Palmas (TO) - Mais de 100 mil pessoas vivem abaixo da linha de extrema pobreza no Tocantins. Isso significa que elas vivem com apenas R$ 1,90 por dia. Esse é o maior índice dos últimos sete anos. De 2017 para 2018, a desigualdade entre as classes sociais aumentou de 5,3% da população tocantinense para 6,6%. Ou seja, 21 mil pessoas entraram para condição de pobres ao extremo. A Jaira Gomes, de 23 anos, está desempregada, tem dois filhos e está grávida do terceiro. Ela vive em um barraco na Capadócia, setor não regularizado na região sul de Palmas. A moradia é toda feita com madeiras encontradas na rua. O teto é coberto com uma lona. O banheiro fica do lado de fora, não tem cobertura ou paredes. "Se tivesse um serviço poderia até ter uma casa melhor, mas não tem. Eu não tenho um serviço, ele também não [o marido]. E agora não posso trabalhar porque tô grávida. A gente vai vivendo como pode [sic]. "A dona de casa se mudou para Palmas em 2018, antes morava em Lajeado. Ela tenta ser forte para não deixar faltar comida para os filhos. "Quando vai para a escola, vai sem lanchar porque eu não tenho nada para dar pra ela. Aquilo vai doendo dentro de mim." Em Araguaína (TO), norte do estado, a Daiane Vieira é um exemplo da desigualdade social. Ela vive em um barraco improvisado, em um setor não regularizado, junto com o marido e os dois filhos pequenos. A única renda da família é R$ 80 que recebem de um programa social. "Compra só um arroz e um feijão porque nem o gás dá pra comprar." Já em Gurupi (TO), região sul do Tocantins, até para beber água potável, a Nielly Barroso depende da solidariedade dos vizinhos. A família tem cinco pessoas: o casal e três filhos. A única fonte de renda vem do beneficio do governo federal. "Final do mês eu pago a minha energia e faço uma compra. Ou pago a energia e compro gás. Dá pra fazer só isso [sic]", disse.
Para não passar fome, a refeição é feita com alimentos plantados em casa
O sociólogo Sérgio Roberto Alves explica parte do motivo de tamanha desigualdade no estado. "No caso do Tocantins tem a característica de ser uma região agropecuária. As cidades que não estão envolvidas nesta questão agropecuaristas, as pessoas acabam ficando desempregadas e não têm como prover sua renda." No país, o índice de pessoas a baixo da linha de pobreza também aumentou. De 2014 pra 2018, o percentual subiu 2%. Esse crescimento nos últimos anos atinge quase 15 milhões de brasileiros e deixa o país mais distante de alcançar a meta de acabar com a miséria até 2030. Esse compromisso foi firmado em 2015 como parte da agenda brasileira organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU). "A gente vai ter que, primeiro, investir na questão do trabalho. As pessoas vão ter que ter mais postos de trabalho. Vamos ter que investir em condições de tecnologia, educação e por fim investir em produtos interno e externo, para que o Brasil possa competir com o mercado exterior e distribuir essa renda de melhor maneira", disse. Enquanto os planos com melhorias não saem do papel a espera de dias melhores é o sentimento que move essas famílias que vivem com menos de R$ 2 por dia. "A gente passa por prova, mas quem é que não passa por prova hoje em dia. Um dia eu vou conseguir dar do bom e do melhor para o meu filho. Ter muita fé em Deus."