Pelo menos 26 mil doses da vacina AstraZeneca aplicadas no Brasil estavam vencidas. A informação foi revelada pela Folha de S. Paulo e constam nos registros oficiais do Ministério da Saúde. Ao todo, são oito lotes da vacina AstraZeneca que foram importados ou adquiridos por meio de consórcio. Um dos lotes expirou em 29 de março e o que está fora da validade há menos tempo venceu em 4 de junho. Atualmente, a AstraZeneca é a vacina mais usada no Brasil e corresponde a 57% das aplicações em 2021. O prazo de vencimento do imunizante é de 6 meses após a fabricação. Os dados sobre as vacinas expiradas foram adquiridos a partir de um cruzamento entre as informações do Data SUS e do Sage (Sala de Apoio à Gestão Estratégica), pelo número dos lotes de vacinas. Foram consideradas doses aplicadas até 19 de junho. Até a data, foram aplicadas 25.935 doses vencidas. Entre os oito lotes, quatro eram do Instituto Serum, da Índia, e os outros quatro da Organização Pan-Americana de Saúde, a Opas. As vacinas foram distribuídas entre janeiro e março pelo governo federal, antes do vencimento. Entre as vacinas expiradas não estão aquelas produzidas pela Fiocruz. No total, o PNI repassou 3,9 milhões de doses e 140 mil não foram usadas até o prazo de validade. Entre elas, quase 26 mil foram usadas após o vencimento. Entre as doses expiradas aplicadas, 70% correspondiam a um mesmo lote do Instituto Serum, o “4120Z005”, vencido em 14 de abril.
O que fazer em caso de vacina vencida
As doses fora do prazo de validade podem comprometer a proteção das pessoas que receberam o imunizante. As vacinas foram aplicadas em postos de saúde em todo o Brasil, em 1.532 municípios brasileiros. Consulte aqui os lotes vencidos, o número do lote pode ser conferido na carteira de vacinação. Em caso de aplicação de vacina vencida, a orientação é procurar uma unidade de saúde. De acordo com o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, as pessoas que receberam as doses dos oito lotes devem esperar 28 dias e tomar a vacina novamente, pois é como se não tivessem sido vacinadas.
Locais que mais utilizaram vacinas vencidas
A cidade que mais aplicou vacinas vencidas foi Maringá, no Paraná. A cidade é reduto eleitoral de Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo Bolsonaro na Câmara. Foram 3.536 pessoas imunizadas com a primeira dose da AstraZeneca foram da validade. Veja a lista divulgada pela Folha:
Maringá (PR): 3.536
Belém (PA): 2.673
São Paulo (SP): 996
Nilópolis (RJ): 852
Salvador (BA): 824
As outras cidades que receberam as doses aplicaram menos de 700 vacinas vencidas. Segundo os dados apurados pela Folha, a maior parte dos municípios não aplicou mais de dez doses fora da validade. Há, ainda, 114 mil doses da vacina AstraZeneca que foram distribuídas quando já estavam com o prazo de validade vencido. Ainda não se sabe se foram descartadas ou se estão sendo aplicadas.
O que dizem as secretarias
Procuradas pelas Folha, secretarias estaduais e municipais se pronunciaram.
São Paulo
A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo confirmou que utilizou cerca de 4 mil doses depois da validade. A pasta afirmou que a responsabilidade é dos municípios e disse que repassou as vacinas antes do prazo de validade expirar. Os casos estão sendo avaliados individualmente.
Belém
A Secretaria Municipal de Saúde de Belém negou que tenha aplicado imunizantes vencidos, mas assumiu que pode ter havido um erro nos registros da vacinação, “quando as anotações eram feitas manualmente em fichas de papel e posteriormente digitadas”.No entanto, os dados do Ministério da Saúde mostram que 99,7% das doses expiradas em Belém foram de segunda dose e, portanto, aplicadas depois de abril.
Paraná
A Secretaria Estadual do Paraná informou à Folha que há um problema na integração dos dados dos municípios e o sistema federal, ou seja, “um erro de leitura da data de exportação do dado”.
Governo federal
O Ministério da Saúde informou que “acompanha rigorosamente todos os prazos de validade das vacinas Covid-19 recebidas e distribuídas" e que "as doses entregues para as centrais estaduais devem ser imediatamente enviadas aos municípios pelas gestões estaduais. Cabe aos gestores locais do SUS o armazenamento correto, acompanhamento da validade dos frascos e aplicação das doses, seguindo à risca as orientações do Ministério”.
Fontes: Folha de S. Paulo / www.poptvnews.com.br