Domingo, 24 de
Novembro de 2024
Geral

Revolta

Carnaval com Ivete e Gusttavo Lima revolta cidade de 75 mil habitantes

Prefeitura de Aracati fechou contratos que somam R$ 2,5 mi com atrações para Carnaval. Moradores da cidade reclamam de saúde precária

Divulgação/Prefeitura de Aracati
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“Peço a vocês, de todo meu coração: não venham, não. Estão tirando dinheiro da nossa saúde, dos pacientes, que dá para socorrer outras pessoas, para a gente poder fazer nosso tratamento”, disseIone Pereira de Oliveira

24 janeiro, 2024

Uma cidade de 75 mil habitantes no litoral do Ceará, a 150 quilômetros de Fortaleza, terá uma festa de Carnaval milionária, com artistas nacionais. Ao mesmo tempo, porém, moradores reclamam da qualidade dos serviços de saúde prestados no município. A Prefeitura de Aracati (CE) anunciou que a folia terá shows gratuitos de Ivete Sangalo, Gusttavo Lima, Xand Avião e ao menos outras nove atrações. As festas começam neste sábado (27/1), com show do Gusttavo Lima. Dez contratos fechados com os produtores dos artistas e publicados até a tarde desta quarta-feira (24/1) têm valor total de R$ 2,5 milhões. Os shows de Xand Avião e de Pedro Sampaio custarão, cada um, R$ 550 mil; a apresentação de Mari Fernandez foi contratada por R$ 450 mil; e Felipe Amorim fechou contrato de R$ 300 mil, por exemplo. Ainda não foram disponibilizados os valores dos shows de Ivete Sangalo e Gusttavo Lima. A aposentada Ione Pereira de Oliveira, 52 anos, gravou um vídeo no qual pede para os artistas não façam os shows em Aracati. “Peço a vocês, de todo meu coração: não venham, não. Estão tirando dinheiro da nossa saúde, dos pacientes, que dá para socorrer outras pessoas, para a gente poder fazer nosso tratamento”, disse. Ione é uma dos três pacientes que entraram na Justiça contra a Prefeitura de Aracati, para tentar garantir o transporte necessário até o município de Russas (CE), onde fazem tratamento de hemodiálise. A cidade vizinha fica a cerca de 70 quilômetros de distância. Em abril de 2023, o município retirou de circulação o carro que levava os pacientes até a cidade e disponibilizou um micro-ônibus para fazer o transporte dela, junto a outras pessoas, sob justificativa da necessidade de cortar despesas, segundo a paciente. “Alegaram que tinham de tirar nosso carro por conta de contenção de gastos, porque a prefeitura não tinha condição de manter. Esse micro-ônibus é bom para quem tem saúde. Mas eu venho deitada e vomito toda vez. Estou com úlcera. Tem outra senhora que está sofrendo muito para subir e descer os degraus, porque tem o pé amputado”, desabafou a aposentada à coluna Grande Angular. A mulher citada por Ione é Martha Helena da Costa Torres, 68 anos. Ela disse à reportagem que o micro-ônibus fornecido pelo município é inadequado para o transporte de pacientes com saúde delicada. “Tenho diabetes, pressão muito alta, problema de visão e não enxergo direito. Meu pé é amputado e minhas pernas doem muito por causa do carro. Ele é muito alto e a escada é bem curtinha. Eu morro de medo de cair. O carro não é ruim, mas não é para a gente”, enfatizou. Por meio da Defensoria Pública do Ceará (DPCE), os pacientes processaram o município. Em 14 de agosto de 2023, a 1ª Vara Cível da Comarca de Aracati deferiu liminar na qual obrigou a prefeitura a fornecer transporte adequado de ida até Russas e de volta. Em 7 de dezembro, a juíza Danúbia Loss Nicolao expediu outra decisão, na qual determinou que a prefeitura cumprisse a ordem e fornecesse “carro baixo para o transporte dos pacientes no prazo de 10 dias”.

Fila para medicamentos
Moradores de Aracati também reclamam do atendimento no Hospital Municipal Eduardo Duas (Hmed). Vídeo gravado na última segunda-feira (22/1) mostra uma enorme fila na porta da unidade de saúde. A pessoa que registrou as imagens disse que aguardava para pegar remédios. “A saúde do pessoal de Aracati entregue às baratas”, reclamou. “Cheguei aqui agora para receber medicamento e tenho de enfrentar uma fila dessas, senão, amanhã não tem mais medicamento. O negócio aqui está feio.” O homem ainda chamou a atenção para a discrepância dos serviços de saúde em relação aos altos custos dos eventos promovidos pelo poder público: “[O morador] anda nas ruas e [encontra] tudo interditado, festa por cima de festa. Está cruel a situação”, queixou-se. A coluna Grande Angular tentou contato com a Prefeitura de Aracati por e-mail e telefone, mas não teve retorno até a mais recente atualização desta reportagem. O espaço permanece aberto para eventuais manifestações.