Domingo, 24 de
Novembro de 2024
Geral

Corrupção

Delegado preso por cobrar propina

O delegado Maurício Demétrio Afonso Alves, preso no fim de junho sob a acusação de comandar uma quadrilha que cobrava propina de comerciantes

Fotos: Divulgação
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A corrupção campeia em quase todos os setores da administração pública no estado do Rio de Janeiro

17 julho, 2021

Petrópolis (RJ) - A conjuntura que culminou com a saída de duas promotoras da Força-Tarefa do Caso Marielle no Ministério Público do Rio, publicada em primeira mão pelo GLOBO  sábado (10/7), ganhou uma nova revelação nesta segunda-feira. O "RJTV 2ª Edição", da TV Globo, mostrou que o pedido de afastamento feito por Simone Sibílio e Leticia Emile teve como pano de fundo a descoberta de que o delegado Maurício Demétrio Afonso Alves, preso no fim de junho sob a acusação de comandar uma quadrilha que cobrava propina de comerciantes em Petrópolis, teve acesso a informações sigilosas das investigações sobre as mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista dela, Anderson Gomes, ocorrida em março de 2018. De acordo com a reportagem, dados que fazem parte do processo estavam no e-mail de um ex-policial civil que teve o sigilo telemático quebrado com autorização da Justiça. Ainda segundo a TV Globo, o ex-policial seria ligado à contravenção e também foi investigado pelas execuções de Marielle e Anderson. Demétrio argumentava que o ex-policial era um desafeto dele, que o estaria monitorando e colocando sua vida em risco. Segundo o delegado, tal cenário o colocaria em risco, como vítima de uma suposta organização criminosa. Para as promotoras, contudo, a estratégia serviu para que ele desse uma demonstração de força e poder contra antigos rivais, ainda conforme noticiou o "RJTV". Demétrio teria, então, protocolado petições no no Ministério Público Eleitoral e também no Ministério Público Federal. Com isso, como mostrou a reportagem, informações secretas do caso Marielle e Anderson acabaram expostas, sem autorização judicial. Por conta disso, Demétrio foi denunciado por crime de violação de sigilo. Em seguida, segundo a TV Globo, o delegado procurou a Delegacia de Homicídios da Capital (DH), que investiga as mortes, para tentar formalizar o acesso aos dados sigilosos. Então responsável pela DH, o delegado Moysés Santana disse, em depoimento, ter recebido Demétrio a pedido do secretário de Polícia Civil, Allan Turnowsky, com a orientação de que o ajudasse no que fosse possível. Moysés, entretanto, nega ter fornecido qualquer conteúdo sigiloso ao colega de função. Moysés Santana acabou retirado da DH por Turnowsky.

Exoneradas a pedido

Simone Sibílio e Leticia Emile foram exoneradas da força-tarefa a pedido. Em comunicado, o MPRJ confirmou que as duas promotoras optaram, voluntariamente, por não mais atuar no grupo. Nesta segunda-feira, o MP-RJ informou que os substitutos ainda não foram definidos, mas que "a escolha dos nomes para atuar na força-tarefa que investiga o caso Marielle Franco e Anderson Gomes terá todo o cuidado necessário para que essa mudança não programada não prejudique a investigação destinada à apuração de eventuais mandantes do crime e tenha o êxito esperado pela sociedade". O órgão acrescentou ainda que "tão logo sejam escolhidos os substitutos, eles serão anunciados publicamente e apresentados aos familiares de Marielle e de Anderson". Há cerca de um mês, a Polícia Civil do Rio apresentou ao procurador-geral de Justiça, Luciano Mattos, a viúva do ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, Júlia Lotufo, para fazer uma delação premiada em troca de benefícios como a revogação da prisão — atualmente ela se encontra presa em casa e fazendo uso de tornozeleira eletrônica. Ao assinar o termo de colaboração, que ainda não foi homologado, Júlia estaria disposta a denunciar o submundo do crime organizado, principalmente envolvendo a contravenção, a qual Adriano pertencia. O ex-PM foi morto na Bahia, em fevereiro do ano passado, de acordo com a polícia daquele estado, num confronto. A viúva de Adriano também teria pistas sobre os mandantes do Caso Marielle, razão pela qual teria sido apresentada às promotoras da força-tarefa pela delegada da Coordenadoria de Investigação de Agentes com Foro (Ciaf) da Polícia Civil, Ana Paula Costa Marques. No meio do processo, porém, houve um desacerto. De acordo com as fontes do MPRJ, as promotoras da Força-Tarefa do Caso Marielle e o titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), Moysés Santana, foram alijados da negociação sobre a colaboração de Júlia. O processo foi redirecionado ao promotor que atua na 1ª Vara Especializada Criminal, onde a viúva do ex-capitão responde por associação criminosa e lavagem de dinheiro, com a coordenação da delegada Ana Paula. Sem conhecer detalhes do processo do Caso Marielle, que já possui mais de 40 volumes, o promotor da 1ª Vara Especializada teria dificuldade de confrontar as informações trazidas por Júlia Lotufo com as peças da investigação, para verificar a veracidade do depoimento da viúva de Adriano. Também pesou para a crise o não envolvimento da DH, que conduz a investigação sobre as mortes de Marielle e Anderson desde o primeiro momento, enquanto a Ciaf é especializada em crimes de atribuição originária do procurador-geral de Justiça — geralmente, casos chamados de crime do colarinho branco, com conotação política.