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Delegado fraudou documentos do Detran

Para o MPRJ, o objetivo de Demetrio era o de não produzir provas documentais de que o veículo do Toyota fosse dele

Foto: Divulgação
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Além de ser acusado de chefiar um esquema de propinas, Demétrio responde ao crime de lavagem de dinheiro ou ocultação de bens de três veículos

07 janeiro, 2022

Em 5 de maio do ano passado, o motorista de um Toyota Hilux modelo SW4, placa EKK0F66, acionou o controle do sistema de segurança de um condomínio de luxo da Barra da Tijuca, onde morava, para levantar a cancela da portaria e entrar com seu veículo. No banco de dados da administração do condomínio, o carro registrado pelo morador para utilizar o passe eletrônico que lhe dá acesso à garagem era um Fusion preto com outra placa. Imagens de câmeras de segurança serviram de provas para o Ministério Público do Rio (MPRJ) constatar que a Toyota Hilux pertence ao delegado Mauricio Demetrio Afonso Alves, embora o bem não estivesse registrado no Detran em seu nome. Além de ser acusado de chefiar um esquema de propinas, Demétrio responde ao crime de lavagem de dinheiro ou ocultação de bens de três veículos. Todos eles são blindados. Segundo o Grupo de Atuação no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ, os veículos fazem parte de um total de R$ 2,8 milhões em bens pertencentes a Demetrio, bloqueados pela Justiça desde o ano passado. Além do utilitário da Toyota, os investigadores descobriram que um Mercedes-Benz GL 350 e uma Land Rover Evoque também seriam dele. De acordo com a denúncia, o policial civil não só ocultou o bem como ainda fraudava registros de propriedade no Detran. Os carros foram apreendidos durante a prisão de Demétrio, em junho do ano passado. De acordo com a denúncia do MPRJ, o delegado usou dinheiro proveniente de propinas exigidas de empresários e comerciantes para a compra de bens. Demetrio era titular da Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM). Ele se tornou réu em processo no qual é acusado de “institucionalizar um sistema de pagamentos de propinas” dentro da especializada, conforme consta na decisão do juiz auxiliar Bruno Rulière da 1ª Vara Criminal Especializada, específica para crimes envolvendo organizações criminosas. Em sua decisão, Rulière destaca: “De plano, registre-se que apesar de não constar como formalmente sob sua titularidade, foi produzido um conjunto probatório denso quanto ao benefício direto ou indireto do delegado de Polícia Mauricio Demetrio Afonso Alves, externando a figura de verdadeiro dono desses veículos. Neste ponto, foram colhidos relatórios de acesso dos veículos ao seu condomínio residencial, atrelado às imagens do circuito interno de câmeras deste local (apontando o uso dos automóveis), informação cadastral da empresa “Sem Parar” (que funciona disponibilizando meio de pagamento de pedágios, estacionamentos de veículos, etc.).” Os investigadores constataram que o delegado não atualizou o registro do Toyota no condomínio deliberadamente. Quase dois anos depois da venda do Fusion/Ford, em 4 de setembro de 2019, os dados do carro ainda eram mantidos no sistema de controle do condomínio. Para o MPRJ, o objetivo de Demetrio era o de não produzir provas documentais de que o veículo do Toyota fosse dele. De acordo com a denúncia, as imagens das câmeras de monitoramento do condomínio e informações do sistema de controle de trânsito da portaria comprovaram que o carro era usado por ele. No processo de Demetrio na Justiça, há uma foto feita a partir da reprodução de um vídeo da portaria que mostra o Toyota entrando no condomínio às 17h58 do dia 5 de maio de 2021. Em seguida, às 18h03, o delegado aparece no elevador do prédio onde vivia, conforme uma outra fotografia anexada aos autos. Para os investigadores, seria o tempo de ele ter estacionado o carro e subido para sua residência. Outras duas fotos no processo, feitas a partir de imagens do sistema de câmeras do condomínio, indicam que um veículo Mercedes-Benz GL 350, ano 2015, também pertence a Demetrio, segundo a promotoria. Desta vez, a imagem capturada em 4 de maio do ano passado mostra o delegado dentro do elevador com a mulher Verlaine da Costa Pereira Alves, às 9h22. Ele veste uma blusa com o nome de uma marca famosa estampado na frente. Após oito minutos, ele aparece em outra imagem sentado no banco do carona do Mercedes-Benz dirigido pela esposa, na saída do condomínio. Verlaine também foi denunciada pelo MPRJ por ocultação de bens. De acordo com o Gaeco, ao contrário do Toyota, o Mercedes-Benz estava cadastrado no endereço de Demetrio desde 2 de agosto de 2020. No entanto, a denúncia cita que: “o denunciado não providenciou as alterações pertinentes no registro do automóvel junto ao Detran-RJ, com o irrefutável intento de omitir a real propriedade do bem”. Por último, o veículo Land Rover Evoque, ano 2015/2016, estava registrado no Detran em nome de uma empresa de acessórios e equipamentos para automóveis. Os investigadores também anexaram fotos de Demetrio no elevador do prédio onde morava, logo depois de ter entrado com o carro na portaria, em 22 de abril do ano passado. Só que desta vez, segundo o MPRJ, o delegado descobriu que havia uma investigação em andamento contra ele. Em 10 de junho, portanto quase dois meses depois de o carro ter sido flagrado no condomínio com o alvo, a esposa fez o registro da Land Rover em seu nome no Detran. Segundo o Gaeco, o casal já tinha o veículo desde, pelo menos, 30 de julho de 2019. O advogado Raphael Mattos, que defende Demetrio, admitiu que “há três acusações de suposta lavagem de valores na compra de carros”. No entanto, ele afirmou o seguinte, por mensagem de texto: “Até o momento todas as compras foram esclarecidas pelos próprios vendedores em juízo, pois os carros foram comprados parcelados e tiveram problemas burocráticos na documentação (somados à paralisação do Detran em razão da pandemia). Não houve qualquer fraude ou acusação neste sentido”. De acordo com pesquisa na tabela da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) de janeiro deste ano, juntos, os três carros estão avaliados em cerca de R$515 mil, mas sem o valor da blindagem, o que os torna ainda mais caros.