Segunda-feira, 25 de
Novembro de 2024
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Máfia

Como funcionava a máfia das apostas

infográfico mostra os jogadores, os apostadores e os lances vendidos

Foto: Reprodução
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O MPGO não divulgou quais serão os próximos passos da operação

28 maio, 2023

Uma investigação do Ministério Público de Goiás (MPGO) levantou centenas de provas que trouxeram à tona um dos maiores escândalos do futebol brasileiro. A “Operação Penalidade Máxima” apontou o envolvimento de jogadores em um esquema de manipulação de resultados de partidas. Segundo as investigações, para cometer as fraudes, os atletas eram acionados por apostadores, que prometiam dinheiro por penalidades específicas:

número determinado de faltas;
levar cartão amarelo;
garantir um número específico de escanteios para um dos lados;
atuar para a derrota do próprio time.

Foram identificadas fraudes em partidas do Campeonato Brasileiro da Série A e da Série B de 2022 e de campeonatos estaduais realizados em 2023. Para detalhar como foram as fraudes em cada jogo, o g1 criou um infográfico que detalha quem são os atletas envolvidos, os valores das propostas de retorno financeiro e se as penalidades foram cometidas.

Entenda como funcionava o esquema

Victor, do grupo de apostadores, propôs ao jogador Moraes Júnior que tomasse um cartão amarelo na partida, o que ele fez. Bruno, Romário Hugo (Romarinho), Gabriel e Ícaro ofereceram pagamento para que Eduardo Bauermann, que cumpriu o combinado, levasse um cartão amarelo. Kevin Joel Lomónaco tomou um cartão amarelo por R$ 70 mil, proposta feita por Luís Felipe, membro do grupo de apostas. Igor Cariús recebeu a proposta de R$ 60 mil por um cartão amarelo. Não há informação nos documentos do Ministério Público se o lance foi efetuado. Victor Ramos Ferreira recebeu a proposta de Pedro Gama para fazer um pênalti por R$ 100 mil, mas não cumpriu o acordo. Procurado pelo apostador Victor, Moraes Júnior tomou um cartão amarelo por R$ 30 mil por um cartão amarelo. Bauermann aceitou um valor, que não foi revelado pelo MP, por uma expulsão, em proposta feita pelo apostador Romário Hugo, mas não conseguiu cumprir o acordo. Jonathan (Paulo Miranda) recebeu a proposta de Bruno e Ícaro, parte do esquema de apostadores, por um cartão amarelo, que de fato recebeu. Gabriel Tota recebeu a proposta de R$ 60 mil de Bruno e Ícaro por um cartão amarelo. Não há informação nos documentos do Ministério Público se o lance foi efetuado. Jean Martim recebeu de Marcos Vinícius (Romário) a proposta de R$ 50 mil por um pênalti no primeiro tempo, mas o jogador não aceitou. Nikolas Santos Faria recebeu a proposta de R$ 80 mil por um pênalti dos apostadores Bruno e Luis Felipe. Ele fez o lance. Igor Cariús da Silva foi acionado pelos apostadores Bruno, Ícaro e Luís Felipe. Eles queriam que ele levasse um cartão amarelo. Ele aceitou e levou o cartão. Gabriel Tota recebeu proposta de R$ 50 mil por um cartão amarelo. Não há informação no documento do MP de se o jogador completou ou não o combinado na aposta. Jarro Pedroso recebeu a proposta de R$ 70 mil dos apostadores Victor e Bruno por um pênalti. Ele cumpriu o combinado com o grupo. O valor não foi revelado pelos documentos do MP, mas Igor Aquino recebeu uma proposta para tomar um cartão amarelo. A proposta para Emilton Pedroso foi de R$ 70 mil para cavar um pênalti em partida do Gauchão deste ano. A proposta para cometer um pênalti no primeiro tempo foi de R$ 150 mil e partiu de Ygor de Oliveira (Ygor Catatau) e Luís Felipe Rodrigues. O MPGO apurou que o próprio Ygor foi cooptado, mas além dele, Allan Godoi dos Santos, André Luís Guimarães Siqueira Júnior (André Queixo), Mateus da Silva Duarte (Mateusinho) e Paulo Sérgio Marques Corrêa também receberam a proposta. Mateusinho cometeu o pênalti. O zagueiro Eduardo Bauermann recebeu pelo menos R$ 50 mil para levar um cartão amarelo na partida. Bruno Lopez, Ícaro Fernando e Romarinho intermediaram a conversa com o jogador. Bauermann não cometeu a penalidade. A proposta para que o jogador Fernando Neto recebesse um cartão vermelho partiu dos apostadores Bruno Lopez de Moura e Matheus Phillipe Coutinho Gomes. O valor proposto foi de R$ 500 mil, mas o MPGO não descreveu se a penalidade foi cometida. O jogador Joseph Maurício recebeu a proposta de R$ 400 mil para ser expulso no primeiro tempo. O apostador que negociou a jogada foi Bruno Lopez. Não há informação de a penalidade foi cometida. Desta vez, o jogador Joseph Maurício recebeu a proposta de R$ 150 mil para cometer um pênalti no primeiro tempo. O lance foi feito e a aposta foi intermediada por Bruno Lopez e Ícaro Fernando. Gabriel Domingos recebeu a proposta de R$ 150 mil por um pênalti no primeiro tempo. A aposta foi negociada por Bruno Lopez, Ícaro Fernando e Victor Yamasaki Fernandes, com a participação de Romário. Não há informação de a penalidade foi cometida.

A operação
As investigações da Operação Penalidade Máxima começaram no final de 2022, quando o volante do Vila Nova, em Goiás, Romário, aceitou uma oferta de R$ 150 mil para cometer um pênalti no jogo contra o Sport, pela Série B do Campeonato Brasileiro. Na época, a situação foi denunciada pelo presidente do Vila Nova, Hugo Jorge Bravo, que entregou as provas ao MPGO. Segundo o Ministério Público, o grupo criminoso cooptava jogadores com ofertas que variavam entre R$ 50 mil e R$ 500 mil para que cometessem lances específicos nos jogos, como um número determinado de faltas, levar cartão amarelo, garantir um número específico de escanteios para um dos lados e até atuar para a derrota do próprio time. O órgão explicou que o esquema funcionava sobre uma divisão de quatro núcleos: os apostadores, que contratavam e aliciavam jogadores, além de pagarem os jogadores e fazerem as apostas nos sites esportivos; os financiadores, que asseguravam a existência de verbas para o pagamento dos jogadores aliciados e também nas apostas manipuladas; os intermediadores, que indicavam contatos e facilitavam a aproximação entre apostadores e atletas; o núcleo administrativo, que fazia transferências financeiras aos integrantes do grupo. A investigação mostrou que o grupo tinha uma série de estratégias para cometer as fraudes. Entre elas, o uso de robôs que entravam em até 35 contas ao mesmo tempo para fazer apostas. Além disso, usavam contas nos sites de apostas em nome de laranjas que ganhavam porcentagens depois pelo empréstimo. Segundo o MP, para manter apostas de alto valor sem chamar a atenção para a fraude das casas de apostas, eles precisavam fazer vários jogos com valor menor.

Quais são as penas previstas?
Os jogadores denunciados vão responder pelo artigo 41-C do Estatuto do Torcedor: crime com pena de reclusão de dois a 6 seis anos e multa: solicitar ou aceitar, para si ou para outro, vantagem ou promessa de vantagem patrimonial ou não patrimonial para qualquer ato ou omissão destinado a alterar ou falsear o resultado de competições esportivas. Já os integrantes dos núcleos devem responder por organização criminosa, podendo ter pena de 3 a 8 anos de prisão e multa.
O MPGO não divulgou quais serão os próximos passos da operação.