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Opinião

A bailarina da morte e o capitão genocida

O ser humano é de fato o único animal que não aprende com a história

Crédito: José Manuel Diogo
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Parceria do samba do capitão genocida e a Bailarina da Morte

05 março, 2021

Por José Manuel Diogo

O país enfrenta a pior fase da pandemia, os hospitais colapsam, as autoridades se alarmam, os leitos escasseiam, as variantes aturdem, as vacinas vacilam; mas qualquer civilização declina contra frescura e “mimimi”. Se as pandemias têm normalmente três vagas sucessivas -  sanitária, económica e psicológica -  no Brasil elas vivem juntas; amazonas do apocalipse, cavalgando a ignorância, esporando a pobreza, galopando este insólito negacionismo de Estado onde os sinais de loucura cobram à vista. As três fases se sobrepõem tornando impraticável qualquer otimismo e entre a loucura e a sandice, contrariando medicina e estatística, o Brasil sofre depressões sucessivas; e enquanto o povo morre de Covid como nunca, muitos políticos continuam desconsiderando a doença, troçando das políticas mundiais de saúde e dando para o povo sinais irrefletidos que em certos casos funcionam como sentenças de morte. Muitos dos que escolheram entre a corrupção e mudança, quando em 2018 votaram Bolsonaro, provavelmente hoje estarão se perguntando se a sua escolha teria sido a mesma se soubessem que estavam escolhendo entre corrupção e genocídio. Mas é no futuro que o aprendizado do passado tem de aplicar-se. Antes da próxima escolha, olhemos a história. Ela sempre nos ensina. Parceira de samba do capitão genocida é a Bailarina da Morte, um notável livro que Liilia Moritz Schwarcz e Heloisa Murgel Starling escreveram sobre a gripe espanhola que há um século matou muitos dos nossos bisavós e trisavós. A Bailarina é um fabuloso exercício narrativo onde as historiadoras desenham um contundente retrato do Brasil durante aquela pandemia de gripe, uma descrição fiel de uma doença mortal com trágicas semelhanças com a “nossa” pandemia. No início do século XX, uma desconhecida doença chegou a bordo do Demerara e outros navios vindos da Europa, mas que veio chamar-se Gripe Espanhola. “Atchim…Atchim” foi a manchete do jornal “O Combate” em julho 1918 se referindo ao surto de gripe que fez os alemães perder a guerra e que depois, no mundo inteiro, haveria de matar 50 milhões de pessoas. Há um século, a população morreu iludida por estatísticas simuladas e falsas curas milagrosas, mas hoje, 100 anos depois, morre igualmente por disputas políticas e atitudes negacionistas. O ser humano é de fato o único animal que não aprende com a história.

José Manuel Diogo é autor, colunista, empreendedor e key note speaker; especialista internacional em media intelligence,  gestão de informações, comunicação estratégica e lobby. Diretor do Global Media Group e membro do Observatório Político Português e da Câmara de Comércio e Indústria Luso Brasileira. Colunista regular na imprensa portuguesa há mais de 15 anos, mantém coluna no Jornal de Notícias e no Diário de Coimbra. É ainda autor do blog espumadosdias.com. Pai de dois filhos, vive sempre com um pé em cada lado do oceano Atlântico, entre São Paulo e Lisboa, Luanda, Londres e Amsterdã.