Boa Vista ( Roraima) - O enfermeiro Gracione da Silva Santos, de 42 anos, assumiu a missão de cuidar sozinho dos seis filhos após ter perdido a mulher, Almiza Cristina Prado, vítima do coronavírus aos 37 anos. Um mês antes de morrer, e já infectada com o vírus, ela deu à luz em um parto de emergência no Hospital Geral de Roraima (HGR), em Boa Vista. Hoje com um ano de idade, a caçula divide a atenção do pai com os irmãos Thales, de 23 anos, filho do primeiro casamento de Gracione, além de Ayla, 15, Pedro, 12, Abraão, 8, e Gael, 3, filhos do enfermeiro com Almiza. "É difícil no início? É. Mas, depois a gente vê que não é impossível e eu amo ser pai. Se eu não pudesse ter filhos biológicos, eu adotaria, porque o amor é o mesmo. Amor é amor. A gente só sente e pronto. Não tem como comparar e medir", ensinou o enfermeiro em entrevista ao portal G1. Gracione e Almiza estavam juntos havia 15 anos (seis casados no papel). Além da mulher, ele perdeu o pai, a avó materna e, mais recentemente, sua mãe, que o apoiava após a partida da companheira. Hoje, é ele quem se desdobra entre os afazeres domésticos e a criação dos filhos. A pandemia alterou a rotina na casa de Gracione, principalmente com as aulas online dos três mais velhos: "Acho que educar é muito complicado. Eu tento ser um pai presente. Porque, como já não tem a mãe e a avó, eu tento fazer o que cabe a mim [...] São muito companheiros. Sabem das dificuldades que eu tenho, porque eles são muitos, para eu poder dar atenção, para fazer as coisas". Após a morte de Almiza, que era técnica em enfermagem e esteticista, Gracione pediu afastamento do trabalho e não recebeu nesse período. Ao potal G1, ele contou ter ficado no "vermelho" e recebeu apoio de pessoas que nem os conheciam. "Foi extremamente difícil. A gente tinha comprado muitas coisas, porque estámos com muitos planos. A perda, já foi difícil. Quem 'mexia' com a parte financeira, era a minha mulher. Era ela quem resolvia tudo. Aí fiquei sem nada. Sem a mulher, com um monte de dívidas. Fiquei sem o meu salário e sem o dela [...] Uma prima da minha mulher me perguntou se ela poderia fazer uma campanha na igreja dela, para doações de leite e fraldas, e eu concordei. Só que tomou uma proporção muito grande. Muita gente doou fralda e leite. A Valentina tomava um leite específico, que é caro." O enfermeiro voltou a trabalhar, mas pediu um novo afastamento quando a mãe morreu. Atualmente, ele faz acompanhamento psicológico: "Agora, me cobro muito mais. A gente acaba se anulando. Você deixa de fazer muita coisa. Eu não faço quase mais nada em prol de mim, é mais por causa deles. Mas uma coisa que eu gosto na vida é ser pai. Sempre quis ser pai".
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