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Novembro de 2024
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Polêmica

Pop-it: febre entre as crianças, brinquedo vira alvo de conservadores por causa das cores que lembram bandeira LGBTQIAP+

Um pastor publicou um vídeo no YouTube relacionando o pop-it às cores da bandeira LGBTQIAP+ e acusando o movimento de querer destruir a família

Foto: Divulgação
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Pop-it: destrói famílias?

24 outubro, 2021

Era só um pedido corriqueiro, desses feitos quase diariamente em casas com crianças. Acabou em desavença familiar com fundo ideológico. Há mais ou menos um mês, o barbeiro Rafael (que preferiu não divulgar o sobrenome), de 30 anos, recebeu uma mensagem da filha Manoela, de 7, falando sobre o pop-it, um brinquedo de silicone flexível. A menina estava “doida” para ganhar a novidade, e Rafael correu para comprar um. Escolheu o formato de borboleta, todo colorido. Dias depois, ela avisou que desistiu do presente.  "De repente, ela começou a falar que o pop-it é do diabo, que é para separar a família. Fiquei aterrorizado. A criança é pura, não tem esse tipo de maldade. Ninguém pode ficar colocando isso na mente dela",  desabafou Rafael: É só um brinquedo de plástico que está na moda, para se divertir. Febre internacional, o pop-it é um tipo de “fidget toy”, ou brinquedo para inquietação, em tradução literal. Estourou durante a pandemia, com a promessa de aliviar o estresse de crianças entediadas e em ensino remoto. Nas últimas semanas, o item se tornou o novo alvo dos conservadores no país. Um pastor publicou um vídeo no YouTube relacionando o pop-it às cores da bandeira LGBTQIAP+ e acusando o movimento de querer destruir a família. Nas redes sociais, outros entusiastas repetiram a associação do brinquedo ao movimento, alguns vídeos tiveram mais de cem mil visualizações. A teoria ganhou eco na internet e também fora dela, como na casa de Manoela. A menina vive com a mãe evangélica em Niterói. Separado e com uma nova família, Rafael mora na Cidade de Deus, no Rio. Depois que Manoela recusou o brinquedo, ele decidiu presentar a filha mais nova: Aqui na minha casa não discriminamos ninguém. Cada um vive sua vida como quiser. É uma pena que minha filha cresça aprendendo a odiar o que é diferente. Antes mesmo de o vídeo do pastor circular, a dona de casa Anete Vieira, de 38 anos, já havia relacionado o brinquedo às cores da bandeira LGBTQIAP+. Mãe de Elias, de 6 anos, e da recém-nascida Adele, ela diz não ver problemas no brinquedo, mas preferiu comprar um de cor única: verde. Adele destacou que o arco-íris tem sete cores e o brinquedo, assim como a bandeira, seis. "Tenho orientação cristã, então tenho critérios para oferecer brinquedos ao meu filho. Acredito que tudo tem uma teoria, uma ideologia. O pessoal do marketing trabalha em cima dos símbolos, das cores. Se não coaduno com os mesmos ideais, por que apresentar para meu filho?

Fabricante se surpreende com polêmica

Anete vive em Barreiras, na Bahia, e é da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Ela afirma que acredita no casamento entre homem e mulher e diz não querer “trazer esse brinquedo para dentro de casa”. Frequentador da mesma igreja, o fisioterapeuta Anderson Vian, de 33 anos, discorda. Em seu canal bíblico no YouTube, fez um vídeo criticando a fala do pastor. Ele defende que as cores do brinquedo remetem às do arco-íris, uma “aliança que Deus fez com Noé e seu povo para mostrar que não mais acabaria com o mundo por meio de um dilúvio”. Diante da polêmica, explicou o trecho bíblico aos filhos Pietro e Lorenzo, de 6 e 2 anos, e liberou o brinquedo. Pedro Paulo de Bicalho, presidente do Conselho Regional de Psicologia do Rio, afirma que as cores de um brinquedo não modificam a relação de uma criança com ele. E que a faixa etária para a qual o pop-it é dirigido ainda não tem maturidade para distinguir as pessoas pela orientação sexual ou identidade de gênero:  É mais uma das invenções que tem a ver com negacionismo, com esse momento esquisito que estamos vivendo. Essa é uma faixa etária que ainda não se constituiu a partir da égide do preconceito. Essas pessoas não têm ideia de como uma criança se desenvolve. A empresa Luka Plásticos, em Valinhos, interior de São Paulo, gaba-se de ser a primeira a lançar a versão brasileira do pop-it e a única a ter o produto com certificação do Inmetro. A empresa já vendeu mais de 200 mil unidades do brinquedo desde agosto e dobrou seu faturamento. O diretor Gonzaga Pontes, de 63, ainda não tinha ouvido sobre a polêmica. Ao ser apresentado à teoria, fez questão de ressaltar que é cristão:  Isso é besteira. Não vai mudar nada para a gente. Nossa linha de negócio continua: produzir produtos bons", defende o Diretor