Domingo, 24 de
Novembro de 2024
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Vacina Sim!

Grandes nomes da música celebram a vacinação e combatem o negacionismo

Aos 78 anos, o cantor havia recebido a segunda dose da vacina AstraZeneca. “A sensação de que podemos estar protegidos é boa”, comenta Caetano Veloso

Foto: Divulgação
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Para alegria dos fãs da música brasileira, Gil não é único imunizado de sua geração

30 maio, 2021

Gilberto Gil se lembra bem do que sentiu ao acompanhar, pelo noticiário, a primeira aplicação de uma vacina contra o coronavírus no Brasil. “Foi aquela sensação de futuro mais auspicioso, a primeira quebra daquela situação totalmente negativa que vinha até ali. Aparecia uma luz qualquer no ‘início’ do túnel”, descreve. Já imunizado com as duas doses da CoronaVac, a primeira recebida em Salvador e a segunda no Rio, o cantor, de 78 anos, não vê a hora de ter o país inteiro vacinado, do mesmo jeito que almeja dias melhores no cenário cultural. “Há um deficit muito claro de atenção, de cuidado e de gosto pela cultura, especialmente no governo federal. Mas isso também é passageiro. Daqui a algum tempo, seguramente, teremos um outro governo com uma preocupação de fato.” Para alegria dos fãs da música brasileira, Gil não é único imunizado de sua geração. Assim como ele, Caetano Veloso, Fafá de Belém, Gal Costa, Jards Macalé, João Bosco e Tom Zé não só receberam as vacinas disponíveis no Brasil como se tornaram entusiastas da imunização. A seguir, mostramos os seus depoimentos sobre o tema, acompanhados de um ensaio exclusivo, clicado pelo fotógrafo Fe Pinheiro.

Caetano

Às voltas com a gravação de um novo álbum, Caetano Veloso entrou para o estúdio com uma leve dor no braço direito, na noite da última quarta-feira. Aos 78 anos, o cantor havia recebido a segunda dose da vacina AstraZeneca. “A sensação de que podemos estar protegidos é boa”, comenta. Como ele mesmo mostrou nas redes, a imunização foi celebrada também pela equipe do SUS que o atendeu, no Rio. “Foram todos muito simpáticos, tanto na primeira quanto na segunda vez. Dá um ânimo, com a impressão de que estamos ali juntos para enfrentar esse negócio de vírus e há vitalidade suficiente para isso.” Uma postura bem diferente da adotada pelas autoridades brasileiras, segundo Caetano. “Estamos numa situação de baixo nível político”, reclama. “A posição oficial do Brasil é péssima. Tudo é feito com muita confusão. Uma mistura de erro básico com incompetência funcional.”

Elza

Com uma agenda lotada de lives e compromissos, além de apresentações presenciais marcadas para o ano que vem, Elza Soares se viu mais próxima de retomar a rotina agitada, depois de receber as duas doses da vacina. Mas apenas a própria imunização não basta para a cantora de 90 anos. “As pessoas têm que se vacinar, por favor! Quero voltar ao palco. Nunca parei”, diz, após classificar como “loucura” o movimento negacionista em relação à pandemia. Feliz com o envolvimento dos colegas da música com o tema, ela fez um pedido eloquente à reportagem: “Escreva grande, para mim: VACINA SIM”.

Tom Zé

Tom Zé foi imunizado com a AstraZeneca e, ao ser fotografado para este ensaio, ainda aguardava a segunda dose. A aplicação estava agendada para anteontem, respeitando o intervalo indicado. Mas a sensação ao receber a primeira dose, ele diz, já se tornou inesquecível. “Como foi no Pacaembu, bem em frente aos portões, me lembrei da primeira vez em que um amigo me levou pra ver o Rivelino, ainda no segundo time do Corinthians”, conta. Aos 84 anos, o músico está ansioso pelo fim da pandemia. “Quero retomar o meu emprego”, planeja, enquanto lamenta os ataques sofridos pela classe artística nos últimos anos. “Espero que a cultura, em algum momento, deixe de ser um crime.”

Fafá

A risada inconfundível de Fafá de Belém serve de ponto final ao narrar o único “efeito colateral” provocado pela vacina. “Eu dormi”, diverte-se a cantora, de 64 anos, ao relembrar o alívio sentido. “Foi tanto tempo de angústia, que dormi um dia inteiro.” Preocupada com os ataques à saúde e à cultura, ela reflete sobre o cenário atual do país. “Nada é pior do que a ignorância. Ela quer ter razão, não se curva às evidências, e o ignorante, quando empedernido na sua ignorância, não se abre a novos horizontes. Essas pessoas correm risco e colocam as outras em risco. Espero que as vacinas cheguem, e esse país seja vacinado na sua grande maioria, porque é esse povo que nós somos.”

Gal

Assim que viu a primeira brasileira imunizada com a vacina contra o coronavírus, Gal Costa começou a torcer para que cada vez mais braços recebessem aquela injeção. “Quando chegou minha vez, senti uma emoção profunda. Já tomei as duas doses da CoronaVac e agora estou rezando para que as vacinas cheguem para todo o povo brasileiro”, vislumbra a cantora, de 75 anos. Do mesmo jeito, ela deseja que as pessoas tenham cada vez mais clareza sobre o quanto a ciência e a cultura são fundamentais para a sociedade. “Não podemos viver num mundo onde se negam essas duas coisas. A cultura é importante para todos os seres humanos. Tira a gente do difícil exercício do cotidiano, faz a gente sonhar. As artes são importantíssimas para um povo.”

João

Tomar as duas doses da vacina, aos 74 anos, é um privilégio, aos olhos de João Bosco. “Você se sente mais seguro, mas não deixa de se preocupar com a situação do Brasil. É um país cada vez mais desigual, principalmente agora, quando a faixa de pobreza aumentou de forma considerável”, lamenta. “Tivemos o azar de conjugar um momento de crise sanitária com um governo que não está à altura da responsabilidade exigida. Pelo contrário, faz exatamente o que não deveria ser feito.” Ao lembrar que os últimos meses foram de perdas de amigos e familiares, ele afirma que tem produzido artisticamente dentro dessa atmosfera, mas ainda não tem condições de avaliar o que tem em mãos. “Vou ter que olhar para esse material numa outra hora, de fora, quando tudo isso passar. E espero que passe.”

Macalé

“Eu me emocionei, confesso que chorei.” A frase dita por Jards Macalé descreve o que sentiu ao receber a primeira dose da vacina. “Peguei uma carona na CoronaVac”, brinca, enquanto demonstra seu fascínio com os esforços em torno da produção do imunizante, durante a pandemia. “Em seis meses, toda a ciência se movimentou com um único objetivo, que é o da cura, da permanência da vida, da proteção do ser humano. E aí, quando chega a sua vez, não é só a emoção de ser protegido, mas da solução de um problema gravíssimo.” Aos 78 anos e imunizado com as duas doses, o músico também vibra a cada colega que vivencia a mesma experiência. “Fico feliz ao vê-los se manifestando a favor da vacinação e do SUS, um sistema fantástico de saúde, reconhecido mundialmente. Um serviço como esse é uma coisa que honra qualquer país.”