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Novembro de 2024
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Fraude

Investigados simulavam compra de gado para pegar financiamentos no Banco da Amazônia, aponta PF

Polícia investiga pessoas que pegaram financiamentos e funcionários do próprio banco

Foto: PF/Divulgação
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Agente da Polícia Federal cumprindo mandado na operação Bois de Papel

07 março, 2024

A operação da Polícia Federal que investiga fraude em financiamentos pelo Banco da Amazônia, em Paraíso do Tocantins, foi chamada de Bois de Papel porque os envolvidos supostamente simulavam a compra e venda de gado. Para a polícia, o objetivo era demonstrar a aplicação correta do dinheiro, que na verdade seria usado em outras finalidades. O g1 e a TV Anhanguera procuraram o banco, mas não houve resposta até a publicação desta reportagem. Os detalhes do esquema estão na decisão da Justiça Federal que autorizou a operação da Polícia Federal. Na manhã desta quinta-feira (7/2) foram cumpridos 18 mandados de busca, além do afastamento de funcionário do banco, sequestro e indisponibilidade de bens. "A autoridade policial entende que existe indícios de que os investigados acima tenham obtido financiamentos bancários para a compra do gado movimentado, mas teriam utilizado os valores para outros fins", diz trecho da decisão que a TV Anhanguera e o g1 tiveram acesso. As supostas fraudes teriam acontecido entre os anos de 2014 e 2021, movimentando R$ 94 milhões. A investigação começou após uma denúncia anônima informando das supostas fraudes envolvendo funcionários do Basa e financiamentos com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte. A denúncia apontava que fiscais do banco estariam auxiliando os proprietários rurais na elaboração e aprovação de projetos que não condiziam com o uso real dos recursos. Parte destes financiamentos seria destinados à compra de gado. A partir disso, a PF passou a analisar as guias de trânsito animal emitidas em nome das pessoas que pegaram financiamentos. Segundo a decisão, foi apurada emissão de guias com origem e destino alternados, nas mesmas quantidades e em curto espaço de tempo. Em um dos casos, um investigado teria adquirido 128 animais no dia 5 de fevereiro de 2015. Só que a mesma quantidade de animais foi devolvida ao vendedor no dia 14 de abril de 2015. "[...] indicando que possivelmente o trânsito desses animais não teria ocorrido, havendo indícios de que os documentos teriam sido emitidos possivelmente para simular uma transação comercial inexistente”, diz trecho da decisão.

Altos valores de empréstimos
Outro ponto que chamou atenção dos investigadores foi a quantidade de financiamentos para os mesmos clientes em curto espaço de tempo. Um deles conseguiu 14 empréstimos totalizando e R$ 37.932.195,74, entre 2013 e 2021. Outro conseguiu oito empréstimos, entre 2019 e 2022, totalizando R$ 10.131.854,33. “Sobre isso, impede registrar que se mostra bastante incomum no sistema financeira nacional a elevada concentração de financiamentos em nome de apenas poucas pessoas, em decorrência do elevado risco que tais operações oferecem às instituições bancárias”, diz o juiz. Ainda conforme a decisão, há suspeita de que funcionários do banco tenham recebido propina para liberação dos financiamentos, seja com o pagamento direto em dinheiro, pagamento em bens, serviços e agrados.

Entenda
Ao todo, foram cumpridos 18 mandados de busca e apreensão nas cidades de Paraíso do Tocantins (TO), Palmas (TO) e Nova Rosalândia (TO), além de Ituiutaba (MG) e Araguari (MG). As ordens judiciais foram expedidas pelo Juízo da 4ª Vara Federal Criminal da Seção Judiciária do Tocantins. Além das buscas, a polícia também cumpre ordem de afastamento de funcionários do emprego público, além do sequestro e indisponibilidade de bens e valores dos envolvidos até o montante de R$ 3.962.152,13. A Polícia Federal identificou que empregados públicos do Basa promoveram direcionamento para favorecer a participação de determinados projetistas que participavam do suposto esquema. O modo de agir do grupo também passava pela emissão de Guias de Transporte de Animal Vivo falsas, simulando a compra e venda de gado bovino que jamais existiu de fato. Há evidências, segundo a polícia, de que os suspeitos teriam atuado na referida agência entre os anos de 2014 e 2021. Nesse período foram concedidos aproximadamente R$ 94 milhões em financiamento desse mesmo objeto. Por isso, a operação busca identificar se outras fraudes semelhantes foram cometidas. Os investigados podem responder por crimes financeiros, lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa, cujas penas somadas podem ultrapassar 36 anos de reclusão.