Segunda-feira, 25 de
Novembro de 2024
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Relatório

PMs  acusados de simular confronto  sabiam quando iam ser presos e trocaram de celulares para dificultar investigação, diz polícia

Constatação foi feita pela Polícia Civil a partir da quebra do sigilo telefônico dos PMs.

Foto: Reprodução/TV Anhanguera
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Marienes Pereira Gonçalves e Júnior José de Aquino Leite, mortos em ação da Polícia Militar

20 julho, 2024

Os policiais militares do Comando de Operações de Divisas (COD), acusados de simular um confronto e matar dois homens, em Goiânia, sabiam quando seriam presos, trocaram de celulares e tinham um grupo de conversas para combinar versões do crime . É o que diz um relatório feito pela Polícia Civil a partir da quebra do sigilo telefônico dos PMs. O g1 entrou em contato com o advogado dos policiais militares, mas ele disse que não vai se manifestar por enquanto. O portal também solicitou nota à Polícia Militar de Goiás, que não respondeu até a última atualização da reportagem. Segundo o Ministério Público de Goiás (MPGO), Marines Pereira Gonçalves e Junio José de Aquino eram informantes dos PMs e tiravam proveito de crimes junto com eles. Os dois foram mortos no Setor Jaó, a 1,5 km do batalhão do COD, na tarde de 1º de abril. Um vídeo que vazou nas redes sociais no dia seguinte ao crime revela que nenhum dos dois reagiu à abordagem, mas ambos foram baleados com um fuzil. A filmagem ainda mostra a possível simulação de confronto, em que um dos policiais aparece sacando uma pistola e atirando duas vezes. Outro militar tira outra arma da sacola e também dispara. O relatório em questão, com o laudo da quebra do sigilo telefônico, foi encaminhado à Justiça na terça-feira (16/7) para ser anexado ao processo. Segundo o documento, desde que o crime aconteceu, até o dia 5 de abril, os policiais trocaram mensagens em um grupo de WhatsApp e combinaram as versões que dariam em depoimento sobre o suposto confronto, trocarem documentos do caso e outros detalhes. Em um áudio, obtido pela TV Anhanguera, um dos PMs diz: “Eu queria saber o que se resolveu com o encarregado do inquérito lá. Vai assinar a novidade ou não vai? Na verdade, nós precisávamos saber disso, porque se for assinar não convém pedir férias não. Agora, se não for, e aí? Como é que vai ficar?”, diz o policial. O documento também afirma que “todos (os PMs) sabiam que suas prisões seriam decretadas, inclusive, estavam esperando isso acontecer”. Um dos policiais enviou um áudio em que dava a entender que sabia que a polícia estava indo até a casa dele para prendê-lo. No dia 6 de abril, de fato, houve uma operação policial que cumpriu mandados de prisão e apreensão contra ele e outros colegas. “Senhores, já estão vindo aqui para casa, viu? Já entra em contato com o advogado”, diz o PM no áudio. O caso agora segue para a Justiça, que marcou para 12 de setembro a instrução processual, que representa o começo do processo judicial, para que os PMs possam ser interrogados e também julgados. Os policiais aguardam em liberdade, mas ficaram cerca de um mês e meio presos.

Réus
Em 18 de junho, a Justiça de Goiás tornou réus os seis PMs que participaram da simulação. Os policiais foram acusados de duplo homicídio triplamente qualificado, por terem agido sem dar chance de defesa às vítimas, com motivo fútil e de forma dissimulada, marcando um encontro sem levantar suspeitas “quanto às intenções homicidas”. São eles:

1º Tenente Alan Kardec Emanuel Franco
2º Tenente Wandson Reis Dos Santos
2º Sargento Marcos Jordão Francisco Pereira Moreira
3º Sargento Wellington Soares Monteiro
Soldado Pablo Henrique Siqueira e Silva
Soldado Diogo Eleuterio Ferreira

A denúncia, segundo o órgão, explica a atuação de cada um dos policiais, assim como os meios usados por eles para esconder o crime e reforçar a ideia de que tudo não passava de um confronto, em que a equipe apenas revidou tiros que tinham sido disparados primeiro pelas vítimas. Para os promotores, os policiais Marcos, Wandson, Wellington e Pablo Henrique participaram ativamente das mortes. Já Allan Kardec e Diogo, agiram descaracterizados para ajudarem na execução.

Armaram encontro
Segundo a denúncia do MPGO, os policiais armaram um encontro com as vítimas para que “algo” fosse entregue. Um vídeo, divulgado pelo g1, reforça a afirmação ao mostrar Júnio dizendo que tinha um compromisso para buscar um “trem” na sede do batalhão do COD, ao meio-dia de uma segunda-feira. O local em que os dois homens foram executados fica a aproximadamente 2,2 quilômetros do batalhão. O crime também aconteceu, exatamente, em uma segunda-feira. Segundo o MPGO, o carro das vítimas estava estacionado próximo ao meio-fio do Centro de Treinamento do Vila Nova Futebol Clube. Marines estava dentro do carro, sentado no banco do motorista, enquanto Junio estava em pé do lado de fora, próximo à porta dianteira direita, quando os policiais se aproximaram e dispararam contra as vítimas. Uma investigação feita pela Corregedoria da Polícia Militar também concluiu que os PMs mentiram para justificar as ações e dificultar as investigações. No inquérito, é revelado que os policiais apresentaram diferentes versões sobre motivações, disparos e até horários da ocorrência.