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Novembro de 2024
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Investigações

Afipes de padre Robson desembolsaram R$ 456 milhões em pagamentos para emissoras de rádio e TV

Valor movimentado nas contas da Associação Filhos do Pai Eterno, na última década, chega a R$ 2 bilhões. MP investiga gasto de R$ 120 milhões com bens não ligados a atividades religiosas

Foto: Divulgação
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São três associações sob investigação, todas fundadas pelo padre Robson

29 agosto, 2020

Goiânia (GO) - As associações fundadas pelo padre Robson em nome do Divino Pai Eterno desembolsaram R$ 456 milhões em pagamentos para emissoras de rádio e televisão. Apenas para a TV Independente de São José foram transferidos R$ 198 milhões, divididos em 127 operações financeiras. Entre as movimentações, constam também transferências de elevados valores para duas rádios, uma de R$ 96 milhões e outra de R$ 14,4 milhões. Padre Robson sempre negou irregularidades na condução das associações. Os valores foram listados pelo Ministério Público de Goiás (MP) no âmbito da operação Vendilhões e são considerados suspeitos por se desviarem da finalidade religiosa das entidades."Constatou-se que os gastos de boa parte das doações não tinha vínculo com questões religiosas, mas com outros negócios, como a compra de imóveis, propriedades rurais, cabeças de gado e emissoras de rádio", disse o MP. Algumas operações foram descritas como compra e venda de direitos de cessão, como informaram os próprios envolvidos. A Sul Brasil Rádio e Televisão é uma as empresas que também está na lista por receber R$ 92 milhões da Associação Pai Eterno e Perpétuo Socorro. A empresa disse que foi vendida para a associação do padre, o que justifica os pagamentos. São três associações sob investigação, todas fundadas pelo padre Robson: Associação Filhos do Pai Eterno, Associação Filhos do Pai Eterno e Perpétuo Socorro e Associação Pai Eterno e Perpétuo Socorro, chamadas de Afipes. A investigação do MP aponta que as Afipes recebem e gerencia cerca de R$ 20 milhões por mês. Ao longo de 10 anos foram arrecadados R$ 2 bilhões. A biografia da entidade relata que as doações recebidas são voltadas para a evangelização por meio da TV e para obras sociais. Um dos promotores do MP que está no grupo da investigação, Paulo Penna Prado diz que “as rádios não tem nada a haver com a regulação de programação religiosa" e que "está bem distante da finalidade”. Para ele, o principal objeto da investigação é a falta de transparência nos valores e das operações. As entidades foram fundadas pelo padre Robson a partir de 2004, com o objetivo de proporcionar auxílio na vivência da fé e propagar a devoção ao Divino Pai Eterno. O padre também era responsável pela administração do Santuário Basílica de Trindade, um dos maiores do Brasil, mas se afastou das funções temporariamente para colaborar com o MP. O padre é suspeito de apropriação indébita, falsificação de documentos, sonegação fiscal, associação criminosa e lavagem de dinheiro, diante das movimentações bilionárias identificadas pelo Ministério Público ao longo dos últimos 10 anos. Para realizar as operações, o padre usava "laranjas" para dificultar o rastreamento do dinheiro, segundo o MP. As centenas de movimentações despertaram alerta no MP, que acompanhou por anos para realizar a Operação Vendilhões, em agosto deste ano, para cumprir mandados de busca e apreensão em vários endereços ligados ao padre e aos investigados. Os documentos recolhidos devem ajudar a concluir a investigação que apura desvio de R$ 120 milhões do dinheiro doado por fiéis às associações do padre. Parte do dinheiro dos devotos foi usado, segundo o MP, para comprar fazendas, cabeças de gado, casa de luxo na beira de uma praia, um avião, entre outros.

Transferências

Na investigação do Ministério Público existe uma grande lista com quase todos os pagamentos efetuados pelas três associações do padre, entre elas, as empresas no ramo de comunicação aparecem com frequência. O MP listou, principalmente, as operações com valores superiores a R$ 100 mil. As transações por meio da Associação Filhos do Divino Pai Eterno são:

Duas rádios que receberam o total de R$ 709 mil

As operações usando a conta da Associação Filhos do Pai Eterno e Perpétuo Socorro foram maiores:

Uma rádio recebeu R$ 96 milhões, em 37 transferências;
Uma rede de comunicação recebeu R$ 22 milhões, em 23 operações;
Outra rádio recebeu R$ 14,4 milhões, divididos em 10 transações;
Emissora de TV recebeu R$ 5 milhões em cinco pagamentos;
Mais uma rádio recebeu R$ 3,1 milhões em 11 parcelas;
Novamente rádio que faturou R$ 2,1 milhões, em 4 operações;
Rádio em São Paulo levou R$ 2 milhões divididos em 11 pagamentos;
Uma rádio em Santa Catarina recebeu R$ 1,3 milhão por meio de 6 transferências;
Empresa de comunicação recebeu R$ 1,3 milhão em 7 prestações;
Uma rádio também faturou R$ 1,3 milhão em 4 pagamentos;
Rádio recebeu R$ 1,1 milhão parcelados em 10 vezes;

Nas contas da Associação Pai Eterno e Perpétuo Socorro foram identificadas os seguintes pagamentos:

Emissora de televisão TV São José, que recebeu R$ 198 milhões em 127 parcelas;
Sul Brasil Rádio e Televisão recebeu R$ 92,2 milhões, parcelados em 30 vezes;
Uma empresa de comunicação faturou R$ 5 milhões, divididos em 5 pagamentos;
Um jornal recebeu R$ 3,5 milhões em dois pagamentos;
Rede de comunicação, apenas um pagamento no valor de R$ 2 milhões;
Outra rede de comunicação recebeu R$ 2 milhões em uma parcela;
Uma gráfica faturou R$ 1,4 milhão, divididos em 12 pagamentos;
Pagamentos de R$ 1,2 milhão, divididos em 7 vezes, para uma empresa de notícias;
Um jornal impresso recebeu R$ 657 mil em 17 parcelas;
Jornal impresso aparece na lista ao receber R$ 107 mil, em três pagamentos.

O que dizem os citados
A empresa Sul Brasil Rádio e Televisão disse em nota que a rede foi vendida para a Afipe e por isso transferiu valores para a associação e que como forma de pagamento também houve a transferência de imóveis. A Televisão Independente São José não se manifestou sobre o assunto.

Fontes: G1 Goiás / www.poptvnews.com.br