Segunda-feira, 25 de
Novembro de 2024
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Luta pela vida

Orlando Morais: tentativa de suicídio

O cantor e compositor conta que se manteve firme contra a Covid-19 graças à mulher, Glória Pires, e fala sobre tentativa de suicídio

Foto: Divulgação
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o cantor e compositor goiano Orlando Morais de 59 anos ainda sofre as consequências da doença

11 abril, 2021

Durante os nove dias em que Orlando Morais ficou na UTI com Covid-19, os olhos negros de Glória Pires o ancoraram aqui na Terra. No olhar da mulher, ele encontrava a confirmação de que estava consciente. A atriz também foi a segurança em pessoa ao brotar de surpresa na casa do casal em Brasília, onde ele estava, dizendo: "Acabou a brincadeira, tô aqui e vou ficar". O marido não só havia resistido à presença dela por medo do contágio, como também à internação no hospital. Foram preciso duas noites ardendo em febre de 42 graus e sentindo o ar sumir do pulmão para que se convencesse. A partir daí, travou uma luta pela vida ("quando os aparelhos começavam a apitar, os enfermeiros falavam coisas lindas no meu ouvido", conta). E ela venceu ("não podia me permitir morrer"). Mas o cantor e compositor goiano de 59 anos ainda sofre as consequências da doença. Faz fisioterapia respiratória três vezes ao dia. Troca de roupa oito vezes por causa do suor que invade o corpo. A alma, no entanto, está com fome de viver. Projetos não faltam. Um deles é um disco em que deve cantar com as filhas (a enteada Cleo, Antonia e Ana). Mas há dois álbuns inéditos já prontos: um com a Velha Guarda da Portela (previsto para 2022); outro, do projeto Rivière Noire, seu trio com os franceses Pascal Danae e Jean Lamoot, com o qual ganhou Melhor Álbum de Música do Mundo, no Victoire de La Musique, o Grammy francês. Na conversa a seguir, ele diz que sofreu com a "implicância" de parte do público brasileiro por ser casado com Glória Pires ("diziam que ela mandava botar minhas músicas nas novelas que fazia"), conta que o momento mais difícil do casamento foi o boato perverso de que teria um caso com Cleo ("aquilo foi muita maldade, me senti impotente") e revela detalhes de uma tentativa de suicídio aos 13 anos (me sentia inapto para a vida").

Como se sente agora? E como foi a sua experiência com a Covid-19?

Finquei os olhos nos olhos da Glória e ficava linkado nela para o caso de algo acontecer. Mesmo quando ela estava dormindo, eu ficava olhando. Era a referência para eu não sair de mim. Mesmo quando ficava de bruços, virava e procurava aqueles olhos. Sentia que minha vida estava ali, que, se desvinculasse, não conseguiria voltar. Glória virou um bicho acuado, me olhava de um jeito, tipo: "Cara, não vai embora". Tenho um pacto de vida eterna com a Cleo, que me ligou lembrando (risos). Antonia dizia que não conseguia encontrar meus olhos. Ao mesmo tempo, eu estava lúcido, pensando: "Meu Deus, se acontecer alguma coisa vai ser uma piração com eles". A gente vive muito junto. Na minha casa tudo pode, se fala sobre tudo, ninguém pune ninguém. Não somos exemplo para ninguém, mas a nossa coisa junto é muito foda.

Em “Orlamundo”, você diz que a música te salvou e termina o filme dizendo: “aos 13, tentei me suicidar”, sem explicar mais nada. Como foi isso?

Me achava inapto para viver. Tinha medo de noite, da escuridão, de tudo. Desencantei da vida. Não tinha motivo, lembro de pensar: “Não nasci para estar vivo, não consigo”. Foi com remédio. Minha irmã tinha leucemia, e ouvi o médico dizendo à minha mãe: “Guarda esse remédio em outro lugar, se alguém toma 3 ou 4...”. Aquilo ficou na minha cabeça e, em vez de me jogar de um lugar, tomei uma caixa inteira. O olhar do meu pai no hospital nunca saiu da minha cabeça, era o mais triste do mundo. Naquele momento, agarrei a vida e prometi que nunca mais ia morrer. Ele nunca tocou no assunto. Nem eu. Às vezes, eu o abraçava e queria dizer que aquilo nunca mais ia acontecer. Mas não consegui.