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Laranjas

Investigada por desvios na Afipe, ex-doméstica movimentou milhões em contas, teve avião e se tornou sócia de rádios

Conselheira fiscal da Associação dos Filhos do Pai Eterno, entidade fundada pelo padre Robson, foi sócia em pelo menos três rádios e movimentou R$ 4 milhões em contas. O religioso nega irregularidades

Foto: Reprodução/Facebook
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Celestina Celis Bueno figurou sócia em empresas e movimentou milhões, Goiás

28 agosto, 2020

Goiânia (GO) - Investigada pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) por figurar em diversas transações financeiras milionárias entre as associações religiosas então comandadas pelo padre Robson de Oliveira e empresas, Celestina Celis Bueno é apontada como uma pessoa de confiança e muito ligada ao pároco. Devido à proximidade, a mulher de 59 anos que começou a trabalhar como doméstica no Santuário Basílica de Trindade, com salário médio de R$ 1 mil mensais, se tornou dona de pelo menos três emissoras de rádio, teve um avião e uma casa luxuosa na praia, além de já ter recebido R$ 4 milhões. Fundador da Associação dos Filhos do Pai Eterno (Afipe), responsável pela gestão do santuário, padre Robson se afastou da entidade após a Operação Vendilhões, realizada pelo MP-GO para apurar o desvio de R$ 120 milhões doados por fiéis. Ele nega qualquer irregularidade.A defesa informou em nota que ainda se dedica ao inquérito próprio (PIC), ao qual teve acesso apenas nesta semana. "Tão logo os advogados acessem todas as suposições do Ministério Público do Estado de Goiás, as informações necessárias serão prestadas e esclarecidas ponto a ponto. O padre Robson é o maior interessado na verdade e na transparência. A defesa aguarda e insiste com o Ministério Público para que ele seja ouvido, o que não aconteceu nem foi agendado até então". O G1 tentou contato com Celestina Celis Bueno por ligação, na quinta-feira (27), às 19h38, mas o telefone estava desligado. A reportagem pediu um posicionamento por e-mail e aguarda retorno. A advogada dela, Cláudia Seixas, disse que não irá se manifestar, em respeito às investigações. Conheça a trajetória do padre Robson e entenda a investigação do MP
O avião e uma luxuosa casa na praia de Guarujaba (BA) pertenciam às rádios em que Celestina atuou como sócia, durante quatro anos, o que levou a ser proprietária desse patrimônio. Ela também trabalhou como conselheira fiscal da Associação dos Filhos do Pai Eterno (Afipe), entidade fundada e administrada pelo padre Robson. Celestina começou a trabalhar como doméstica no Santuário, entre 2011 e 2014, com salário médio mensal de R$ 1 mil. Ainda assim, virou sócia de pelos menos três rádios, como aponta a investigação do MP. Padre Robson alega que Celestina entrou nos negócios para ajudar as associações a realizarem os investimentos, que envolvem questões burocráticas. No entanto, o MP aponta que ela pode ter sido usada como “laranja” nas transações, assim como outros investigados. “Ela não teve nenhum benefício pessoal e entrou por pura bondade, por querer ajudar como uma pessoa de confiança nossa. Não tem nada a ver com laranja. Ela tem uma relação de muita amizade e proximidade comigo”, afirmou o padre. O MP mostrou o nível de familiaridade entre Celestina e o padre, quando narram que a mulher também administra construções e reformas, aparentemente de questões pessoais do pároco, inclusive uma obra da casa dele. “Ela ligava para pessoas repassando orientações sobre uma obra que seria da casa do padre Robson”, revela trecho da investigação. Padre Robson também foi extorquido, em 2017, por hackers que invadiram seus celulares e contas de e-mails e ameaçaram expor casos amorosos e irregularidades na condução dos trabalhos. À época, o padre pagou R$ 2,9 milhões com dinheiro da Afipe para comprar o silêncio dos hackers. Deste valor, o MP aponta que R$ 1,2 milhão ficou como prejuízo. A defesa do padre diz que todo valor foi recuperado e está depositado em conta judicial.

Entenda a investigação contra o padre Robson

Os promotores de Justiça apuram desvios na ordem R$ 120 milhões em doações de fiéis por parte da Afipe, presidida até então pelo padre Robson, figura presente na cena católica e bastante famoso no Brasil. O dinheiro teria sido usado para compra de casa em praia, mais de 50 fazendas e empresas de comunicação. A investigação do MP aponta que a entidade recebe e gerencia cerca de R$ 20 milhões por mês. A biografia da entidade relata que as doações recebidas são voltadas para a evangelização por meio da TV e para obras sociais. O MP defende que os indícios da prática de crimes de apropriação indébita, lavagem e ocultação de bens e organização criminosa são reforçados em função da incompatibilidade entre a natureza das transações com as finalidades da associação religiosa e os vínculos entre pessoas físicas e jurídicas. Para os promotores, essas transações sempre foram prejudiciais financeiramente para a Afipe, com anuência do padre Robson e de seus diretores.

5 pontos para entender as investigações sobre o Padre Robson

Sociedade em rádios e venda de bens

Segundo o MP, Celestina Bueno virou sócia de pelo menos 3 rádios em 2014. Uma delas recebeu R$ 90 milhões em transferências feitas pelas Afipes, ao longo de 10 anos analisados pelo MP. Porém, não há detalhamento para qual finalidade o dinheiro foi empenhado. Enquanto sócia de uma das empresas, a companhia vendeu uma casa na praia de Guarajuba (BA) para a Afipe no valor de R$ 2 milhões, segundo extratos da transação que estão nos autos. O MP aponta que pouco tempo depois, uma das associações comprou um avião de R$ 2 milhões, vendido por uma das rádios em que Celestina também figurava como sócia. O padre Robson disse ao Fantástico que o “avião era muito velho”, mas que precisava dele para se locomover pelas cidades pequenas do Brasil. Ainda segundo o padre, o grupo que chefiava a Afipe entendeu que era "melhor fazer investimentos", assim compraram fazendas, gado, e imóveis. "Fizemos investimentos que são totalmente dentro das finalidades da entidade e totalmente lícitos, por isso a gente foi fazendo e chegamos a um patamar grande", explicou Robson.
 

Primeira rádio

A funcionária da Afipe entrou como sócia em uma rádio adquirindo 1% da participação, em 25 de agosto de 2014, onde permaneceu até 30 de novembro de 2018. No período em que foi sócia, efetuou um depósito de R$ 2,7 milhões em favor da empresa, em 18 de abril de 2016. Três meses depois, em 29 de julho, a rádio recebeu mais R$ 2 milhões da Afipe. Entre abril e outubro de 2016, a conta de uma das rádios em que Celestina era sócia movimentou R$ 9,3 milhões, dos quais R$ 5,3 milhões foram depositados como crédito, dentre eles, o depósito dela e da Afipe. Celestina deixou a sociedade sem receber qualquer valor como pagamento pela venda da cota, segundo o MP.

Segunda rádio

A investigação detalhou a participação de Celestina como sócia em uma segunda rádio. Nesta empresa, ela ingressou em outubro de 2014, onde ficou até 2016. Desta vez, os promotores afirmam que ela saiu da empresa recebendo R$ 4 milhões como pagamento de suas cotas, valor inclusive declarado no imposto de renda. O montante, porém, foi depositado em sua conta entre os meses de julho e setembro de 2015, ou seja, um ano antes de deixar a empresa. A movimentação bancária e societária de Celestina envolve valores milionários nos meses em que atuou como empresária, entretanto, nos meses sem lançamentos, segundo o MP, a conta dela tem uma média de R$ 1,8 mil em débitos. “Os valores indicam que Celestina vem cedendo e usando seu nome e conta bancária para passagem e lavagem de dinheiro através de empresas de comunicação”, sugerem os promotores.

Fontes: G1 Goiás/ www.poptvnews.com.br