Ilha do Bananal (TO) - Pegadas que seriam de indígenas que vivem isolados foram vistas na Ilha do Bananal, na região sul do Tocantins. Imagens que mostram as marcas de pés no chão fazem parte de um documento oficial do Ministério Público Federal (MPF). As cenas foram feitas na região conhecida como Mata do Mamão. O órgão pediu a interdição da área após um brigadista relatar que viu indígenas vivendo isolados no local. A intenção é protegê-los. Os indígenas foram avistados no dia 9 de outubro por um brigadista que atuava na região em um helicóptero para conter um incêndio florestal. Ele disse ter visto oito indígenas de uma etnia não identificada, sendo seis adultos e duas crianças. Em um vídeo feito da aeronave ele se mostra surpreso. "Duas crianças eu vi. Certeza! O resto do pessoal tudo cabeludo. Eles não tem cabelo cortado igual nós. Passou correndo tudo pelado. Não deu para ver se tinha flecha porque o helicóptero passou muito rápido e quando a gente voltou eles se esconderam", disse. O homem que avistou as pessoas cresceu em meio a indígenas da Ilha do Bananal e é falante da língua Iny, falada pelo povo Karajá e Javaé. Ele declarou aos responsáveis pelo combate às chamas que as pessoas avistadas são completamente diferentes dos povos Javaé e dos Karajá. De acordo com uma antropóloga ouvida pelo MPF, os indígenas avistados provavelmente são do povo Avá-Canoeiro, também conhecido como "Cara Preta". A coordenadora do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) do Goiás e Tocantins, Eliane Martins, diz que existem relatos da existência desses indígenas desde 1968 e que o instituto tem alertado às autoridades desde 2013 sobre a necessidade de proteção na área. Para ela, o que houve agora foi a confirmação de que eles vivem na região. "Cabe à Funai, especificamente, fazer a restrição de uso da área. Nessa restrição vai proibir a entrada e aproximação do territórios onde estão os isolados para proteção física e cultural desse povo", explicou Eliane. Para o procurador da república Álvaro Manzano, o desejo dos indígenas deve ser respeitado. "Se eles optaram até hoje por não fazerem esse contato, por permanecerem refugiados naquele espaço, nos entendemos que cabe respeitar isso e permitir com que eles permaneçam nesse local", disse. Dados do CIMI e da Fundação Nacional do Índio (Funai) apontam que em toda a Amazônia Legal existem cerca de 100 povos indígenas em situação de isolamento voluntário.
O outro lado
A Funai informou que a técnica da Fundação já atua na qualificação dos relatos de presença de indígenas isolados na região. "Trata-se de terra indígena já demarcada Inãwé Bohona, ocupada por indígenas Javaé e Karajá, que tem sobreposição com o Parque do Araguaia. Há, também, nas proximidades, a Terra Indígena Parque do Araguaia, ocupada por indígenas Tapirapé e Awá Canoeiro". Sobre o processo de interdição, a Funai explicou que isso acontece quando o local não passou pelo processo de estudo e demarcação. "Como se trata de área já demarcada, ela é de uso exclusivo dos indígenas, com os quais nossa equipe já dialoga sobre os cuidados em relação a possível presença de indígenas isolados e cuja área demarcada já é de responsabilidade das autoridades competentes proteger para que não seja invadida por não indígenas", informou.