A história gira em torno do boia-fria Sassá Mutema (Lima Duarte). Analfabeto e ingênuo, ele se vê acusado injustamente de um crime e ganha popularidade. Enquanto amigos tentam provar sua inocência, caciques políticos enxergam um potencial fantoche eleitoral. Após 'banho de loja' e alguma instrução, Sassá acaba eleito prefeito da provinciana Tangará. A trajetória do homem do campo iletrado transformado em líder político, com forte discurso em prol da reforma agrária, foi interpretada por setores de Brasília, parcela da elite e parte da imprensa como promoção disfarçada da imagem de Lula no influente horário nobre da Globo. Naquela época, a emissora registrava mais de 60 pontos de audiência na faixa das 9 horas da noite. Ativista em ascensão, Lula começou 1989 focado no projeto de disputar a primeira eleição direta no Brasil desde o fim do regime militar. Seria sua primeira tentativa de chegar ao Palácio do Planalto. A alusão da força política de Sassá Mutema ao petista desagradou muita gente poderosa no País e gerou interferência na trama. O autor pretendia transformar o ex-trabalhador rural em presidente - a abertura da novela chega a mostrar uma imagem do personagem circulando por Brasília. Lauro César Muniz foi obrigado a mudar o rumo de sua saga. Treze anos depois, em maio de 2002, ele confirmou a ingerência em seu processo artístico ao participar de discussão sobre telenovelas na Escola de Comunicação e Artes da USP. "Em 1989, já não havia mais a censura formal, mas houve uma interferência direta de Brasília na cúpula da Globo. Era o primeiro ano de eleições diretas, Lula contra Collor, e acharam que o Sassá Mutema fazia apologia à esquerda. Assim, acabou vindo uma pressão na emissora para que a trama fosse mudada", contou, segundo relato da 'Folha de S. Paulo'. "Cheguei a ouvir, nos bastidores, 'o autor dessa novela vai eleger o presidente do Brasil'. Tive de abandonar o aspecto político da história e focalizar apenas o policial", explicou. Os anti-esquerda conseguiram impedir que Sassá se tornasse presidente em 'O Salvador da Pátria'. Quatro meses depois do fim da novela, a Globo produziu uma das maiores manchas em sua história: a edição de matéria do último debate do segundo turno, exibida no 'Jornal Nacional', ressaltou os melhores momentos de Collor e os piores de Lula. Artistas da própria emissora protestaram contra a flagrante manipulação. O episódio teria determinado o resultado das urnas: o 'caçador de Marajás' venceu o candidato da esquerda com vantagem de 6% dos votos. Em março de 2016, o ex-vice presidente da Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, confirmou a manobra editorial em entrevista ao programa Morning Show da rádio Jovem Pan. "A orientação, obviamente, era para que não houvesse nenhum tipo de edição favorecendo nenhum dos candidatos, mas, de repente, alguém da redação fez uma edição favorecendo mais o Lula e isso foi exibido na primeira edição (no 'Jornal Hoje'). O Dr. Roberto (Marinho), evidentemente, ficou furioso e mandou reeditar, e eu vejo que na primeira edição o Collor ganhou de 2 x 1 e na segunda edição (no 'Jornal Nacional'), de 7 x 1", relembrou. Boni confirmou o apoio camuflado da Globo a Collor. "Eu fui o responsável pela preparação dele", afirmou o executivo a respeito do debate decisivo. "O Dr. Roberto Marinho me pediu para ajudar nesse sentido. Ele acreditava no Collor". A mesma Globo que teria ajudado a projetar Lula na novela 'O Salvador da Pátria', o prejudicou ao orientar seu oponente para o debate mais importante da campanha eleitoral e por exibir matéria tendenciosa no telejornal mais assistido do País. Coincidentemente, o folhetim é relançado no momento em que Lula avança nas pesquisas de intenção de votos para a eleição presidencial de 2022, rivalizando com o presidente Jair Bolsonaro, que deve tentar a reeleição. Ambos enxergam a Globo como principal inimigo na grande mídia. Em tempo: 'O Salvador da Pátria' será exibida no Viva de segunda a sábado às 14h15, com reapresentação a partir de 00h30.