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Quadrilha

Quadrilha de blogueira presa usava imóvel de luxo como 'central de golpes'

blogueira carioca Rayane da Silva Figliuzzi, de 24 anos, utilizasse um apartamento em Copacabana como central de operações para cometer crimes

Foto: Divulgação
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Rayane foi detida por PMs em Areal, no interior fluminense, no último domingo (13/2)

16 fevereiro, 2022

Os mais de mil quilômetros que separam o Rio de Janeiro de Santa Catarina não impediram que a quadrilha de blogueira carioca Rayane da Silva Figliuzzi, de 24 anos, utilizasse um apartamento em Copacabana como central de operações para cometer crimes especialmente nas cidades de Balneário Camboriú e Florianópolis, dois dos principais destinos turísticos catarinenses. O imóvel de alto padrão na Zona Sul do Rio funcionava como uma espécie de coração do esquema, a partir de onde falsas telefonistas entravam em contato com as vítimas, a maioria idosos, com o intuito de aplicar o chamado "golpe do motoboy". Rayane foi detida por PMs em Areal, no interior fluminense, no último domingo, mas acabou liberada após chegar à delegacia, já que constatou-se que ela obteve na Justiça de Santa Catarina, no processo referente ao caso, o direito à prisão domiciliar. As investigações tiveram início em dezembro de 2020, quando um dos integrantes do bando foi preso em um edifício de luxo em Florianópolis. A partir dele, a Polícia Civil catarinense descobriu um grupo em um aplicativo de mensagens, chamado "Família Errejota", no qual eram trocadas diversas mensagens sobre os crimes praticados pela quadrilha. O cabeça do esquema foi identificado como Alexandre Navarro Júnior, de 28 anos, apontado como noivo de Rayane. A irmã de Alexandre, Yasmin Navarro, que também acumula milhares de seguidores nas redes sociais, era outra integrante do bando, que teve 15 membros identificados e indiciados pelos investigadores, e posteriormente denunciados pelo Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC). Todos são réus pelo crime de estelionato. " Rayane era a companheira do chefe e usufruía de todas as vantagens que a quadrilha obtinha junto às vítimas, levando uma vida de luxo. Além disso, descobrimos que uma das maquininhas utilizadas para aplicar os golpes estava vinculada a um CNPJ no nome dela, assim como ocorria com Yasmin", explicou o delegado Attilio Guaspari Filho, responsável pelo inquérito. Do apartamento em Copacabana, cinco ou seis telefonistas entravam em contato com dezenas de vítimas diariamente. Na ligação, simulavam ser funcionárias de instituições bancárias e comunicavam compras suspeitas feitas com cartão de crédito. Em seguida, as mulheres pediam que a pessoa do outro da linha contatasse o número do banco no verso do cartão e repassasse diversos dados, entre eles a senha. Contudo, o primeiro telefonema não era de fato encerrado, e outro membro do bando fingia atender a vítima, aumentando a veracidade do golpe. O passo seguinte era convencer o alvo a quebrar o cartão de crédito -  sempre bem ao centro, para não danificar o chip. A quadrilha informava, então, que um funcionário iria ao encontro do cliente para recolher o cartão descartado e assinar alguns documentos, que atestariam não ser ele o autor das compras citadas anteriormente. Esse integrante da quadrilha se apresentava sempre bem vestido, com ternos e crachás falsos dos bancos, em uma estratégia que, mais uma vez, também ajudava a convencer as vítimas. Ao deixar o local com o cartão, os criminosos passavam a fazer uma série de compras sucessivas, que chegavam a ultrapassar dezenas de milhares de reais em um único alvo. Era nesse momento que, segundo a Polícia Civil catarinense, era utilizada a maquininha vinculada ao nome de Rayane. Ainda de acordo com os investigadores, o noivo da blogueira, Alexandre Navarro Júnior, conhecido como Juninho, chegou a movimentar mais de R$ 2 milhões durante dois meses em apenas uma das muitas contas-corrente que possuía. "Foram identificadas várias referências de 'Juninho' orientando que Henrique (Henrique de Lima Varrichio, outro dos denunciados) passasse os cartões apanhados das vítimas na 'maquininha' de cartão de 'Ray', apelido de Rayane, para realização de transações ilícitas", detalha a denúncia oferecida contra o bando pela 39ª Promotoria de Justiça da Comarca da Capital. Em outro trecho do documento, obtido pelo GLOBO, o MP-SC afirma que a quadrilha se associou "de forma estruturalmente ordenada, de modo permanente e com divisão de tarefas, com o objetivo de obterem, direta e indiretamente, vantagens ilícitas mediante a prática habitual de crimes contra o patrimônio, especialmente a prática de crimes de estelionato". Nas redes sociais, onde anunciava diversos produtos de beleza e bem-estar, Rayana ainda tem, atualmente, cerca de 88 mil seguidores. Antes de frequentar o noticiário policial, ela era habituada a aparecer nas páginas de fofoca. A jovem, que fez trabalhos como modelo, já foi apontada como affair do rapper norte-americano Tyga, durante uma visita do artista ao Rio, e também do cantor Saulo Pôncio. Rayane e outros membros da quadrilha tiveram a prisão preventiva decretada em novembro do ano passado. No dia 19 de janeiro, porém, a Justiça catarinense concedeu à blogueira o direito à prisão domiciliar, em virtude do filho recém-nascido que ela teve com Alexandre. O mesmo benefício foi estendido, por motivos semelhantes, a outras quatro denunciadas, entre elas Yasmin Navarro, a irmã de Juninho. Na decisão, o juiz Elleston Lissandro Canali diz "querer crer" que, apesar da medida, elas não irão voltar "a praticar os crimes a si imputados, mas sim e acima de tudo a possibilidade de elas, junto à sua prole, exerçam a maternidade em sua plenitude, assegurando aos seus filhos menores um ambiente sadio de desenvolvimento, em respeito ao princípio do melhor interesse da criança". Yasmin Navarro é acusada de fazer parte de um outro bando que praticava o mesmo golpe no Rio de Janeiro. Em operação semelhante, também com foco em vítimas idosas, ela e outras comparsas, todas protagonistas de uma vida de ostentação nas redes sociais, usavam um apartamento no Recreio, na Zona Oeste da cidade, como central de operações. A irmã de Alexandre chegou a ser presa em flagrante pela Polícia Civil fluminense em julho do ano passado, mas acabou obtendo o relaxamento da prisão. Atualmente, ela é considerada foragida.