A cidade de Silvânia, no centro goiano, carrega uma lenda de que há uma cobra gigante dormindo embaixo do município. Moradores contam que a crença popular surgiu para proteger a Igreja do Bonfim de ser demolida. Na época, foi cogitada essa hipótese após a suspeita de que havia ouro nas proximidades do local. A lenda diz que, caso a capela fosse destruída, a serpente acordaria e mataria a todos na cidade. Nascida e criada em Silvânia, a escritora Cida Sanches conta que a história surgiu junto com o nascimento da cidade. Ela já chegou a relatar a lenda em um de seus livros e, inclusive, fez uma pintura retratando a serpente embaixo da igreja, que segue firme e nunca foi derrubada. “A lenda dizia que, se a igreja fosse derrubada, essa enorme serpente iria devorar toda a população. Para as pessoas terem a dimensão de quão enorme era essa serpente, ela teria a cabeça embaixo da igreja e o rabo no Poço da Roda. Ela surgiu numa tentativa de impedir que a igreja fosse derrubada”, disse. Advogada usa rede social para contar histórias para crianças durante a quarentena em Goiás. Segundo a prefeitura, Silvânia teve início por volta de 1774, com a descoberta de lavras de ouro na região. A descoberta teria atraído aventureiros, de diversas regiões, inclusive da Bahia, que trouxeram para Silvânia uma imagem de Nosso Senhor do Bonfim. A partir da chegada da imagem, a Capela de Bonfim foi criada para recebê-la. Também morador da cidade, o professor e escritor Edmar Cotrin, de 58 anos, complementa a história e conta que, com as escavações sendo ampliadas, surgiu-se a possibilidade de demolirem a capela, em busca de ouro. Com isso, parte da população e também um padre da igreja teriam se revoltado e, a partir daí, surgiu a lenda. “A cidade surgiu em função da mineração. Começaram a cavucar em busca do ouro e, dessa extração, surgiu um enorme buraco, que foi sendo aumentado em direção a igreja, pelo trabalho dos escravos em busca de ouro. Mas o sentimento religioso na cidade era muito forte e, para proteger a igreja, surgiu essa lenda”, disse.
Patrimônio cultural
O objetivo da lenda parece ter dado certo e a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim segue firme no mesmo local até os dias de hoje, tendo, inclusive, passado por reformas e melhorias. O local foi tombado por sua importância cultural, de acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Zelador do local, Marco Túlio do Nascimento, de 56 anos, conta que trabalha na igreja desde 2009. Ele diz que, durante visitações, várias pessoal, principalmente as crianças, ficam curiosas para saber da história e do paradeiro da serpente. “Quando vem grupos de alunos aqui, o pessoal chega animado, querendo saber a história e quando nós contamos que é uma lenda, que é tudo ‘mentirinha’, alguns ficam decepcionados. Outros dizem que queriam ver a cabeça da serpente”, contou.