo em que estamos, há previsões de que apenas em 150 anos as empresas conseguirão igualar o número de negros em seus quadros à proporção da população no país.  Para Patrícia, da EmpregueAfro, para as empresas superarem esta triste realidade, na verdade, elas têm que criar ações afirmativas em todas as análises de cargos e salários, fazer o recorte de gênero e raça e orientação sexual para verificar se as disparidades se mantém, além de fazer ações afirmativas dentro do RH para contrapor e tentar barrar a diferença salarial. “É um processo longo e difícil de mudança de pensamentos, culturas e crenças que estavam enraizadas há anos, que foram ensinadas na família, na escola, nos espaços de convivência brancos que quando eles chegam na empresa eles reproduzem exatamente tudo que eles ouviram ao longo da vida. Por isso, a maioria das empresas investem mais em treinamento para conscientização para quebrar conceitos antigos e depois elas investem em programas de contratação. E é o caminho realmente porque, enquanto as pessoas acreditarem em meritocracia, a gente não consegue fazer inclusão”, pontua.

 

Fonte: Folha de São Paulo / Yahoo- p/  Simone Freire